Será que o oceano consegue alimentar um mundo em constante crescimento?

Pescas saudáveis podem ser essenciais para alimentar 10 bilhões de pessoas – se feitas adequadamente.

Por Sarah Gibbens
Publicado 20 de ago. de 2018, 17:04 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Captura de uma pescaria de salmão rosa.
Captura de uma pescaria de salmão rosa.
Foto de Michael Melford, National Geographic

Se a atual tendência de aumento da população mundial continuar, especialistas estimam que o mundo precisará dobrar a produção de alimentos em 2050, e os mesmos especialistas afirmam que a resposta para esse problema está nos peixes.

“Estamos ficando sem opções em terra firme”, diz Vera Agostini, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). “Há um limite do que podemos extrair do planeta, portanto, a pesca e a aquicultura serão essenciais”.

Em 2016, a pesca produziu 171 milhões de toneladas de peixe para consumo. Em 2030, é esperado que esse número chegue aos 201 milhões de toneladas.

Para atingir esse objetivo, os pesqueiros encaram diversas questões ambientas e considerações econômicas, bem como os defensores dizendo que nem toda pesca vale o esforço.

Como a indústria da pesca funciona?

No início deste verão, a FAO publicou um panorama geral sobre a indústria de pesca chamado O estado mundial da pesca e da aquicultura. O estudo descreve a história de uma indústria que acredita ter um papel crucial em atender as metas de consumo alimentar.

Como fonte de alimento, o peixe pode ser uma fonte importante de proteína. Apenas 150 gramas de peixe podem prover mais da metade da necessidade diária de proteína de um adulto médio. Em países em desenvolvimento com economias emergentes e patrimônios individuais, como a China, o consumo de peixe cresce cada vez mais. Em 2016, a Europa, o Japão e os Estados Unidos consumiram um pouco menos da metade dos peixes pescados do mundo. Em 2015, a Ásia consumiu dois terços dos peixes pescados.  

Uma população em crescimento, assim como uma população rica, demanda alimentos ricos em proteína e com altos níveis nutricionais. Um estudo publicado em 2015 na revista científica Food Security relatou que os peixes são responsáveis por 10 por cento da segurança alimentar mundial.

Os autores do estudo, que foram analistas da FAO, declararam que defendiam a questão da pesca para que, cada vez mais, seja incluída no “debate geral e na diretriz de segurança alimentar e nutricional”.

Pescando em alto mar

Outros pesquisadores foram mais céticos quanto ao fato de peixes se tornarem uma fonte de alimento mais abundante, especialmente os peixes encontrados em alto mar.   

Um estudo publicado na última semana na revista científica Science Advances revelou que a pesca realizada em alto mar (qualquer região que esteja cerca de 320 quilômetros distante da costa) exerce um papel irrisório na garantia da segurança alimentar mundial.

“A maioria dos peixes são vendidos como itens alimentares sofisticados”, afirma o ecologista Enric Sala, explorador da National Geographic e autor do estudo citado. “Pequenas equipes locais não pescam em alto mar. A pesca em alto mar é realizada por frotas industriais maiores”.

Isso acontece por conta do custo com combustível e funcionários, por ser cara a pesca em alto mar. Em um outro estudo publicado por Sala na Science Advances em junho passado, uma equipe de pesquisadores descobriu que quase 54 por cento da pesca em alto mar não teria lucros se não fosse pelos subsídios governamentais.  

Com o intuito de abranger mais partes do mundo, os navios de pesca geralmente são provenientes de nações mais ricas. Oitenta e cinco por cento da pesca em alto mar é feita pela China, Espanha, Taiwan, Japão e Coreia do Sul.

E não é só o alto mar que está sendo conquistado pelas nações mais ricas. Em 1o de agosto, outro estudo da Science Advances confirmou que, mesmo além do alto mar, os países mencionados acima também dominam a indústria de pesca em geral.

Críticos da indústria de pesca, como Sala, argumentam que a FAO deveria focar em pesqueiros menores, e não nos industriais, ao definir as estratégias para alimentar a população mundial.

Interesse crescente na aquicultura

Diferente dos peixes selvagens, peixes criados em fazendas são criados em água doce ou salgada.

Em 2014, o Banco Mundial publicou um relatório afirmando que, em 2030, 62 por cento dos produtos de pesca de todo o mundo será criado em fazendas.

Na edição de 2016 do relatório, a FAO verificou que a aquicultura já é responsável por 47 por cento dos produtos de pesca que consumimos.

Um estudo da revista científica Nature publicado em agosto do ano passado ambiciosamente descreveu como a aquicultura poderia aumentar potencialmente para atender a demanda mundial de pesca sem esgotar os estoques dos oceanos.  

Em algumas partes do oceano, o estudo identificou regiões com cerca de 200 metros de profundidade que poderiam ser utilizadas para cultivar algumas espécies de peixe. E aproveitando o espaço disponível estimado, o autor do estudo pôde concluir que 15 bilhões de toneladas métricas de peixe poderiam ser cultivadas por ano.  

Será que o meio ambiente pagará por isso?

Uma ênfase maior na pesca causa preocupação em alguns ativistas ambientalistas.

No mar, o aumento do número de peixes capturados em estado selvagem resultou na sobrepesca ou no esgotamento total de pescas. Regulamentações restritas impostas sobre o local onde os pescadores podem trabalhar e o que pescar têm se mostrado eficaz, segundo a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional). Em 2017, a organização publicou um relatório indicando que o estoque da sobrepesca em águas dos Estados Unidos permaneceu baixa. É uma melhora significativa, dizem, em comparação aos últimos 20 anos, quando várias espécies de peixe comumente consumidas beiraram a extinção.

As redes de pesca podem ser prejudiciais ao meio ambiente. Alguns animais podem acidentalmente ser capturados por engano, como por exemplo, os mamíferos marinhos. Redes de arrasto podem destruir habitats como o coral. E redes de pesca antigas são as principais fontes de poluição do oceano.

A ONU também tem a intenção de aumentar o número de áreas protegidas no oceano. Enquanto algumas MPAs (Áreas Marinhas Protegidas) permitem a pesca, outras são completamente restritas e no passado deixaram a indústria e os ativistas competindo pelo mesmo espaço. Tanto Sala quanto Agostini dizem esperar que as áreas marinhas protegidas possam ser usadas como ferramentas para melhorar a saúde dos estoques adjacentes, tornando-os mais lucrativos.

A aquicultura, ao invés de capturar os peixes silvestres, nem sempre é a grande solução como muitas vezes parece ser.

Algumas espécies de peixe lidam melhor com espaços pequenos e contidos do que outras, e essas estão propensas a desenvolver e disseminar doenças.

Em fazendas de aquicultura próximas da costa, jaulas defeituosas ou até tempestades podem deixar que peixes doentes escapem, infectando populações silvestres da região. Locais em terra firme também oferecem risco de disseminação de doenças.

Na FAO, Agostini afirma que a organização está otimista planejando a criação de práticas mais sustentáveis para o oceano ao mesmo tempo em que aumenta drasticamente o peixe como uma fonte alimentar pelos próximos 18 anos.

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