Relíquias futuristas de um país que não existe mais

Confira a incrível história por trás dos monumentos abstratos construídos na Iugoslávia depois da Segunda Guerra Mundial.

Por Christine Blau
fotos de Sylvain Heraud
Publicado 13 de nov. de 2017, 16:27 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Centenas de monumentos futuristas e estranhos parecem brotar da vasta e variada paisagem da ex-Iugoslávia como ecos sombrios de um país que já não existe. Estendendo-se da atual Croácia e Eslovênia, na costa do Mar Adriático, passando pelos picos irregulares de Montenegro e da Bósnia e Herzegovina, até chegar na Sérvia e na Macedônia, as obras de arte abstratas e ousadas construídas durante os anos 1960 e 1970 destinavam-se a espalhar os ideais e os valores do país para as massas de todo o território.

Para entender o que essas relíquias do passado significam hoje, o fotógrafo Sylvain Heraud viajou para as repúblicas que emergiram da dissolução da Iugoslávia na década de 1990. "A ideia do meu trabalho é destacar esses monumentos e questionar se suas mensagens persistiram após anos", explica Heraud.

Um grande anfiteatro foi construído no centro deste complexo memorial em Užice, Sérvia, para hospedar apresentações educacionais para escolas e reuniões da 'Young Pioneer'.
Foto de Sylvain Heraud

O estilo único dos monumentos iugoslavos – inspirados pelo modernismo ocidental – é muito diferente da arte representativa encontrada em seus vizinhos soviéticos. Afinal, a Iugoslávia era uma anomalia: um estado socialista que permitiu a livre passagem ao Ocidente e promoveu a "autogestão", ao contrário da repressiva União Soviética. Poderes governamentais de todo o mundo criam monumentos em locais públicos importantes para promover uma narrativa particular em uma mensagem acessível para as multidões que passam. Diferentes símbolos na arte pública refletem o estilo particular de regimes passados ou atuais, e observá-los revela camadas de história de um lugar escondido à vista de todos.

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    Em 1978, o presidente da Iugoslávia, Josip Tito, inaugurou pessoalmente este monumento no Monte Makljen, na Bósnia e Herzegovina, onde as forças iugoslavas defenderam o vale do rio Neretva das tropas do Eixo.
    Foto de Sylvain Heraud

    Pesadas, tanto física como conceitualmente, as criações ousadas de concreto transmitem um poderoso impacto visual perto de locais onde ocorreram traumas inimagináveis durante a Segunda Guerra Mundial. Desde então, o revolucionário presidente iugoslavo Josip Broz Tito liderou a sociedade multicultural até sua morte em 1980, tentando suprimir todas as animosidades persistentes da guerra. Ele queria que os monumentos reconhecessem que a guerra estabeleceu a fundação para que a Iugoslávia existisse na sua forma atual, sem favorecer um grupo da sociedade heterogênea em relação a outro. Esses monumentos pretendiam apresentar uma ideia comum e juntar todos sob o grande país da Iugoslávia.

    As imagens de Heraud enfatizam a conexão dos monumentos ao fotografá-los durante a noite, sempre de maneira semelhante. "Eu queria perder as noções de escala e tamanho, me concentrar nos próprios monumentos, como símbolos. Eu trouxe lâmpadas [para iluminar cada lugar] – a luz branca me permite permanecer neutro. No entanto, podemos usar o ambiente verde (árvores) que é um fio condutor em todas as imagens".

    Longe de uma representação simplificada, a série de Heraud irradia luz sobre a singularidade de cada monumento. Tito bem que tentou, mas a posição estratégica da região, historicamente na encruzilhada de grandes poderes, torna difícil apenas uma narrativa prevalecer. Quando morreu em 1980, perturbações políticas e questões não resolvidas causaram a última destruição do país através de amargas guerras étnicas.

    O aço inoxidável sobe a mais de 9 metros do chão, com rostos humanos estilizados para contar a história de um pequeno grupo de soldados partidários tentando se rebelar contra as forças do Eixo em Ostra, na Sérvia.
    Foto de Sylvain Heraud

    Esses monumentos conceituais, originalmente destinados a inaugurar um futuro utópico, perduram. Algumas pessoas os consideram, com certa nostalgia, lembranças de um momento melhor. Outras, no entanto, acreditam se tratar de lembretes dolorosos de um passado indescritível. É por isso que os monumentos estão hoje em vários estados de destruição. Alguns dos memoriais têm cuidadores e museus pequenos, enquanto outros estão em ruínas.

    Esses memoriais incríveis oferecem a qualquer visitante um vislumbre da história da ex-Iugoslávia. Pode ser difícil conhecer a região complicada, e muito mais complicado é encontrar os monumentos, mas o esforço definitivamente vale a pena. Esses monumentos constituem a essência da Iugoslávia.

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