Nat Geo Podcast | Episódio 3: Mais vida, menos lixo
André Carvalhal entrevista as ativistas e comunicadoras Fe Cortez e Cristal Muniz para falar sobre reciclagem e economia circular.
André Carvalhal (apresentador): Olá! Eu sou o André Carvalhal, escritor, especialista em design para sustentabilidade e apresentador do Nat Geo Podcast, esse podcast realizado pela National Geographic Brasil, que tem o propósito de pensar futuros e presentes mais sustentáveis. Esse é o nosso terceiro episódio de uma série de sete episódios, onde iremos tratar assuntos urgentes relacionados ao clima e ao meio ambiente. Você pode aproveitar também para ouvir os episódios anteriores, que foram muito legais, não precisa ouvir na ordem, mas não pode deixar de ouvir nenhum, porque todos eles foram muito incríveis.
No episódio de hoje, a gente vai falar sobre um dos temas centrais da sustentabilidade e da proteção do meio ambiente, a chamada economia circular, uma proposta alternativa ao modelo de produção linear que vigora no mundo e que a gente conhece bem, baseado na extração de matéria-prima para produzir bens de consumo e posteriormente descartar esses produtos em lixões, aterros sanitários, nos rios e até nos oceanos. Já na economia circular, o desenvolvimento está associado a um melhor uso dos recursos naturais e o reaproveitamento de todos os resíduos, considerando no final do que a gente acha que é o ciclo de vida deles, a reinserção no início do círculo.
Mas vocês vão entender melhor porque eu tenho aqui hoje duas mulheres que são referência nesse assunto e contribuem de diversas formas para a difusão dessa ideia pelo Brasil e pelo mundo, a ativista ambiental Cristal Muniz, autora do projeto "Uma Vida Sem Lixo", e ativista ambiental Fe Cortez, que também é idealizadora do movimento "Menos 1 Lixo". Olá, meninas!
Cristal Muniz: Oi, boa tarde! Prazer estar aqui com vocês.
Fe Cortez: Oi! Que prazer estar aqui com pessoas que eu admiro tanto, companheiros dessa jornada, que é só uma jornada que está começando de uma nova forma de viver. E a todos que estão ouvindo a gente, bem-vindos!
André: É isso aí. Fe, vou começar primeiro com você. Nesse primeiro bloco, a gente explora o cenário atual para ter uma ideia do momento em que a gente se encontra e eu queria pedir para você contar para a gente um pouco mais sobre essa relação da economia circular em contraposição ao modelo da economia linear.
Eu gosto muito quando você fala que o modelo circular, mais do que uma forma de produção, é uma forma de pensar, né? Eu queria que você contasse um pouco mais para a gente sobre isso, e também, por que que esse modelo de produção linear é tão prejudicial para o planeta?
Fe: Obrigada, amigo. Bom, na minha maneira de pensar e pelo o que eu estudo, né? A gente vem de um modelo de extração para produzir que fez algum sentido enquanto éramos poucos no planeta e enquanto o que a gente extraia para produzir, a natureza conseguia repor, recolocar. Hoje a gente está lidando com uma questão muito mais complexa porque somos muitos, né? Mais de 7 bilhões de pessoas no planeta, com um modelo linear que extrai da natureza, processa aquilo transformando em mercadoria,
muitas vezes alterando a matéria-prima, como é o caso do plástico, que pega o petróleo e muda para uma coisa que nunca mais vai se decompor praticamente, e a gente descarta isso e faz isso infinitas vezes, como se a gente tivesse uma maneira de repor aquilo que a gente está tirando e de que aquele descarte não fosse prejudicial.
A gente está entendendo hoje que a gente está vivendo num planeta, a gente está transformando o planeta num grande lixão a céu aberto. Hoje não, já tem um tempo que a gente está entendendo isso e que o nosso modelo de produção, ele é insustentável, ou seja, ele não se sustenta, por quê? Porque a gente está tirando mais do que aquilo que o planeta é capaz de regenerar.
O conceito da economia circular, ele vem, então, dizer o seguinte: "Galerinha, para de tirar e descartar. Que tal se a gente tirar e aproveitar aquilo, e transformar aquilo depois do final da vida útil daquela matéria-prima, como um certo objeto, a gente transforma em outro e assim sucessivamente, imitando os grandes mestres que são a natureza". Então, esse é o conceito da economia circular. Só que eu acho que a gente precisa entender que aquilo que a gente faz com a natureza é aquilo que a gente faz com a gente. Por isso que a economia circular, na minha visão, ela é uma nova forma de pensar tudo. Se antes a gente não precisava ter essa preocupação enquanto sociedade planetária, enquanto civilização, porque éramos poucos, e o que a gente devolvia para a natureza depois, a gente não tinha modificado, então aquilo ia se decompor de alguma maneira.
Agora, a gente está devolvendo muito lixo que não se decompõe e somos muitos, somos bilhões de pessoas, então a gente precisa atualizar a nossa forma de pensar para uma sobrevivência enquanto sociedade. Então a gente não primeiro cria fora, primeiro a gente analisa, a gente reflete aquilo dentro da gente, a gente começa a mudar a nossa forma de pensar e aí o que está fora, assim, o que guia a sociedade, seja política, seja economia, reflete a nossa maneira de pensar. E estamos, eu gosto de pensar, em evolução, então, a economia, a forma como a gente beneficia coisas também precisa ser atualizada, não só para o aproveitamento melhor dos materiais, que a economia circular propõe, mas também para esse pensar sobre o consumismo. Por que a gente está fazendo o que a gente está fazendo? E por que a gente consome o que a gente consome?
André: Com certeza. Tem um dado que eu gosto sempre de citar que é o do cheque especial ambiental, a gente sempre fala muito sobre isso, que comprova que a gente está utilizando já muito mais recursos do que é a Terra é capaz de proporcionar para a gente de forma orgânica ao longo de um ano.
E, Cristal, pegando um pouco de carona nisso que a Fe trouxe, eu adoro que você tem um trabalho que está relacionado a compreender a nossa relação com o que as pessoas consideram lixo, com o que a gente se habituou a chamar de lixo, e a sensação que eu tenho é que, no passado, a nossa vida, ela era mais lixo zero, assim, não tinha tanta sacolinha, tanta embalagem. A gente comprava de um jeito diferente. As coisas, elas eram bem diferentes do que hoje. Por que que você acha que a gente chegou nesse ponto de superprodução, de superconsumo, de super descarte? E quais as consequências que você acredita que isso traz para a nossa vida?
Cristal: Bom, eu acho que o reflexo desse consumismo que a gente tem hoje, desse descarte, em que tudo é descartável, né? E realmente, a nossa vida era mais lixo zero antigamente. Hoje em dia, qualquer, literalmente, coisa é muito descartável, né? Antigamente, eletrodoméstico durava 20 anos. Hoje em dia, em poucos anos estraga, né? Umas coisas que eram, assim, os bens de consumo caros, importantes, antigamente duravam muito mais tempo. Hoje em dia, tudo é realmente muito descartável e não tem nem a possibilidade de consertar. Antigamente até se tinha uma possibilidade maior de fazer conserto, de comprar peças.
Hoje em dia, está cada vez mais difícil isso também. Eu entendo que isso aumentou muito com a Revolução Industrial, né? Uma vez que se pode produzir em série as coisas, a sociedade precisava produzir muita coisa, precisava de alguém que consumisse essa coisa, então precisou mudar os hábitos de consumo das pessoas para que elas quisessem descartar as coisas, né? Tem uma série que eu gosto muito que é Mad Men, que fala sobre a vida de uma agência de publicidade e mostra eles criando campanha para fralda descartável, que estava sendo lançada, por exemplo, e aí eles discutem: "Nossa, ninguém vai querer pagar, é muito caro, né?" Mas é uma coisa que super pegou, porque fazia parte de um status, né?
Toda essa campanha de marketing dos produtos de você descartar na época que essas coisas foram criadas, especialmente com as coisas de plástico, tinha essa questão do status de você poder pagar e joga fora. Até hoje isso se mantém, né? Poder compra coisas novas, poder descartar muito facilmente é uma coisa que reflete essa coisa de status, de você poder fazer isso e isso está calcado na base das nossas sociedades que são sociedades capitalistas, né? Que o valor das pessoas está atrelado ao que elas conseguem consumir e que para a gente conseguir consumir muito, tudo vira descartável, porque a gente precisa trocar as nossas ansiedades o tempo inteiro, então a gente precisa estar muito insatisfeito e estar o tempo inteiro precisando consumir coisas novas para que essa roda continue girando. Então, não ter essa circularidade ajuda o sistema a se manter em pé, porque é um sistema que é pensado no desperdício, né? Por isso que é muito difícil a gente pensar soluções a partir...
Dentro dessa mesma lógica, né? Pensar economia circular é justamente reverter, trocar, virar do avesso essa lógica, porque uma vez que você está pensando em produzir mais pensando no uso e no descarte, porque a circularidade vem a partir do uso e do descarte, porque o melhor produto vindo da melhor produção mais ecológica, se não tiver algum jeito de descartar ou se não tiver pensando em ser muito durável, ele vai ter esse penhasco da linha que chega no precipício e puff, cai. Então, para que isso vire uma curva e tenha essa circularidade, a gente precisa fazer o design dos produtos lá no começo.
Tem uma frase que eu gosto muito que fala que todo lixo é um erro de design, porque é isso, se você não faz um produto pensando em que ele pode ser consertado e como ele vai ser descartado e reaproveitado lá no final da vida útil dele, ele vai ser linear, então é importante que essa mudança aconteça de uma forma muito, muito subversiva mesmo da lógica que é atualmente assim, né? E isso é muito difícil inclusive de tentar ser aplicado hoje em dia porque a gente não tem suporte de estrutura logística para conseguir fazer isso. Então se a gente quisesse fazer uma marca agora, como que a gente faria? Às vezes, até tem tecnologia, mas não tem estrutura logística para a gente conseguir fazer isso, mas eu acho que é justamente pensar nisso que faz a gente ter novas ideias e ser mais criativo para conseguir pensar na solução desses problemas. Não é fácil, né? Mas acho que é o jeito de conseguir achar essas soluções.
André: Total, Cristal. Já já a gente vai falar sobre alguns possíveis caminhos e soluções, mas engraçado que enquanto você estava falando, eu estava exatamente com essa frase de que o lixo é um erro de design na cabeça e enquanto você estava falando, eu me liguei que, na verdade, não é um erro de design, é uma intenção. Toda essa dificuldade de a gente poder reciclar, da gente poder reaproveitar as coisas, a falta de conhecimento e até mesmo a obsolescência dos produtos, ela serve a todo esse mercado, ela faz toda essa roda girar, que, como você falou, começou lá atrás, na Revolução Industrial.
E falando sobre eletrônicos, que você citou também, eu recentemente vi uma reportagem que falava desses materiais, do lixo eletrônico, né? Tipo geladeira, computador, TV e coisas afins que estavam indo parar nas margens do Rio Negro no Amazonas porque as pessoas não sabiam como descartar e isso acaba contaminando o solo, o lençol freático, criando uma série de complicações que as pessoas não têm a menor ideia. E eu gostei também que você começou a falar sobre fralda e essa série Mad Men que eu também adoro, e eu queria perguntar agora para a Fe, que eu não sei se vocês sabem, mas acabou de ser mamãe do pequeno Tito, e eu queria que você contasse para a gente, Fe, assim, nessa sua jornada na maternidade, o que que você já está identificando em relação à sustentabilidade e a tudo isso que a gente está falando aqui.
Fe: Bom, é tanta coisa, né? Porque a maternidade, é super clichê isso, mas a maternidade é a uma jornada iniciática, porque você repensa a lente de muita coisa, de tudo, né? E uma das coisas que eu ficava super tensa assim era a questão da fralda, né? Cara, eu vou ter filho e eu vou, assim, eu não vou usar fralda descartável. A fralda reutilizável, ela tem um tempo de duração, até você trocar, menor, então quando você usa durante dia de boas, às vezes de noite, você tem fazer muitas trocas e aí acordar o bebê para isso, é um pouco complexo, daqui a pouco ele cresce mais e dá para usar mais, por isso que muita gente começa a usar fralda reutilizável quando o bebê é um pouco maior. Eu resolvi começar na primeira semana do Tito, porque eu tava muito nervosa. Na primeira semana eles não indicam por conta de você medir quanto xixi sai e aí a outra fralda marca, tem umas questões assim. Mas, de fato, se você pensa só no uso, a fralda descartável, ela está sendo pensada pela indústria há muito tempo, então, assim, ela tem uma cobertura extra seca, que não sei que, que não sei o que lá, que não sei o que lá. O que ninguém diz é: essa cobertura extrasseca muitas vezes é plástico, o que tem ali dentro é agrotóxico e uma série de outras coisas que não vem escrito na embalagem bonitinha com uma foto de um bebê lindo dormindo.
Então, de novo, eu acho que a maternidade provoca essa lente, né? Quando eu estava grávida o que as pessoas mais me perguntavam era se era menino ou menina, qual o nome do bebê e o enxoval. Não sei qual a pira das pessoas com o enxoval. Eu não fiz enxoval nenhum. Aliás, assim, eu comprei, eu não, o meu marido comprou uma roupinha quando a gente descobriu que estava grávidos, da Timirim, que é uma empresa B, que trabalha com algodão orgânico, super fofo assim, quando a gente descobriu que era menino, na verdade, e aí ele comprou. O resto todo do meu enxoval eu ganhei, eu ganhei de outras mães. Então, assim, tem roupa que veio mofada e eu uso, tem roupa que está meio rasgadinha do lado e eu uso, e isso aumenta a circularidade desses produtos, desses produtos circularem mais, porque a moda, o que está sendo produzido pela indústria têxtil é a mesma coisa que está acontecendo com as roupinhas de criança.
E aí você pensa assim, eu ficava pensando muito isso, mas qual é a pira da galera com enxoval, gente? Tipo assim, o enxoval é a última coisa que é importante, o mais importante é você pensar sobre a gestação, sobre o porquê que você está trazendo aquele ser. Então, de novo, a gente mercantilizou a maternidade, que é esta a jornada iniciática de você pensar que você está trazendo uma nova pessoa para o mundo, né? Um novo ser para o planeta, e o que você quer que seja a jornada dessa pessoa, e o que que você quer que seja a sua jornada. Dizem muito "Ah, que planeta a gente vai deixar para os filhos?", mas que filhos a gente quer deixar para esse planeta? Que crianças, que geração a gente quer formar? E começa pequeninho, então, assim, eu preciso comprar uma monte de roupa nova, eu preciso... Não, eu não preciso de nada disso, o que o bebê precisa é amor, ele precisa estar do seu lado a maior parte do tempo possível e, de preferência, de fralda reutilizável, entendeu, na minha visão. Então, eu acho que a maternidade, ela faz um convite à gente pensar ainda algumas casas antes, né? Como que a gente está trazendo novas pessoas para mundo, porque essas novas pessoas, elas são futuro do que está acontecendo hoje, que planeta a gente vai deixar? Mas quem a gente vai deixar para fazer as transformações necessárias nesse planeta, né?
André: É isso, Fe. Muito bom. E muito legal também você trazer essa ideia desses negócios circulares, porque a gente começou falando muito sobre a produção, sobre no final da vida útil de um produto voltar com ele para o início da produção e reaproveitá-lo, mas você lembrou muito bem, e a gente falou sobre isso no episódio de moda com propósito, sobre como a gente pode reaproveitar as coisas também sem precisar transformá-las, sem precisar reciclá-las ou reinseri-las no processo. E é sobre isso que eu queria conversar com você agora, Cristal.
A reciclagem, ela acaba virando meio que o ícone da economia circular, né? Como se tudo precisasse ser feito para ser reciclado, e a gente sabe que, na verdade, a taxa mundial de reciclagem é muito baixa, né? De alguns materiais mais ou menos do que outros. Tem coisas como roupas, por exemplo, que a gente falou no último episódio, que a taxa é baixíssima, mas eu fico pensando que depender desse modelo de reciclagem também é algo que pode ser muito perigoso, quando, na verdade, a gente deveria realmente pensar em produzir menos coisas, você não acha?
Cristal: Total, eu sempre falo que a gente não deveria pensar que a nossa meta seria reciclar mais, a gente tinha que reciclar menos, porque a partir do momento que a gente coloca todas as nossas esperanças na reciclagem, a gente vai pensar "Não, então, a gente pode continuar produzindo toda essa quantidade de produtos, de objetos, de lixo que a reciclagem vai dar conta". Sendo que, na verdade, é isso, a reciclagem é um processo químico, físico, é um processo industrial, é um processo que demanda bastante energia, que demanda luz, que também polui e que não é 100% eficiente, quer dizer, especialmente para alguns materiais, no caso do alumínio, por exemplo, se economiza 90 e poucos por cento de energia, se eu não me engano. No caso do vidro, o vidro é infinitamente reciclável, você quebra e recicla, quebra e recicla para sempre, nunca vai acabar. Você pode fazer vidro a partir de 100% de caco, então, nesse caso, é uma eficiência muito alta.
Mas no caso do plástico, por exemplo, não se tem uma tecnologia atual que faça com que ele seja infinitamente reciclável. A gente tem uma ideia assim de que a reciclagem é uma coisa meio mágica, que a gente põe uma garrafa pet lá, derrete e remolda em outra garrafa pet, não é isso que acontece, né? No caso do plástico, esse é um tipo de material que passa por uma reciclagem que a gente chama de downcycling, que perde um valor. Então o PET entra vira PEAD, que depois virá outro plástico e, assim, isso significa que a gente não está impedindo que esse material vá parar em um aterro, só está retardando um pouco esse processo. Ainda com a taxa de reciclagem super baixa, a gente está retardando muito pouca quantidade de plástico, né?
Tem alguns documentários que saíram sobre isso, tem o "História do Plástico" do projeto Story of Stuff, que mostra quão difícil é reciclar plástico, porque, hoje em dia, não é um tipo, são 45, 80 tipos. Eu lembro muito de uma cena que me deixou, assim, super arrepiada, que eram umas pessoas separando por tipo e, assim, eram dezenas de tonéis de tipos de plástico diferentes. Então, assim, como é um material que é muito químico, que você vai ter que fazer uma mistura química ali, qualquer impureza vai desqualificar aquele material, então por isso que é tão difícil. Se estudam outros jeitos de reciclar plástico hoje em dia para ele virar carbono? Sim, mas não é uma coisa que a gente tem ainda.
E no caso das roupas, também é outro problema, porque são várias fibras diferentes, né? Então como é que desmembra isso? Como é que reaproveita isso de verdade? Eu acho que um dos principais, voltando para o que a gente estava falando antes, de como os produtos foram pensados, é justamente que os produtos não são feitos para serem reciclados, então mistura vários materiais, não é desencaixável, ele é colado, então isso vai impedindo que a reciclagem seja mais eficaz. Se a gente olhar, assim, do que existe hoje de produtos que a gente produz, o que vai ser reciclado, o que tem possibilidade na verdade de ser reciclado é plástico PET, o PEAD, que é tampinha de coisas, que é esse plástico mais grossinho, mais escuro, papelão, vidro em poucas cidades, porque a logística do vidro foi super desmantelada nos últimos anos por causa da existência do plástico inclusive, alumínio e papel, basicamente isso.
Quer dizer, se a gente olha para os nossos objetos ao redor da gente, a gente vê que nunca é só um papel, sempre tem um adesivo, sempre tem um verniz, tem um plástico, tem uma camada disso, uma camada daquilo, então, se a gente dar uma olhadinha, assim, com um pouquinho de atenção, a gente fala "Gente mas como é que isso vai reciclado, né? Como é que isso vai ser desmembrado para isso ser reciclado?". E eu acho que isso é uma questão muito importante porque a gente, às vezes, acha que separar o nosso lixo já é suficiente e quanto mais a gente olhar as embalagens, objetos que a gente consome e voltar para quem produz esses objetos e falar "Olha, essas embalagem que você faz, ela não é fácil de reciclar, quem sabe você muda essa embalagem?". Porque não é só a gente evitar produzir, de produzir lixo dentro nossa casa, né? Isso não vai ser suficiente. A gente tem que botar essa demanda para quem faz de fato essas embalagens, né?
E deixa eu voltar só um passo, porque a Fe estava falando da maternidade e que eu acho que é muito legal que ela falou que pegou emprestado o berço, pegou roupas de outras mães e isso é uma coisa que eu sempre penso muito que eu acho que essa questão da descartabilidade das coisas tem muito a ver com como a gente vive num mundo que é bastante individualista, falta muito essa parte da comunidade, do coletivo, de se ajudar, de trocar. Por que que a gente não tem várias coisas que são coletivas, que são comunitárias, que a gente divide nesse tipo de objeto que a gente não precisa todos os dias, que a gente não está usando o tempo inteiro, né? Essa noção de individualismo também faz com que a gente precise, entre aspas, ter uma coisa de cada e precisa montar um enxoval com as suas coisas novas e não vai reaproveitar de ninguém, porque não tem esse senso de troca mesmo com as pessoas, né? E isso acaba sempre piorando esse sentido porque daí a gente acaba sempre precisando comprar as coisas para ter, porque não consegue emprestar, não consegue trocar, né?
Fe: Eu vejo, Cristal, que, na maternidade, isso é muito forte, essa coisa da comunidade. Eu estou descobrindo um senso de comunidade que eu não tinha antes, porque justamente a criança perde roupa muito fácil, então as primeiras roupas que o Tito usou com um mês não cabem mais nele, ele tem dois meses e meio, então, assim, é muito rápida essa visão, você vê claramente que aquilo não cabe mais, então, por conta disso, as mães não têm, as que eu conheço pelo menos, não têm dinheiro infinito, então, gente, vamos passar para frente, vamos trocar, e aí isso fica muito forte na maternidade, as mães ajudando as outras. Mas é o que você falou, poderia e deveria ser estendido para tudo, mas também não interessa ao sistema que você crie esse senso de comunidade que divide tudo, porque se você divide tudo, se a sua roupa for usada não só por você mas por 10 pessoas, você não compra uma nova.
Então a gente também tem que pensar muito, assim, o quanto a gente é influenciado pelo sistema e pelas redes sociais para criar os padrões de comportamento que a gente criou, né? E a publicidade, minha gente, é a mestra em fazer isso, assim, em gerar desejos, em gerar padrões de comportamento que são completamente antinaturais e que a gente não precisava ter, então eu vi que com a maternidade isso é muito forte assim, esse resgate dessa noção de que a gente não precisa ter tudo, a gente pode pegar emprestado.
André: É isso, muito mais do que uma nova forma de produzir, a gente precisa de uma nova forma de pensar e de ver a vida. Fe, nesse bloco agora, a gente explora alguns caminhos e possíveis soluções para a gente sair dessa e para reverter esse quadro que no caso que a gente está falando aqui hoje é sobre economia linear. No seu livro que você lançou recentemente, o "Homo Integralis", que propõe uma nova história possível para a humanidade, você acrescenta um novo R naquela listinha que a gente conhece bem de reutilizar, reaproveitar, reciclar, recusar, que é o R da regeneração, e eu queria que você contasse para a gente um pouco sobre esse seu livro e sobre a importância da regeneração para uma circularidade nova na nossa vida.
Fe: O livro surgiu com um convite da Editora LeYa, a princípio para fazer um guia, um guia de como viver uma vida com menos lixo, e aí, imediatamente me veio o livro da Cristal em mente. Eu falei: Gente, mas para que que eu vou escrever um livro Menos 1 Lixo, se já existe o livro Uma Vida Sem Lixo de Cristal Muniz, que é maravilhoso... Aliás, para quem tiver ouvindo, é um super guia. Eu quero falar sobre outras coisas que talvez seja o melhor que eu possa, nesse momento, contribuir e comecei a pensar em como trazer esse tema dessa proposta de uma mudança de visão de mundo para as pessoas de forma leve, de forma que elas pensassem sobre aquilo que eu estava falando, né? E também que elas não ficassem de saco cheio daquilo porque pode ser, às vezes, um pouco desafiador pensar sobre isso.
E aí o conceito do "Homo Integralis", ele veio dessa proposta, né? A gente como sapiens, a gente criou esse modelo de vida recentemente da economia linear, por que que a gente tem tanta dificuldade em sair disso? Ou seja, por que a gente tem tanta dificuldade de sair de um modelo que gera mais mortes do que vida, que é o que a gente está vivendo? Porque a gente não se vê como parte desse todo, como parte da natureza. Então, a ideia do "Homo Integralis" é uma nova forma possível da gente sobreviver enquanto humanidade. E aí esse conceito da regeneração, ele é central para isso, porque quando a sustentabilidade foi pensada lá atrás, mais ou menos nos anos 60, 70, esse conceito começou a surgir, depois foi amplamente discutido mais nos anos 90, fazia sentido ainda a gente sustentar o modelo, porque ele ainda não era tão destrutivo.
Hoje, se a gente sustenta o modelo que existe, que o planeta entra no cheque especial todo ano, que a gente faz com que ele entre no cheque especial cada vez mais cedo todo ano, a gente não tem futuro enquanto civilização planetária. Então, a gente já destruiu tanto que a gente vai precisar regenerar, então esse R, na verdade, deveria ser o primeiro R. A gente precisa começar a pensar esse modelo de outra maneira, então a gente precisa regenerar aquilo que a gente destruiu para que a gente chegue num zero a zero, assim, numa base que não destrua, né? Assim, que a gente consiga pelo menos equalizar essa destruição e, a partir daí, a gente pensar em restaurar, a gente pensar em migrar para um modelo que gere mais vida do que morte.
Então resumindo assim, o "Homo Integralis", ele é sobre isso, é sobre como a gente se vê de novo parte da natureza. Ele traz vários casos inspiradores, reais, de pessoas no Brasil, fora do Brasil, de todas as classes sociais, de todos os tipos de ocupação, que já estão fazendo a diferença e ele traz também reflexões, uma delas é sobre a vida em comunidade, a outra é sobre economia circular, a outra é sobre alimentação e sobre, na minha visão, essa importância do feminino, da gente olhar para o feminino que tem dentro de todos nós, não só homens ou mulheres, têm dentro de todos nós e resgatar esse senso de que a gente pertence a uma comunidade para além dos humanos, para além da civilização planetária, da nossa raça humana. A gente tem que incluir todos os outros seres que dividem essa casa com a gente e que a maioria está aqui há bem mais tempo do que a gente.
André: Super, com certeza, e eu super recomendo o livro. Cristal, você tem o projeto "Uma Vida Sem Lixo" que eu gostaria que você contasse para a gente um pouco sobre ele agora e tem algo que você fala, que eu gosto muito, que é sobre a necessidade da gente repensar e compreender a nossa relação com aquilo que a gente considera lixo, também muita gente fala, e esse conceito de lixo, ele não deveria existir. E outra coisa que eu gosto, que você fala também, é sobre a gente ver valor, principalmente valor financeiro, no lixo, que talvez isso seja algo que motive a indústria e motive todo esse sistema a mudar um pouco a forma de pensar e de encarar as coisas.
Cristal: Bom, eu decidi parar de produzir lixo, foi assim...
André: Boa.
Cristal: ...no final de 2014. Eu descobri o movimento Lixo Zero e decidi parar de produzir lixo, como se fosse uma coisa fácil, mas eu tava, assim, precisando de um projeto de ano novo, mais ou menos, foi meio que essa ideia. Na época, o projeto chamava Um Ano Sem Lixo e eu comecei a contar em um blog, porque eu sempre fui do time dos blogs, então eu fiz o blog para contar como que ia ser, as coisas que eu ia descobrindo, e, assim, muito rapidamente, tinha uma porção de gente comentando, lendo, falando e aí isso foi se expandido para todas as redes sociais, né?
A minha ideia sempre foi comunicar o que que eu estava aprendendo e muito mais do que dizer o que que é certo, o que que é errado, mas mais assim, conseguir essa solução para esse problema. Eu sempre quis focar em soluções, então eu sempre quis ter uma abordagem que fosse muito propositiva de uma maneira que eu entendia que a maior parte das pessoas entendia quais eram os problemas. Falar desses problemas que estão tão distante da gente não ajuda a gente a colocar a mão na massa e a colocar em prática, de certa maneira, o que a gente acredita.
André: Sim.
Cristal: Então quando eu descobri o movimento Lixo Zero, eu achei que fazia muito sentido, assim, a gente fazer as mudanças a partir da nossa perspectiva, do nosso dia a dia, inclusive porque isso acaba impactando as pessoas ao nosso redor, seja porque eu comecei a falar isso na internet e aí chega para mais pessoas, seja quando você vai no mercado ou na padaria de sempre e a pessoa pergunta "Mas por que que você está trazendo o saquinho?" ou ela já te conhece depois pelo saquinho de pano, da pessoa que traz o saquinho de pano e fala "Ah, se todo mundo trouxesse seria muito melhor porque a gente não ia precisar gerar tanto lixo", sem você ter explicado assim. Então eu sempre gostei dessa abordagem.
Eu fiz o livro, que a Fe comentou antes, que também chama Uma Vida Sem Lixo em 2018, que é um apanhado de coisas que eu gostaria de ter recebido quando eu comecei a parar de produzir lixo. Então a minha ideia era fazer um guia para as pessoas que queriam aprender a parar de produzir lixo e eu acho que isso faz muita diferença, a gente pensar na nossa ação individual e nossa ação no nosso dia a dia, não só para ficar relativamente tranquilo com relação ao que a gente está fazendo e botar as coisas na nossa vida que sejam alinhadas às coisas que a gente acredita, quanto para comunicar para as pessoas mesmo e para até provar que dá para viver de outras formas.
Eu lembro quando eu fiz umas receitas pela primeira vez, que eu fiquei muito surpresa, né? Por exemplo, de fazer desodorante. Poxa, como assim? Nunca me disseram que dava para eu fazer desodorante, agora eu consigo fazer desodorante, então eu não preciso que uma indústria faça desodorante para mim, dá para resolver esse problema de uma outra maneira. Eu acho isso muito legal para fugir justamente dos gatilhos de consumo porque daí eu preciso de um desodorante e não daquele desodorante, daquela marca, que tem aquela função, que tem aquela embalagem. Eu acho isso muito legal assim para a gente pensar autonomia na nossa... no nosso consumo inclusive, né? Porque a gente não vai deixar de consumir coisas, a gente vai consumir menos ou não ser consumista, no caso, né? Quando a gente pensa lixo, eu acho muito legal olhar o verbete do dicionário das palavras, e no verbete de lixo, fala assim: algo que ninguém quer, algo que está sendo descartado e, por essa lógica, uma coisa que é lixo para mim, não necessariamente é lixo para você, André, nem para a Fe, assim, necessariamente, depende muito da nossa percepção e é meio que isso que acontece mesmo, né?
Tem umas pessoas que fazem trash hunt, que é você abrir sacos de lixo na rua, eu sigo alguns perfis no Tik Tok que fazem isso, e é muito doido porque eles abrem os sacos, e esse perfil, ela leva coisas para casa, tipo ela dá uma olhada e leva para casa. E, assim, tem comida embalada, fechada, dentro da validade, pacotes de comida, assim, do tipo que a loja, sei lá porque motivo, joga fora. Tem pessoas que ao invés de doar coisas, eles jogam no lixo. Decoração, prato, xícara, sei lá, imagine qualquer coisa de casa em bom estado, está lá. Eu lembro muito de um dia que eu fiquei muito surpresa que a Anne-Marie, que tem o @zerowastechef, ela pegou uma máquina de sorvete de uma marca que é super cara, agora eu esqueci qual que é, que estava, assim, na calçada...
André: Uau!
Cristal: ... do vizinho dela, assim. E aí, ela falou "Não é possível, será que está estragada?", levou para a casa, testou e estava funcionando, e falou "Gente, como assim?". É muito interessante a gente pensar isso para a gente tentar não fazer com que as coisas virem lixo, assim. Eu detesto jogar coisas fora, eu acho que esse é um dos principais motivos pelos quais eu comecei esse projeto, eu sempre detestei jogar coisas fora e eu sempre fico tentando estender a vida útil das coisas, eu fico tentando descartar corretamente, eu fico tentando achar outros jeitos e, hoje em dia, isso faz com que eu compre menos coisas para ter que lidar com menos coisas, né? Então quando eu penso "como é que eu vou descartar isso?" e é um jeito difícil, eu já falo "então melhor nem levar para a casa" porque daí se dado momento eu não quiser mais, eu já sei que eu vou me incomodar com aquele negócio ficar parado na minha casa um tempão.
Então se a gente olha para esse viés assim das coisas e se responsabiliza por como descartar as coisas, que é coisa que não acontece normalmente, né? Porque o lixo é meio isso, tirou do nosso campo de visão, já não é mais um problema. Só que a gente não está realmente resolvendo isso, a gente está empilhando em pilhas imensas, quilométricas em aterros ou lixões, às vezes não é nem um aterro sanitário, e não está resolvendo. Para dar o exemplo do alumínio, se a gente está botando lá e não está reaproveitando, a gente vai ter que escavar uma montanha, vai ter que minerar em algum lugar para pegar bauxita, para daí fazer o alumínio, sabe, assim? Então é uma burrice imensa, porque a gente, ao invés de reaproveitar, a gente pega outra coisa nova.
Se a gente pensasse isso dentro da nossa casa, ao invés de reaproveitar uma coisa, pegar uma coisa nova, que é mais cara ainda, né? Provavelmente a gente não faria, então eu acho que é um jeito de pensar o mundo que a gente reaproveita mais e que a gente se responsabiliza e que a gente olha também e pensa "De onde é que isso está vindo? Como que é feito?", porque eu acho que tem uma dessensibilização de como as coisas são produzidas e a gente realmente não sabe como as coisas são produzidas de propósito para a gente não enxergar o impacto delas todas assim.
Eu gosto de falar para as pessoas prestarem atenção justamente nessas nuances dos objetos, assim, para que a gente possa reaproveitar mais e é uma coisa que eu gosto de lembrar bastante de fazer remendos, de manter as coisas, as louças nicadas em casa, de, tipo assim, honrar os defeitos, sabe, das coisinhas que a gente tem para não querer sempre tudo novo e tudo do zero, né? Para a gente aproveitar a história daqueles objetos e manter eles com a gente.
André: É isso, a gente precisa de uma nova forma de pensar, a gente precisa repensar o que a gente considera como lixo e a gente precisa se responsabilizar por aquilo que a gente faz. "O que você faz importa" é uma campanha da National Geographic Brasil, que tem como objetivo engajar e conscientizar as pessoas sobre a importância das suas ações. Esse é o nosso bloco de encerramento e você já deve ter percebido que a gente sempre termina dando dicas práticas do que que a gente pode fazer na nossa vida para preservar a nossa espécie e dar continuidade à nossa vida aqui no planeta.
No episódio anterior, a gente falou sobre moda com propósito e deu várias dicas sobre negócios circulares na moda, como brechós, projeto de troca, de empréstimo, e hoje eu vou falar sobre reciclar. Além das roupas e do plástico, um outro grande problema nos aterros sanitários é o lixo eletrônico, e eu acredito que na sua casa também, é muito provável que você tenha um computador, um mouse, alguma coisa que você não saiba como descartar, como jogar fora. Para você ter uma ideia, em 2019, o Brasil gerou mais de dois milhões de toneladas de lixo eletrônico, isso equivale a 15 mil baleias-azuis cheias de notebook na barriga. E, desse total, 99% foi descartado incorretamente, contribuindo com a contaminação dos solos e das águas.
Buscando solucionar esse problema, existem projetos muito legais, como a Tech Trash, que tem vários pontos de coleta para o descarte seguro de lixo eletrônico e também a plataforma Recicla PC, que eu conheci recentemente, que garante o destino ambientalmente correto de computadores usados, reaproveitando ou reciclando. Como a gente falou aqui, várias vezes, nesse episódio, ao participar desses projetos, você contribui não só com a cadeia de produção circular, mas também com esse novo pensamento circular, reduzindo a quantidade de lixo e a demanda por recursos naturais.
Fe, Cristal, eu adorei a participação de vocês, e, para encerrar, eu queria perguntar se vocês têm alguma dica de algum projeto que esteja relacionado a tudo isso que a gente falou aqui, além dos que vocês já citaram, que você acha que poderia ser importante para as pessoas conhecerem ou também algum livro, algum conteúdo que as pessoas possam se aprofundar mais nesse assunto.
Cristal: Bom, eu acho que eu vou deixar como dica o site eCycle, ecycle com y no primeiro "ci" ali, lá tem um acervo gigantesco de pontos de entrega de vários tipos de resíduo, então tem ponto de entrega de lixo eletrônico, tem ponto de entrega de óleo usado, de, assim, você pode colocar o que você quer descartar e ele vai te dizer, a partir do seu CEP, locais próximos de você.
Isso ajuda muito para conseguir descartar corretamente, porque, como a gente falou antes, tem esses básicos que vão para reciclagem, mas tem pilha, tem bateria, tem lâmpada, tem lixo eletrônico, tem eletrodoméstico, às vezes tem móveis, e, na dúvida, pesquisa antes. Mas, assim, em lugares grandes também, normalmente, têm, pelo menos, pilha e bateria. Então supermercado grande, lojas grandes de móveis e de decoração, descobrir esses pontos e adicionar na sua rotina para você ir fazer isso com frequência.
Fe: Eu queria sugerir o Menos 1 Lixo, né? O site do meu projeto, que tem um monte de dicas sobre descartes, né? E lembrar às pessoas que remédio não se descarta na privada. Isso é um dos maiores erros, a gente está contaminando a água com hormônio, com, enfim, remédio, e isso volta para a gente, porque a gente não tira isso na forma como a gente trata a água no Brasil. Eu não preciso nem lembrar que uma grande população não tem acesso nem à água tratada. Então eu queria fazer esse lembrete, as farmácias são obrigadas a receber e tem várias que tem ponto de coleta, você deixa lá o seu resíduo de remédio.
E, assim, muita gente me pergunta como é que eu começo no rolê. Escolhe uma coisa e vai, não tenta fazer tudo ao mesmo tempo, porque, como a gente falou, é sobre uma mudança da forma de pensar e aí se você não consegue sustentar essa mudança, querendo mudar tudo na sua vida de um dia pro outro, você acaba desistindo e achando tudo muito difícil. A minha mudança foi com copo descartável, eu comecei a usar um copo que andava comigo, um copo retrátil, né? Na época, até as pessoas falaram "Ah, por que você não usa um squeeze?", porque o dia que eu vir alguém levando um squeeze para a night ou pedindo um expresso no squeeze, não precisa de copo na bolsa, nem de caneca, porque aí você resolveu o problema. Como isso não é uma realidade, eu criei o copo do Menos 1 Lixo, mas eu comecei com um hábito e durante muito tempo foi só aquilo para mim, foi só eliminar o copo descartável da minha vida.
Quando a gente começa com um hábito e que a gente persiste naquele hábito, é igual academia, você vai mudando a sua forma de pensar, você vai mudando a forma como o seu corpo funciona e quando a gente desperta para uma nova lente, a gente acaba aplicando ela para tudo. Eu comecei com um copo, hoje tudo na minha vida tem essa lente de como eu posso gerar menos lixo. Eu não vou ser em muitas coisas lixo zero, porque eu não consigo, porque a gente não tem estrutura no Brasil para isso, no mundo para isso, né?
Mas eu vou tentar diminuir ao máximo e eu acho que quando a gente pensa assim, que a gente aplicando uma nova lente, a gente vai ver uma mudança em tudo, uma mudança sistêmica, eu acho que o nosso foco tem que ser isso, como a gente faz essa mudança de forma sistêmica. E também estamos em ano de eleição, então eu não posso deixar de falar que o seu voto faz muita diferença. Por que que é importante o individual? Porque ninguém começa no coletivo, todas as mudanças do coletivo começaram através de pessoas que se sensibilizaram de alguma coisa e trouxeram outras que pensavam da mesma maneira junto com elas. Então o voto importa muito.
A gente tem que se lembrar que é através do voto que a gente vai fazer uma mudança mais rápido e que a gente vai gerar condições para todos os seres que dividem esse planeta com a gente e para os humanos também, de viverem de forma mais integral e digna. Quando a gente pensa que a gente precisa comprar água mineral e gerar um lixo bizarro, que é a quantidade de garrafas de água mineral que a gente compra, porque a água está poluída, porque não tem saneamento, e o povo está fazendo obra de estrada, entendeu, que pode cortar a fita, quem a gente está elegendo? Quem a gente quer que represente a gente? Então eu acho que a maior dica nesse ano é: pense no seu voto, porque ele vale muito.
André: Boa.
Cristal: É muito isso, né? A gente precisa de coletividade para resolver coisas que são tão estruturais. E como que a gente de melhora questões que são regidas por leis? Mudando as leis. E quem é que vai mudar essas leis? Quem tem interesse em mudar essas leis. Muitas coisas não andam no país, no mundo, porque as pessoas que estão lá fazendo isso não estão interessadas em que isso mude.
André: É isso, pessoal. Esse foi o terceiro episódio do Nat Geo Podcast. Eu quero dizer que eu adorei. Muito obrigado, meninas, por esse episódio maravilhoso. Vale lembrar que os novos episódios são lançados às terças-feiras, sempre a cada 15 dias. Vale lembrar também que, no site natgeobrasil.com, você encontra mais informações sobre ciência, viagem, história, meio ambiente. Segue a gente também nas redes sociais @natgeobrasil, segue também as meninas @cristalmuniz, com Z no final, e @umavidasemlixo, e a @fecortez, também com Z no final, e @menos1lixo. Não esquece de seguir a gente também aqui na sua plataforma de streaming preferida para você fica por dentro dos próximos episódios e pode me procurar também nas redes sociais para mandar dúvidas, perguntas, sugestões de novos episódios. O meu arroba é carvalhando. Um beijo e até a próxima.