Incêndios florestais estão cada vez mais intensos — até mesmo para animais adaptados ao fogo

O pica-pau-de-dorso-preto depende das queimadas para sobreviver, mas será que ele chegou ao seu limite?

Por Jason G. Goldman
Publicado 21 de ago. de 2019, 07:45 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

PENSE NAS FLORESTAS de coníferas do oeste norte-americano e você provavelmente imaginará árvores altas, o chão da floresta coberto de folhas de pinheiro e pinhas, ursos-negros, onças-pardas, sapos coaxando e pássaros-azuis-da-montanha. Incêndios florestais naturais também devem fazer parte do cenário imaginado. Ao longo de milhões de anos, as florestas do oeste da América do Norte se adaptaram às queimadas rotineiras causadas por raios, permitindo a manutenção de uma variedade de plantas antigas, de meia-idade e jovens, que sustentam uma enorme quantidade de espécies animais.

Muitos dos animais que formam seus lares nessas florestas dependem do distúrbio causado pelas chamas — ou pelo menos conseguem tolerá-lo. Um deles é o pica-pau-de-dorso-preto, que há décadas é considerado um ótimo exemplo de uma espécie que requer áreas queimadas para sobreviver. Ele se alimenta principalmente das larvas de besouros que colonizam árvores mortas e em decomposição após os incêndios florestais e abre buracos em árvores mortas para fazer seus ninhos.

E, embora essa espécie realmente dependa de áreas queimadas, o que ela realmente precisa é de pirodiversidade — um mosaico de áreas queimadas e não queimadas. Em um estudo publicado em 6 de agosto na revista científica The Condor, os pesquisadores estudaram como os habitats afetam a escolha dos locais de nidificação dos pica-paus. Eles observaram que os pica-paus-de-dorso-preto preferem fazer ninhos ao longo do limite de áreas queimadas, a cerca de 500 metros de áreas com árvores vivas e preservadas.

"Estamos descobrindo que a pirodiversidade é um componente realmente importante do habitat dos animais silvestres após um incêndio", diz o autor principal do estudo, Andrew Stillman, estudante de pós-graduação em ecologia e biologia evolutiva da Universidade de Connecticut. Embora os incêndios florestais estejam se tornando cada vez mais comuns, a pirodiversidade é menor porque os incêndios estão mais intensos e maiores do que costumavam ser, resultando em uma zona de queima mais homogênea. Stillman diz que compreender os impactos ecológicos desses novos tipos de incêndios florestais é primordial para ajudar na recuperação dos animais após as queimadas e ajudar os proprietários de terras a equilibrar as demandas da vida selvagem e dos seres humanos.

Incêndios mais intensos que se propagam mais rápido

Os padrões de queima florestal mudaram consideravelmente nos últimos anos. Além dos incêndios naturais, as florestas também precisam enfrentar incêndios iniciados pelo homem, de forma intencional e acidental. E devido a mais de um século de práticas que visam a evitar incêndios, muitas florestas agora contêm enormes reservas de combustível não queimado. Isso significa que quando ocorrem incêndios, eles tendem a ser mais intensos e a durar mais, além de fazer com que a propagação ocorra mais rapidamente.

"Será difícil encontrar um cientista que diga que a supressão de incêndios, do jeito que foi realizada, é uma coisa boa", diz Gavin Jones, ecologista da vida selvagem da Universidade da Flórida, que não participou do estudo. Quando os incêndios florestais seguem o seu curso, a floresta se regenera naturalmente, proporcionando habitat para espécies como pica-paus-de-dorso-preto e veados-mulas, que gostam de procurar alimento em meio à rebrota de plantas após um incêndio.

Acrescente secas prolongadas e verões mais longos e mais quentes — ambos consequências das mudanças climáticas — e temos uma receita para um tipo de queimada muito diferente daquele ao qual o ecossistema se adaptou. Até mesmo para espécies adaptadas ao fogo, como o pica-pau-de-dorso-preto, esses novos incêndios podem se tornar muito frequentes e muito severos — embora, pelo menos por enquanto, a sobrevivência dos filhotes não pareça estar sendo gravemente afetada, segundo o estudo.

Cobertura florestal

Os pesquisadores acreditam que ao fazerem ninho próximo ao limite da floresta queimada, os pica-paus-de-dorso-preto estejam garantindo a possibilidade de vigiar seus filhotes depois que eles aprendem a voar.

Os pais usam as áreas queimadas porque podem encontrar, em madeiras mortas e queimadas, as larvas de besouros que tanto adoram comer. "Mas os filhotes, assim que saem do ninho, vão direto a áreas [com queimadas] de baixa intensidade", diz Stillman. Ele suspeita que a cobertura extra oferecida pelos densos dosséis florestais os ajuda a evitar a predação por aves de rapina durante um dos períodos mais vulneráveis de suas vidas.

Jones diz que essas descobertas “conferem algumas nuances importantes ao conhecimento que temos sobre o habitat do pica-pau-de-dorso-preto e nos oferecem a possibilidade de descobrir o que deve ser feito em áreas afetadas por incêndios para alcançar múltiplos objetivos, que às vezes competem uns com os outros".

De fato, Stillman ressalta que os proprietários de terras podem usar essas informações para equilibrar as necessidades de espécies adaptadas ao fogo, incluindo os pica-paus-de-dorso-preto, com atividades pós-incêndio, como a extração de madeiras não afetadas.

Pica-paus-de-dorso-preto preferem fazer ninhos em áreas florestais queimadas próximo a árvores não queimadas.
Foto de Robert Royse, Minden Pictures
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