Com 20 novas luas, Saturno bate recorde do Sistema Solar

Novas descobertas ajudam Saturno a ultrapassar Júpiter como o planeta com mais satélites conhecidos em nossa vizinhança cósmica.

Por Michael Greshko
Publicado 8 de out. de 2019, 16:06 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Em outubro de 2016, a sonda Casini, da Nasa, fez esta imagem de Saturno e seus ...
Em outubro de 2016, a sonda Casini, da Nasa, fez esta imagem de Saturno e seus anéis antes de ser desativada. Quase três anos depois, astrônomos anunciaram a descoberta de 20 novas luas orbitando Saturno, elevando o número de satélites naturais do planeta para 82.
Foto de NASA, JPL Cal-tech, Space Science Institute

Júpiter pode até ser o rei do Sistema Solar, mas Saturno tem uma comitiva maior: astrônomos anunciaram hoje a descoberta de mais 20 luas em torno de Saturno, elevando seu número total para 82 – o maior em um planeta do Sistema Solar. Essa descoberta surpreendente chega pouco mais de um ano após os astrônomos anunciarem 12 novas luas na órbita de Júpiter. Porém, com as descobertas mais recentes, o séquito de Saturno agora supera os 79 satélites naturais conhecidos de Júpiter.

Juntos, esses conjuntos de satélites relativamente pequenos podem ajudar os astrônomos a compreender melhor as inúmeras colisões ocorridas durante a criação do sistema solar e viabilizar novos alvos a serem sobrevoados em futuras missões aos gigantes gasosos.

“Uma das coisas mais empolgantes sobre essas luas é que sempre há missões em andamento”, diz Scott Sheppard, astrônomo do Instituto Carnegie de Ciência, um dos cientistas responsáveis pela descoberta dos últimos satélites nos dois planetas. Atualmente, três missões para Júpiter e Saturno estão em desenvolvimento: Europa Clipper e Dragonfly da Nasa; e Juice da Agência Espacial Europeia.

“Existem tantos satélites agora que é quase certo que uma dessas luas esteja localizada em algum lugar próximo de onde a sonda entra no ambiente de Júpiter ou Saturno”, diz Sheppard.

Agentes do caos?

As luas recém-descobertas de Saturno possuem cerca de cinco quilômetros de largura. Elas são tão sutis que ficam no limite de detecção do telescópio Subaru, dispositivo instalado no topo do vulcão Mauna Kea, no Havaí, utilizado na detecção das luas.

É por esse motivo que a recente descoberta levou mais de uma década. De 2004 a 2007, Sheppard e seus colegas usaram o Subaru para examinar de perto a região ao redor de Saturno em busca de luas desconhecidas. Apesar de terem avistado alguns pontos de luz intrigantes, era difícil provar que os pontos de fato orbitavam Saturno.

“Eu sempre pensei nisso”, diz Sheppard. Mas agora, novas tecnologias computacionais facilitaram muito a análise de imagens de telescópios coletadas ao longo de anos e o estabelecimento de relações entre elas. Quando Sheppard reexaminou os dados, as imagens confirmaram que 20 pontos de luz traçavam órbitas em torno de Saturno.

Dezessete das novas luas orbitam na direção oposta à rotação de Saturno. Cada uma dessas luas retrógradas leva mais de três anos para traçar uma órbita. As outras três luas orbitam Saturno na mesma direção que a rotação do planeta. Duas dessas luas com movimento prógrado levam aproximadamente dois anos para terminar uma órbita, enquanto a terceira leva mais de três.

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    Em outubro de 2016, a sonda Cassini da Nasa capturou suas últimas imagens de Saturno e seus principais anéis. Quase três anos depois, astrônomos anunciaram a descoberta de 20 pequenas luas orbitando Saturno, elevando o total do planeta para 82.
    Foto de Scott S. Sheppard

    Essas luas recém-descobertas se encaixam em grupos previamente conhecidos de satélites saturnianos – cada um batizado em homenagem a gigantes mitológicos. Com base na direção da órbita, distância de Saturno e inclinação da órbita em relação ao planeta, as luas retrógradas pertencem ao grupo nórdico. As duas luas prógradas mais próximas se enquadram no grupo inuíte, ao passo que a mais distante pode estar no grupo gaulês.

    Sheppard e seus colegas acreditam que cada um desses agrupamentos lunares se formou a partir de um corpo de origem diferente que Saturno capturou durante os primórdios do sistema solar. Então, em uma espécie de paralelo celestial ao “carrinho de bate-bate”, as colisões foram quebrando os corpos de origem ao longo do tempo, produzindo as luas fragmentadas que vemos hoje.

    “Acreditamos que esses satélites estejam basicamente nos mostrando o quão caótico o Sistema Solar era há muitos e muitos anos”, diz Sheppard. “Havia muitas colisões e essas luas são o que restou desse processo.”

    Nenhum dos 20 novos satélites possui um nome oficial ainda. Sheppard e seus colegas convidaram o público a dar sugestões em um concurso que será encerrado em 6 de dezembro.

    'Um sonho se torna realidade'

    Os telescópios da próxima geração, como o Gigante Telescópio Magalhães que está sendo construído no Chile, provavelmente encontrarão ainda mais luas circundando os gigantes gasosos do Sistema Solar. Sheppard diz que, atualmente, nossos melhores telescópios não conseguem detectar luas em Júpiter com menos de 1,6 km de diâmetro ou luas saturnianas com menos de 4,8 km de diâmetro. Objetos ainda maiores podem estar na órbita de Urano e Netuno.

    “Eles estão tão distantes que os limites que conhecemos são de até 32 quilômetros para Urano, ou cerca de 48 quilômetros para Netuno”, afirma Sheppard.

    Se houver mais objetos pequenos e distantes a serem encontrados, Sheppard está mais do que pronto para o desafio. Junto com o astrônomo Chad Trujillo, Sheppard descobriu um objeto extremamente distante com uma órbita que poderia ser puxada por um “Planeta Nove” invisível nas profundezas do Sistema Solar. Em 2018, ele descobriu, com outro cientista, o objeto mais distante já visto em nosso sistema, uma bolha congelada chamada Farout cuja distância é mais de 100 vezes a distância entre a Terra e o Sol. E apenas alguns meses depois, ele e seus colegas bateram o próprio recorde ao encontrarem um objeto ainda mais distante chamado Farfarout.

    As descobertas lunares feitas por Sheppard têm uma conotação mais pessoal. Quando tinha cerca de 12 anos de idade, ele ganhou uma revista de ciências infantil que listava todos os planetas e satélites conhecidos e colou as páginas na parede de seu quarto.

    “Conseguir expandir aquela lista cada vez mais é praticamente um sonho que se tornou realidade”, conta ele.

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