Um testemunho do clamor generalizado por justiça
Fotógrafo de conflitos internacionais acompanha as manifestações em Minneapolis, nos EUA, onde mora.
Manifestantes queimam carro próximo à delegacia do terceiro distrito policial de Minneapolis, no estado americano de Minnesota, onde o assassinato de um negro que já estava algemado por um policial branco levou milhares de pessoas às ruas.
O fotógrafo David Guttenfelder já cobriu todo tipo de guerras e manifestações no mundo inteiro pela National Geographic e Associated Press. Ele chegou a se ferir quando rebeldes atacaram seu carro em Serra Leoa – um de seus colegas que estava no veículo morreu e outro ficou gravemente ferido. Durante anos, lidou com o governo autoritário da Coreia do Norte a fim de registrar o país.
Nos últimos dias, o fotógrafo de conflitos internacionais está cobrindo os violentos protestos que ocorrem na cidade onde mora, no estado americano de Minnesota. É de se pensar que décadas de experiência dariam a Guttenfelder alguma vantagem, mas, em conversa com seu colega David Beard, ele reparou que fotografou a cidade onde escolheu viver poucas vezes e parabenizou os fotógrafos e repórteres locais que acompanham há anos problemas de longa data – como a segregação habitacional e a brutalidade policial.
No entanto, o passado de Guttenfelder o ajuda sim, mas de outras formas. “Facilita que eu já tenha visto dor, sofrimento e raiva em outros lugares, assim, eu consigo me ligar ao que acontece e por que está acontecendo”, disse.
Ele viu (na foto acima) um prédio da polícia em chamas, pessoas dentro de um carro pegando fogo e multidões na rua pedindo a prisão do policial que matou asfixiado um homem negro que já estava algemado. Fotógrafos e equipes de TV estão cobrindo as manifestações com pedidos de justiça por George Floyd, o segurança morto pela polícia, não apenas em Minneapolis e St. Paul, onde o crime ocorreu, mas em Nova York, Phoenix, Los Angeles, Portland e Albuquerque. (O policial que se ajoelhou no pescoço de Floyd, o sufocando, foi detido e acusado de assassinato na última sexta-feira.)
Manifestantes jogam manequins de loja de departamento em uma fogueira no estacionamento em frente à delegacia do terceiro distrito policial de Minneapolis.
“A dor é real”, diz Guttenfelder sobre as pessoas que ele acompanha. Ele comenta que os manifestantes são de diferentes raças, grupos étnicos e estilos de vida. Na imagem acima, flagrou manifestantes queimando um carro e jogando manequins de loja de departamentos nas chamas em um estacionamento em frente à delegacia do terceiro distrito de Minneapolis.
A morte de George Floyd, em uma via pública, gravado em vídeo onde se pode ouvir sua voz rouca dizendo “Não posso respirar”, foi apenas a última sob as mãos da polícia de Minnesota. Policiais do estado estão acossando jornalistas e prenderam uma equipe da CNN que fazia seu trabalho na sexta-feira. (A equipe foi solta e o governador se desculpou.)
Manifestantes gritam por justiça em frente à delegacia do terceiro distrito policial de Minneapolis.
Nesta imagem de quinta-feira à noite, Guttenfelder mostra os manifestantes gritando por justiça. Alguns queimaram a delegacia de polícia, comércios nas proximidades e carros nas ruas.