Mistério sobre a morte do Rei Tut resolvido? Talvez não

Segundo um polêmico programa de TV britânico, a carruagem de Tutancâmon caiu e depois sua múmia pegou fogo

Por A. R. Williams
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:34 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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A múmia enegrecida do Rei Tut exibe pele crepitante e danos no peito.
Foto de Kenneth Garrett

O rei Tutancâmon era apenas um adolescente quando morreu. Para um antigo faraó egípcio, presumivelmente bem alimentado e ferozmente protegido, trata-se de uma morte prematura.

Também foi uma morte importante, pois significou o começo do fim da 18o dinastia do Egito Antigo.

O que será que aconteceu?

Especialistas especulam sobre as possíveis causas desde que o arqueólogo britânico Howard Carter descobriu o túmulo de Tutancâmon no Vale dos Reis em 1922. Agora, uma equipe britânica parece acreditar que resolveu o mistério. Os detalhes foram apresentados em um especial para a TV britânica chamado "Tutancâmon: O Mistério da Múmia Queimada". 

Mas eles realmente resolveram o mistério?

De acordo com relatos da imprensa do Reino Unido, a equipe trabalhou com raios-x tomados de Tut em 1968.

Um relatório inclui uma imagem semelhante a uma tomografia computadorizada, que é talvez um raio-x manipulado em computador. Ele revela a falta de um esterno e pedaços de costelas alinhados ao longo da espinha dorsal, provavelmente todos esmagados e removidos pelos embalsamadores.

Uma verdadeira tomografia computadorizada foi realizada em 2005 sob a direção de Zahi Hawass, então chefe do Supremo Conselho de Antiguidades do Egito. As imagens resultantes nunca foram liberadas ao público, mas também revelaram danos graves à caixa torácica, bem como uma perna quebrada.

Lesões catastróficas

Claramente, o Rei Tut sofreu algum grande tipo de trauma.

A pesquisa britânica usou simulações de batidas de carros para mostrar que uma carruagem em alta velocidade poderia ter atropelado Tut enquanto ele estava de joelhos.

É um cenário provável, mas existem outras possibilidades.

Outra causa de morte proposta no momento da tomografia computadorizada foi uma batida entre carruagens.

O rei poderia estar em uma carruagem durante uma caçada ou uma batalha – atividades rotineiras para os antigos governantes egípcios, parte de seus deveres reais.

O dano no peito de Tut também poderia ser explicado por um coice de cavalo – inteiramente possível, já que cavalos puxavam a carruagem do faraó.

Ou foi um hipopótamo que matou Tut? Talvez o faraó estivesse no lugar errado na hora errada – caçando a pé em um pântano quando um hipopótamo o atacou.

Hoje os hipopótamos estão extintos no Egito, mas mais ao sul, na África, essas agressivas criaturas de 1.360 quilos, com mandíbulas poderosas e incisivos afiados são lendárias por seus ataques. As vítimas podem sofrer cortes enormes, ferimentos profundos e ossos esmagados, uma combinação que poderia ser fatal.

Outros especialistas já se perguntaram se ladrões modernos – provavelmente operando durante a Segunda Guerra Mundial, quando o túmulo de Tut estava desprotegido – cortaram as costelas do faraó para remover as últimas contas presas à gosma que cobria seu peito.

Materiais inflamáveis

Essa gosma apresenta uma revelação surpreendente feito pelo programa de TV em questão: uma grande quantidade de resinas e óleos que foram derramados sobre a múmia de Tut para prepará-lo para a eternidade explodiu em chamas após a múmia ter sido selada em vários caixões aninhados.

Essa conclusão é baseada em testes feitos em um pedaço da carne de Tut, que aparentemente foi coletado no momento do exame de 1968 da múmia.

A múmia de Tut é, na verdade, muito negra. Mas um incêndio realmente o transformou em um faraó frito?

Alguns egiptólogos acreditam que a carbonização – uma reação química entre a múmia e as resinas, fomentada pelo calor abafado do túmulo – transformou Tut na cor de Osíris.

Mas pegar fogo? Difícil de se imaginar.

Para começar, a múmia de Tut sobrevive.

Isso significa que o fogo foi sério o suficiente para fazê-lo chiar e carbonizar, mas não tão quente que ele tenha sido reduzido a cinzas? De acordo com relatos, os pesquisadores acreditam que o fogo queimou a cerca de 200°C. A cremação moderna é muito mais quente, ocorrendo em temperaturas entre 760 a 982°C.

Mas, mesmo que a mera carbonização fosse possível, o enterro contém mais evidências que argumentam contra um incêndio.

O Rei Tut usava um gorro de linho em sua cabeça raspada. Se sua carne tivesse queimado, seu gorro não teria efeitos semelhantes?

A múmia do Rei Tut foi enfeitada com jóias – pulseiras, colares, pingentes, brincos, anéis de dedo e amuletos em abundância, feitos de ouro e prata com pedras preciosas como cornalina, lapislázuli, quartzo e turquesa. Muitas peças estão em exibição no Museu Egípcio no Cairo, e nenhuma parece ter sofrido danos de fogo.

Além disso, o rei Tut tinha três caixões. O mais íntimo era de ouro maciço. Mas os dois exteriores eram de madeira dourada. Se houve um incêndio dentro do caixão de ouro, não teria pelo menos deixado marcas de chamas nos caixões de madeira?

Guirlandas delicadas

Depois, tem as guirlandas. Quando Howard Carter retirou a tampa do caixão mais externo, encontrou uma mortalha de linho coberta de restos de plantas – cordões de azeitonas, salgueiros, folhas de aipo selvagem, tiras de papiro entrelaçadas com pétalas de lótus e centáureas azuis e uma coroa de centáureas azuis na cabeça. Elas são delicadas e estão secas –como seria de se esperar que plantas colhidas há 3.300 anos e deixadas em um túmulo do deserto – sem marcas de queimaduras por um incêndio.

Mas tem mais. Quando Carter finalmente chegou ao caixão mais íntimo, de ouro sólido, ele encontrou outro sudário de linho estendido sobre a parte do tronco. E curvado sob o semblante cintilante do rosto do faraó estava uma grande guirlanda de várias camadas de contas, bagas, flores e folhas.

Se houvesse um incêndio, não teria o linho e o festão sido torrados? Queimados pelo ouro ardente?

É claro que a mídia pode ter entendido mal os achados dos pesquisadores. Ou os inflado. Afinal, "Rei Tut caiu e pegou fogo" é o tipo de manchete que certamente atrai leitores.

E o programa de televisão ainda pode revelar explicações convincentes para os aspectos mais intrigantes do caso, e para as mudanças que ocorreram para enegrecer a carne do faraó. Mas é muito provável que o Rei Tut continue a guardar alguns de seus mistérios – incluindo a razão definitiva para sua morte – como tem feito por tantos séculos.


Publicado em 7 de novembro de 2013.

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