Refugiada afegã completa voo histórico ao redor do mundo

Depois de superar guerra e pobreza, Shaesta Waiz espera que sua conquista inspire a próxima geração de mulheres

Por Rona Akbari
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:36 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Shaesta Waiz posa para foto ao lado de seu avião em Cairo, no Egito, logo antes de começar a jornada ao redor do mundo. Waiz quer inspirar mulheres a seguir seus sonhos, especialmente em seu país natal, o Afeganistão.
Foto de Khaled Desouki, AFP, Getty

Superar adversidades não é um conceito novo para a Capitã Shaesta Waiz. Ela fugiu da guerra quando criança durante o conflito entre União Soviética e Afeganistão, em plena Guerra Fria. Além disso, é a primeira da família a frequentar uma universidade, a primeira afegã a ser certificada como pilota de aviação civil e, agora, aos 30 anos, tornou-se a mulher mais jovem a dar uma volta ao redor do mundo sozinha em avião monomotor.

Na viagem, Waiz passou pela Índia e Cingapura, onde passou tardes com outras colegas pilotas e com a próxima geração de aviadores profissionais. Ela foi para a Austrália, Egito e Sri Lanka, onde jovens homens e mulheres se alinharam para recebê-la com bandeiras. Velocidade não era a questão. Em todas as paradas, espalhou a mensagem sobre mulheres na aviação.

O australiano Lachlan Smart voou ao redor do mundo sozinho aos 18 anos em 2016, superando o americano Matt Guthmiller, que tinha 19 quando completou a viagem em 2014.

PRIMEIROS DIAS

Waiz nasceu em um campo de refugiados no Afeganistão, enquanto sua família fugia da guerra. Quando ainda era criança, a família emigrou para os Estados Unidos. Ela cresceu na cidade de Richmond, na Califórnia. Lá, diz Waiz, ninguém, nem da família nem da comunidade, levou seu interesse em aviação a sério.

Waiz diz que ficou mais confiante quando se inscreveu em aulas de aviação. Ainda assim, não foi fácil. “Eu fui muito empurrada para trás pelas pessoas”, ela diz. “Não era como ‘Nossa! Continue, você tem nosso apoio’. Era mais como ‘O que você está fazendo? Você vai mesmo fazer isso?’”

O maior desafio da carreira era pagar pela caríssimas aulas, mais de 25 mil dólares por ano. Com frequência, por ter que procurar bolsas e doações para bancar sua educação, os treinamentos de voo eram adiados.

Estudantes cumprimentam Waiz em Kabul, em 10 de julho, durante viagem ao redor do mundo. Ela espera voltar ao país natal para construir uma escola para garotas.
Foto de Shah Marai, AFP, Getty

“Só me faltava o apoio financeiro. As pessoas me viam na escola de aviação e se perguntavam porque eu ainda não era uma pilota”, ela diz. “Sempre tinha que dizer as pessoas que, se observar o aeroporto, pilotos normalmente têm cabelo branco, demora um tempo para chegar lá em cima.”

Ela também não teve mentores para se espelhar. Hoje, mulheres são apenas 6% dos pilotos do mundo. Para balancear a conta, Waiz fundou um programa de orientação para mulheres com o objetivo de aumentar o número de mulheres no setor. O sucesso da empreitada a levou a lançar o Dreams Soar (sonhos inflados) em 2014, organização sem fins lucrativos que busca empoderar mulheres pelo mundo, estimulando que sigam carreiras na ciência, tecnologia e aviação.

Waiz em encontro com o presidente afegão Ashraf Ghani, em 10 de julho. Eles discutiram a melhora da educação para garotas e as experiências pessoais de Waiz.
Foto de Afghan Presidential Palace, via Ap

Waiz cita Jerrie Mock, primeira mulher a voar sozinha ao redor do mundo, em 1964, como uma de suas maiores inspirações e mentoras. “Shaesta, boas aterrisagens em longínquos aeroportos”, escreveu Mock em um recado que enviou antes de morrer, em 2014.

“Nunca pareceu um voo solo”, disse Waiz em discurso para celebrar seu retorno, quando se referia as pessoas que a apoiaram durante a jornada.

RESULTADOS

De uma plateia no Museu Nacional do Ar e do Espaço, em Washington, DC, a uma pequena audiência de jovens garotas em Kabul, a ambição de Waiz tem sido mostrar a meninas que elas podem seguir seus sonhos.

“Em 10 de julho de 2017, embarquei em um avião para voar até o país que deixei a 29 anos como refugiada”, Waiz escreveu em uma nota relembrando sua viagem. “Tive uma mistura de emoções com a experiência de viajar até o Afeganistão. Será que os afegãos me aceitarão? Será que me julgarão por ser uma pilota mulher? Vou conseguir me conectar com as mulheres e crianças e inspirá-las a acreditar em seus sonhos?”

Quando chegou, encontrou algumas garotas afegãs que queriam seguir a mesma carreira. “Elas me cumprimentaram em macacões de aviação de mentira e explicaram que tinham se inscrito nas forças armadas para voar. Mas essas oportunidades na aeronáutica são difíceis de se encontrar e normalmente as vagas vão para homens.”

FUTURO

A parada de Waiz em Kabul foi em meio a um período caótico. Apenas 2 semanas antes de sua chegada, a embaixada alemã foi bombardeada em um ataque terrorista fatal.

Mas enquanto estava lá, Waiz se encontrou com o presidente Ashraf Ghani. Ela contou ao presidente sobre sua esperança de voltar ao Afeganistão e construir uma escola de ciência e tecnologia para garotas.

“Quando estive lá, vi uma enorme oportunidade de fazer diferença para essas meninas”, ela disse. “[Eu quero] ajudar a resolver alguns dos desafios que os afegãos enfrentam dia a dia."

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