Dois grandes pedaços de lixo espacial quase colidiram em situação de ‘alto risco’

Um satélite desativado e uma peça de um foguete antigo, ambos do tamanho de um carro pequeno, teriam lançado lixo espacial em órbita se tivessem colidido.

Por Dan Falk
Publicado 20 de out. de 2020, 07:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Acredita-se que aproximadamente 29 mil objetos de fabricação humana com tamanho superior a 10 centímetros estejam ...

Acredita-se que aproximadamente 29 mil objetos de fabricação humana com tamanho superior a 10 centímetros estejam orbitando a Terra, oferecendo riscos a futuras missões espaciais.

Foto de NASA

DOIS PEDAÇOS DE lixo espacial, cada um com a massa de um carro compacto, por pouco não se chocaram no dia 15 de outubro, cerca de 100 quilômetros acima da Terra. Se tivessem colidido — especialistas apontavam para uma probabilidade de 5% a 10% antes da aproximação máxima dos objetos — o impacto teria criado uma nuvem de destroços que poderia oferecer riscos a satélites e veículos espaciais durante décadas.

Esses dois objetos eram um satélite de navegação russo desativado, lançado em 1989, e uma peça que se desprendeu de um foguete chinês em um lançamento de 2009. Cálculos realizados pela LeoLabs, uma empresa da Califórnia que rastreia objetos na órbita terrestre baixa, determinaram o momento de aproximação máxima para as 20h56 do dia 15 de outubro sobre o Atlântico Sul, próximo à costa da Antártida. Cerca de uma hora após o momento de maior aproximação a LeoLabs confirmou que “não havia indicação de colisão”, após os objetos terem passado sobre a estação de monitoramento da empresa na Nova Zelândia.

A passagem foi mais um quase acidente — um entre diversos que ocorrem todos os anos. No entanto, essas duas peças de lixo espacial eram particularmente grandes. O terceiro estágio do foguete — a parte superior que se separa dos estágios inferiores e chega até o espaço — mede cerca de 7,6 metros. O satélite tem 4,9 metros de comprimento e possui uma coluna com extensão de mais de 17 metros utilizada para estabilizar o dispositivo espacial. A massa combinada dos objetos é de aproximadamente 2,7 mil quilos, e sua velocidade relativa era de cerca de 53,1 mil quilômetros por hora, de acordo com a LeoLabs.

Se uma colisão frontal tivesse ocorrido, teria criado duas grandes nuvens que “se expandiriam formando uma barreira de destroços ao redor da Terra”, conta o CEO da LeoLabs, Daniel Ceperley. E devido à altitude dos objetos, os destroços permaneceriam “lá em cima por séculos” até que se desintegrassem na atmosfera.

Ainda que os objetos tivessem se chocado “não haveria ameaça à Terra”, afirma McDowell. O impacto liberaria “pequenos pedaços de resíduos que pegariam fogo ao entrar na atmosfera e se desintegrariam completamente”.

A Estação Espacial Internacional (EEI) também não estava em risco iminente. A EEI orbita a uma altitude de aproximadamente 400 quilômetros, ficando “protegida abaixo” da altitude em que os destroços seriam lançados. “A EEI provavelmente não correria grande risco em curto prazo” se os objetos colidissem, disse McDowell. Mas com o passar dos anos, pedaços dos destroços provenientes da colisão poderiam descer até a altitude da estação espacial. “Aumentaria a quantidade de 'precipitação'”, conta.

Somente neste ano, a EEI precisou realizar manobras para desviar de destroços espaciais e evitar danos em três ocasiões, incluindo um quase acidente há menos de um mês.

O campo de destroços de um choque dessa magnitude ofereceria riscos para qualquer veículo espacial que passasse por ele, incluindo satélites a caminho de uma órbita geossíncrona mais elevada (cerca de 35,4 mil quilômetros acima da Terra), ou quaisquer satélites que estivessem sendo retirados de órbita para se desintegrarem.

Lixo espacial

O espaço ao redor da Terra está ficando cada vez mais cheio. No total, acredita-se que aproximadamente 29 mil objetos construídos por humanos com tamanho superior a 10 centímetros estejam orbitando nosso planeta, o que significa que o risco de colisões espaciais está maior do que nunca. A demanda pela expansão e melhor qualidade de acesso à internet está causando um aumento constante do número de satélites. Por exemplo, a empresa privada SpaceX já lançou centenas de seus satélites de comunicação Starlink em órbita terrestre baixa, e espera lançar mais alguns milhares.

Uma das piores colisões entre equipamentos espaciais ocorreu em fevereiro de 2009, quando o satélite de comunicações em operação Iridium 33 se chocou com um satélite militar russo desativado, o Kosmos 331, sobre a Sibéria. A colisão liberou cerca de 1,8 mil pedaços de destroços espaciais que ainda estão sendo rastreados, e aumentou a quantidade de detritos na órbita terrestre baixa em aproximadamente 10%, afirma McDowell.

“Não temos regras de tráfego espacial para mitigar essas preocupações em relação à segurança”, relata Moriba Jah, pesquisador de mecânica orbital da Universidade do Texas em Austin, que desenvolveu o ASTRIAGraph, um sistema de monitoramento de tráfego espacial colaborativo. A menos que desenvolvamos um sistema melhor para a prevenção de colisões, o acúmulo de lixo espacial pode dificultar o acesso à orbita. “Esse é o nosso destino, a não ser que façamos algo para mudar.”

Até hoje, a maior parte dos dados sobre as trajetórias desses objetos vem das forças armadas dos Estados Unidos. A Rede de Vigilância Espacial, parte da Força Espacial dos Estados Unidos, utiliza uma rede global de telescópios para rastrear tudo que seja maior que uma laranja. No entanto, com o aumento do uso da órbita terrestre baixa para fins comerciais, a Secretaria de Comércio Espacial, parte do Ministério do Comércio dos Estados Unidos, está se preparando para atuar com mais intensidade no monitoramento do espaço, assim como as empresas privadas como a LeoLabs.

Ceperley aponta que a maioria das instalações de radares das forças armadas dos Estados Unidos foi construída durante a Guerra Fria “para rastrear mísseis que vinham do Polo Norte”. Antes da abertura da estação de monitoramento da LeoLabs na Nova Zelândia, os céus do Hemisfério Sul eram pouco vigiados. (A empresa também opera estações nos estados americanos do Alaska e Texas.)

A Nasa, por sua vez, criou um Programa de Destroços em Órbita em 1979 — mas ele monitora apenas os veículos espaciais da própria agência, excluindo os outros milhares de objetos que orbitam nosso planeta. O Ministério da Defesa dos Estados Unidos envia alertas precoces à Nasa, assim como a outras empresas e países ao redor do mundo, quando detecta espaçonaves em risco de colisão.

Quanto mais satélites são lançados ao espaço, mais prováveis se tornam os quase acidentes e, consequentemente, as colisões, explica Ceperley. “As colisões são uma realidade e ocorrem com cada vez mais frequência — precisamos encontrar uma maneira de solucionar isso.”

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