Exclusivo: Instagram combate o abuso animal com novo sistema de alerta

A rede social agora alertará os usuários sobre comportamentos que ameaçam a vida selvagem por meio de ferramentas já desenvolvidas contra autolesão e suicídio.

Por Natasha Daly
Publicado 6 de dez. de 2017, 15:29 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um jovem tira uma foto na Ilha dos Macacos, na Amazônia colombiana. “Safáris de selfie” – nos ...
Um jovem tira uma foto na Ilha dos Macacos, na Amazônia colombiana. “Safáris de selfie” – nos quais turistas seguram e tiram fotos com animais selvagens – são uma tendência em crescimento. Especialistas em vida silvestre dizem que, nos bastidores, muitos animais sofrem.
Foto de Kirsten Luce, National Geographic

O Instagram tem uma abundância de fotos de animais silvestres fofos – inclusive aqueles exóticos e ameaçados de extinção. Uma imagem de alguém segurando um bicho-preguiça ou exibindo seu filhote de tigre de estimação está a um clique de distância na extremamente popular plataforma de compartilhamento de fotos, que possui 800 milhões de usuários.

Mas, desde segunda-feira (04/12), buscas que incluam um amplo leque de hashtags sobre este tema irão acionar uma notificação, que informa as pessoas a respeito do abuso animal que está por trás e gera uma aparentemente inocente foto de vida selvagem.

O Instagram agora enviará uma mensagem pop-up quando alguém pesquisar ou clicar em uma hashtag como #slothselfie (“#selfiecomapreguiça”). A mensagem informa, em parte, que “você está buscando por uma hashtag que pode estar associada com posts que encorajam maus-tratos aos animais ou ao meio ambiente”.

Os usuários, então, podem clicar e acessar uma página do Instagram feita em sua Central de Ajuda, que fornece muito mais informações sobre a exploração da vida selvagem. O Instagram utiliza o mesmo processo para atividades mais desprezíveis, como buscas por #exoticalanimalforsale (“#animaisexóticosàvenda”) e outras hashtags que usuários postam para anunciar a venda de animais vivos ou partes animais.

Quando alguém busca ou clica em hashtags como #koalaselfie, que talvez retrate um comportamento nocivo, aparecerá ...
Quando alguém busca ou clica em hashtags como #koalaselfie, que talvez retrate um comportamento nocivo, aparecerá essa mensagem pop-up.
Courtesy of Instagram

“Nós nos importamos com a nossa comunidade, inclusive os animais e a vida selvagem que são uma importante parte da plataforma”, diz Emily Cain, porta-voz do Instagram. “Penso que seja importante para a comunidade desde já ser mais conscientizada. Tentamos fazer a nossa parte ao educá-los.”

A decisão do Instagram vem após longos meses de investigações da National Geographic e da Proteção Animal Mundial sobre a crescente indústria do problemático turismo de vida selvagem na Amazônia. A National Geographic testemunhou animais sendo ilegalmente capturados na floresta tropical, mantidos em jaulas e arrastados para bem-intencionados turistas os segurarem e tirarem selfies.

São centenas de hashtags que acionam os avisos do Instagram, em inglês e em idiomas locais de países como Tailândia e Indonésia, onde práticas ilícitas contra a vida selvagem tornaram-se endêmicas.

O Instagram desenvolveu a lista ao longo de vários meses, reunindo dados do World Wildlife Fund, a TRAFFIC, uma organização parceira da WWF que monitora o tráfico de animais silvestres; e a Proteção Animal Mundial, sobre as hashtags mais associadas à esta preocupante conduta.

Cassandra Koenen, chefe das campanhas de vida silvestre na Proteção Animal Mundial, que trabalhou na lista com o Instagram, espera que os alertas façam as pessoas pararem e refletirem. “Se a ação de alguém é interrompida, esperamos que a pessoa vá pensar. Talvez haja algo a mais aqui, ou talvez eu não deva automaticamente curtir, compartilhar ou repostar se o Instagram me diz que há um problema com essa foto.”

O Instagram não revela as hashtags selecionadas, já que a empresa quer que usuários esbarrem nelas organicamente. E não quer que aqueles que usam intencionalmente a plataforma para facilitar práticas ilícitas contra a vida silvestre sejam capazes de simplesmente pular os avisos.

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    Um garoto abraça uma pequena preguiça em Puerto Alegria, Peru, uma cidadezinha no Rio Amazonas onde ...
    Um garoto abraça uma pequena preguiça em Puerto Alegria, Peru, uma cidadezinha no Rio Amazonas onde dúzias de animais silvestres são ilegalmente mantidos em cativeiro, para turistas interagirem e tirarem selfies.
    Foto de Kirsten Luce, National Geographic

    O QUE ISSO SIGNIFICA PARA A VIDA SELVAGEM

    Os anúncios são direcionados em parte à questão das selfies com animais silvestres, cuja presença na rede social cresceu 292% desde 2014, de acordo com a Proteção Animal Mundial.

    Aliás, qual é o problema da foto de alguém abraçando um aparentemente carente animal silvestre como um coala? É a interação, dizem os especialistas em vida selvagem. Muitos animais que as pessoas desejam abraçar, como bichos-preguiça, não ficam bem sendo repetidamente passados de mão em mão. Pode ser muito estressante, diz Koenen, mas é difícil para as pessoas observarem os efeitos que sua ação causa no animal. Na verdade, uma pesquisa mostra (em inglês) que a maior parte dos turistas são péssimos avaliadores em saber se sua atração pela vida selvagem é nociva para com os animais.

    Além disso, ela acrescenta, às vezes o mais preocupante é o que a foto não enquadra. “Mesmo se a crueldade não está exatamente a sua frente, [existe] a crueldade que está nos bastidores até chegar a esse determinado momento.”

    Em muitos casos, animais abraçados em selfies foram ilegalmente tirados da natureza e mantidos em cativeiro com condições deploráveis. Outros animais que são populares para selfies, como o leão e os filhotes de tigre, têm sua procriação acelerada no cativeiro e são tirados de suas mães durante a amamentação cedo demais. Enquanto isso, atividades turísticas populares, como nadar com golfinhos ou andar sobre elefantes, envolvem um doloroso processo de adestramento, chamado, no caso dos elefantes, de “the crush” (Phajaan, em tailandês, que significa “quebrar o espírito”).

    A ação do Instagram pode contribuir com a repressão do crescente problema de traficantes de animais silvestres, que utilizam a rede social para comprar ou vender animais vivos ou partes de animais caçados. Diferentemente de sites de e-commerce tradicionais como eBay, plataformas como Facebook e Instagram permitem que supostos traficantes se conectem e então se comuniquem – e negociem – por meio de uma plataforma separada e privada, diz Giavanna Grein, funcionária do programa de crime contra a vida selvagem da TRAFFIC. Seu grupo espera que novos alertas desmantelem o comércio digital ilícito de animais silvestres.

    “Talvez quem esteja vendendo animais vivos no Instagram receberá a mensagem e pensará: ‘OK, isso tornará as coisas bem mais difíceis para mim”, diz Grein.

    Um empolgado grupo de turistas se aglomera ao redor de um boto-cor-de-rosa, no Rio Negro, Brasil. ...
    Um empolgado grupo de turistas se aglomera ao redor de um boto-cor-de-rosa, no Rio Negro, Brasil. Muitos turistas não têm consciência de que tais interações prejudicam a vida silvestre.
    Foto de Kirsten Luce, National Geographic

    CONSTRUINDO A “FASE UM”

    O Instagram já possui avisos de pop-up para hashtags associadas ao suicídio, autolesão e transtornos alimentares. “Muitas dessas outras questões são incrivelmente significativas”, diz Grein. “Então é bastante importante para nós ver a vida selvagem ser elevada ao mesmo espaço e ao mesmo debate. Isso nos dá muita esperança para seguir em frente.”

    Anteriormente, o Instagram já proibia postagens de conteúdos que abertamente retratavam abuso animal e comércio de espécies ameaçadas ou membros de animais. A porta-voz da empresa, Cain, classifica a iniciativa das hashtags como “fase um” e diz que eles ainda não decidiram quais os próximos passos a serem dados para mitigar as práticas ilícitas que envolvem a vida selvagem.

    Koenen, da Proteção Animal Mundial, quer que informação sobre o bem-estar animal seja adicionada nas diretrizes do Instagram, para de início avisar o que as pessoas podem postar na plataforma. De acordo com Giavanna Grein, o plano da TRAFFIC e da World Wildlife Fund é focar na sugestão de mais hashtags e trabalhar com o Instagram para treinar funcionários a identificar conteúdos que envolvam animais ameaçados.

    “A mídia social ainda não acordou para o grau e o volume da natureza do comércio ilegal de animais selvagens, que tem sido usado e promovido [nas redes sociais]”, diz Crawford Allan, diretor sênior da TRAFFIC no World Wildlife Fund. “Para o Instagram realmente se levantar agora, reconhecê-lo e tomar medidas duras, eu penso que é muito significante. E isso vai estabelecer um importante padrão para outras mídias sociais refletirem e seguirem.”

    Cassandra Koenen, da Proteção Animal Mundial, concorda: “O Instagram é, com seus 800 milhões de usuários, uma plataforma incrível para mudar a opinião pública.”

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