Quais plantas domésticas você deve comprar para purificar o ar? Nenhuma.

Ter plantas dentro de casa pode trazer diversos benefícios, mas purificar o ar não é um deles, afirmam especialistas.

Por Sarah Gibbens
Publicado 25 de nov. de 2019, 17:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A jardinagem em ambientes internos esteve em ascensão este ano, e muitas das plantas domésticas populares vendidas a consumidores ansiosos foram comercializadas como purificadoras de ar. Novas pesquisas, no entanto, continuam mostrando que as plantas domésticas não possuem papel algum na purificação do ar doméstico.

UM MITO que você queria que não tivesse sido derrubado. As plantas domésticas, embora encantadoras, pouco fazem para purificar o ar em um ambiente, dizem os cientistas que estudam o ar que respiramos.

Em uma rápida pesquisa na internet, você pensaria o contrário. Sites famosos de decoração listam várias plantas que prometem remover toxinas e produtos químicos perigosos do ar, e várias lojas online comercializam plantas para purificação do ar.

“Decidimos estudar esse assunto mais profundamente em resposta a todos os artigos e publicações em blogues de bem-estar que afirmam que as plantas fazem mágica na qualidade do ar interno”, diz Michael Waring, engenheiro ambiental e especialista em qualidade do ar interno, da Universidade Drexel.

Em um estudo publicado recentemente no periódico Journal of Exposure Science and Environmental Epidemiology, Waring e outro autor revisaram 12 estudos científicos já publicados que testaram 196 plantas ao longo da última década.

Os estudos, que concluíram que uma pequena planta doméstica poderia remover uma série de toxinas, foram realizados em laboratórios. Waring diz que um dos experimentos envolveu colocar uma planta em uma pequena câmara e submetê-la a moléculas gasosas chamadas compostos orgânicos voláteis (COVs). Os experimentos variaram em densidade e tempo de remoção. Um demonstrou que, em apenas 24 horas, heras domésticas comuns poderiam remover dois terços do formaldeído a que estavam expostas.

O problema com esses experimentos, diz Waring, é que as câmaras repletas de gases em laboratório não reproduzem o ambiente doméstico ou do escritório.

Muitos dos blogues e fornecedores que comercializam plantas para purificar o ar apontam para um estudo da Nasa de 1989, no qual plantas em câmaras com um pouco mais de 60 centímetros de largura e comprimento eram expostas a diversos gases circulados por um pequeno ventilador. Foi esse estudo de 30 anos atrás que demonstrou que as plantas poderiam reduzir os COVs dentro de pequenos recipientes herméticos, que talvez tenha levado os consumidores a superestimarem suas plantas domésticas, dizem os especialistas.

“Não estamos dizendo que os dados experimentais sejam inválidos”, diz Waring, apenas que são exatamente isso: experimentais.

Do laboratório para casa

Para avaliar como as plantas podem interagir em um ambiente doméstico mais real, Waring calculou a taxa de entrega de ar limpo (CADR, na sigla em inglês) de cada planta. A CADR mede a quantidade de ar limpo liberado no ambiente por um purificador de ar durante um determinado período de tempo.

Ao padronizar os resultados de cada estudo com a CADR, os pesquisadores conseguiram avaliar o nível de purificação gerado por uma planta em um recinto comparado a estratégias comprovadas, como ligar um purificador de ar mecânico ou abrir uma janela.

“As plantas, apesar de removerem os COVs, os removem a um ritmo tão lento que não conseguem competir com os mecanismos de troca de ar já existentes nos edifícios”, diz Waring.

Reduzir COVs o suficiente para impactar a qualidade do ar exigiria cerca de 10 plantas a cada nove centímetros quadrados aproximadamente. Em um pequeno apartamento de 46 metros quadrados, isso significa cerca de cinco mil plantas, uma verdadeira floresta.

As plantas tecnicamente removem uma pequena quantidade de toxinas transportadas pelo ar, mas “para competir com a troca de ar, seria necessária uma quantidade inviável de plantas”, afirma ele.

Hoje, a Nasa cultiva plantas a bordo da Estação Espacial Internacional para obtenção de alimentos frescos e para “criar uma atmosfera bonita”, observando que seus benefícios à saúde estão relacionados à capacidade de melhorar o nosso estado mental.

O que há de errado com o ar, afinal?

“Todas as pessoas que trabalham já passaram algumas horas em uma sala de conferências ruim, abafada e quente”, diz Joe Allen, professor da Universidade de Harvard, que estuda como o design de construções influencia a nossa saúde. “O que acontece quando você está nesse espaço? Você fica distraído; olha para o relógio e, quando a porta se abre, o ar externo literalmente permite que as pessoas voltem a respirar normalmente, e você sente o efeito. Você fica menos sonolento. Seus olhos se abrem e você se sente mais vivo.”

Allen descreve seu trabalho como quantificador do bom senso — avaliando nossa compreensão inata de que alguns ambientes são mais agradáveis que outros.

Ele conta que o ar em um ambiente interno pode ser poluído de diversas formas. Cozinhar pode gerar material particulado, e os COVs podem ser liberados de produtos de limpeza e revestimentos sintéticos em carpetes e móveis.

“Muitas vezes, a pessoa que gerencia o seu condomínio tem um impacto maior na sua saúde do que o seu próprio médico, e isso é porque essa pessoa gerencia muitos desses fatores, como ventilação e materiais de construção”, diz ele.

A maneira mais eficaz e óbvia de reduzir a poluição do ar em ambientes internos é remover a fonte, dizem os especialistas. Waring enfatiza que ar limpo não possui odores. Portanto aplicar purificadores de ar perfumados é mais como borrifar perfume do que remover toxinas.

“Seria maravilhoso se todas essas plantas bonitas limpassem o ar para nós”, diz Elliott Gall, professor da Universidade Estadual de Portland, que estuda como as construções influenciam a qualidade do ar interno. “Mas existem formas mais eficazes de limpar o ar de um ambiente, com sistemas mecânicos que fazem o ar circular através de algum tipo de filtro.”

Filtrar ar interno poluído geralmente requer bombear ar externo filtrado para dentro, mas quando confrontadas com ar externo igualmente poluído, as comunidades usam vegetação ou “paredões de árvores” para reduzir a poluição do ar. Gall diz que as áreas abrigadas por paredões de árvores bem projetados testemunham uma redução de cerca de 10 a 30% nas emissões, mas a melhor opção continua sendo remover a fonte de poluição.

“Remover a poluição do ar geralmente significa reduzir a atividade econômica ou alterar como as pessoas se deslocam de um lado ao outro da cidade”, acrescenta. “Mas [remover a fonte] é a maneira mais eficaz de reduzir a poluição.”

Produzindo plantas domésticas mais eficazes

Na Universidade de Washington, o engenheiro ambiental Stuart Strand realizou experimentos com plantas geneticamente modificadas para remover COVs do ar com mais eficiência.

No ano passado, ele e sua equipe de pesquisa publicaram os resultados de seu trabalho, que envolveu modificar geneticamente uma hera-do-diabo comum, introduzindo uma proteína encontrada no fígado de mamíferos. É a mesma proteína que nosso corpo produz para metabolizar o álcool. Ao longo de dois anos, eles conseguiram codificar as plantas com uma versão da proteína obtida de coelhos. Em testes de laboratório, as plantas geneticamente modificadas removeram mais clorofórmio e benzeno do ar do que as plantas não modificadas, utilizadas como controle.

Para limpar o ar de maneira significativa, Strand diz que uma grande quantidade de suas plantas precisaria ser utilizada, formando efetivamente uma barreira, e seria necessário algum tipo de ventilador para soprar os COVs pelo recinto.

“Acredito ser possível introduzir mais alguns genes na planta”, diz ele. “Estamos trabalhando em uma segunda geração de OGMs para remoção de formaldeído”.

Gall, no entanto, permanece cético quanto ao fato de que até mesmo uma planta geneticamente modificada seja capaz de melhorar significativamente a qualidade do ar.

“Acredito ser um excelente trabalho do ponto de vista científico”, diz ele, mas permanece cético quanto ao fato de as plantas demonstrarem qualquer melhora significativa fora do ambiente laboratorial.

Em um relatório citado pela Bloomberg, as vendas de plantas nos últimos três anos superaram US$ 1,7 bilhão, principalmente entre pessoas na faixa etária de 18 a 34 anos. Embora as plantas possam trazer diversos benefícios psicológicos, como alívio do estresse, Gall, Strand, Allen e Waring enfatizaram que não devem ser compradas como uma ferramenta de purificação do ar.

“Eu odiaria ver uma família de baixa renda, preocupada com a qualidade do ar, analisar suas opções e dizer: “Posso comprar um filtro de ar de US$ 400 ou sair e comprar uma planta de US$ 30'”, diz Gall. “Essa planta não irá melhorar a qualidade do ar — ponto final. Simplesmente não irá.”

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