Keolu Fox: como decifrar o passado para construir um futuro melhor?
O explorador da National Geographic realiza pesquisas genéticas para melhor compreender a história de povos indígenas, reparar injustiças e construir novos caminhos na medicina.
Em 2017, com apoio da National Geographic Society, Fox realizou uma pesquisa sobre o alto número de casos de hanseníase registrados em populações da Oceania.
Keolu Fox, explorador da National Geographic, cresceu ouvindo histórias de seus destemidos ancestrais contadas por gerações anteriores. Ele vem de uma linhagem de viajantes que há milhares de anos atravessaram oceanos a bordo de canoas movidas apenas pelo vento e por remos.
Esses povos fundaram assentamentos em ilhas do Pacífico, inclusive no Havaí, terra natal de Fox. As características de exploradores não estão vivas apenas nas histórias contadas – os traços estão inscritos no DNA.
Mas os genomas indígenas modernos contam uma história ainda mais complexa, explica Fox. A história dos primeiros colonos é marcada pela travessia de longos caminhos oceânicos, problemas de reassentamento e colonialismo. Ao decodificar essas informações, Fox, geneticista e ativista dos direitos indígenas, está trabalhando para garantir que as comunidades indígenas sejam pioneiras do futuro.
“Nossos genomas podem ser utilizados para preservar nossa cultura, nossa língua – tudo o que nos ajuda a difundir e fortalecer nossa herança no futuro”, afirma Fox.
Isso inclui garantir que as comunidades nativas sejam saudáveis. Em 2017, com apoio da National Geographic Society, Fox realizou uma pesquisa sobre o alto número de casos de hanseníase registrados em populações da Oceania para entender as origens da doença na região e a possibilidade de opções de tratamento específicas para a população em questão. O trabalho de campo se expandiu para uma pesquisa mais ampla.
“A maior questão encontrada a partir desse projeto é: ‘como o surgimento de doenças moldou os genomas dos povos indígenas modernos e como isso muda a forma como podemos atenuar a suscetibilidade à covid e outras doenças infecciosas?’”.
Olhar para a história do ponto de vista genômico ajuda a proteger o futuro. “Olhamos para o passado para encontrar uma maneira de desenvolver medicamentos no presente”, diz Fox, citando um exemplo de cientistas que exploram como comunidades indígenas de altas altitudes, desde os Andes até o Himalaia, processam o oxigênio de maneira diferente e como essa característica genética pode ajudar a desenvolver a próxima geração de tratamentos cardiovasculares.
Essas descobertas podem levar à próxima fronteira da medicina para o mundo em geral, mas a metodologia utilizada para estudar as populações nativas deve ser ética. Se os cientistas quiserem utilizar material genético indígena para pesquisa, Fox pede que mantenham a soberania indígena no comando de sua prática.
Povos indígenas: descolonização e inclusão
Fox é professor assistente da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, onde é cofundador e codiretor do instituto Indigenous Futures Institute, que visa canalizar o conhecimento indígena para idealizar um futuro baseado na descolonização e inclusão.
Ele explica que a entidade retribui com 4% de sua receita às comunidades indígenas que contribuem com suas pesquisas. “A cada projeto, estamos pensando em capacitar as comunidades. A participação na receita permite que os civis indígenas comprem de volta suas próprias terras. E a beleza disso é que é a mesma terra que moldou seu genoma.”
Hoje, 95% dos estudos de genoma são realizados em pessoas de ascendência europeia, e menos de 1% em indígenas, menciona Fox.
“Essa disparidade existe por dois motivos: em primeiro lugar, uma falha em incluir os povos nativos em pesquisas biomédicas e uma história de exploração”, explica ele. “Como cientista indígena havaiano, ainda acredito que podemos ter alguns benefícios relevantes ao envolver os indígenas na ciência genômica.”
Geneticista e ativista dos direitos indígenas, Fox trabalha para garantir que as comunidades indígenas sejam pioneiras do futuro.
Esses benefícios incluem a utilização de dados para desenvolver tratamentos específicos para essa população, auxiliando na construção da história da terra nativa para oferecer evidências em casos de territórios disputados e retificando relatos de marginalização.
Para Fox, a expansão do envolvimento indígena começou com sua própria carreira, o que o levou a se tornar o primeiro havaiano a obter o título de doutor em ciências genômicas. Um nativo havaiano que estuda nativos havaianos “era um suicídio para a carreira”, disseram-lhe logo no início.
“Focamos neste campo e agora estamos revolucionando-o”, afirma Fox, com orgulho.
Futuro idealizado pelos indígenas
Sua convicção rendeu frutos. Ele ajudou a construir o primeiro Instituto Genômico Indígena independente, administrado por e para indígenas. Ele também está testando a tecnologia blockchain e como ela pode ajudar a promover a inovação nativa, bem como instaurou um programa de subsídios em parceria com Robert Downey Jr. Para promover a resiliência climática e o futurismo indígena – um futuro idealizado pelos indígenas.
“Temos trabalhado arduamente para desenvolver uma infraestrutura global em uma série de cenários”, enfatiza. Da reimaginação de ecossistemas à economia, Fox incentiva as pessoas a reinventar e reconstruir o mundo, mantendo a sustentabilidade cultural e a ética como parte central.
“Estou muito empolgado em desafiar nossas comunidades a imaginar como seria se nós, povos indígenas, construíssemos o mundo avançando”, conclui.
Natalie Hutchison é produtora de conteúdo digital para a National Geographic Society. Ela acredita que a narrativa autêntica exerce o poder de conectar as pessoas sobre a experiência humana compartilhada. Em seu tempo livre, Hutchison utiliza seu pincel para criar retratos com o objetivo de inspirar esperança e empatia.