Como os cientistas conseguiram filmar essa incrível lula-gigante

O primeiro vídeo de uma lula-gigante nos mares dos EUA ajudou os cientistas a entenderem melhor os hábitos de caça dessa espécie tão pouco compreendida.

Publicado 28 de jun. de 2019, 12:10 BRT
Como os cientistas conseguiram filmar essa incrível lula-gigante

QUANDO EDIE WIDDER avistou a lula-gigante pela primeira vez, seus tentáculos se esticavam para tentar atacar a isca eletrônica de água-viva em frente à câmera submersa, e ela sentiu que finalmente poderia provar que estava certa.

Após passar anos tentando desenvolver formas de observar os animais das profundezas do oceano, a CEO e cientista sênior da Associação de Pesquisa e Conservação dos Oceanos (ORCA), localizada na Flórida, finalmente descobriu a solução. O sistema de câmera especial desenvolvido por ela, denominado Medusa, emite uma luz vermelha invisível para a maioria das criaturas que vive na “zona batipelágica”, que fica a cerca de mil metros de profundidade da superfície do oceano, uma área completamente escura.

Os olhos das lulas-gigantes são maiores do que os de qualquer outro animal que conhecemos — além de serem extremamente sensíveis, por isso não surpreende o fato de que raramente as vemos, ela conta.

“Nós entramos no oceano com plataformas de exploração e em veículos submersíveis operados remotamente que possuem luzes brancas intensas. Esses animais naturalmente se assustam com tudo isso”, ela disse. “Quando estamos em terra, entendemos muito bem esse conceito. Quando queremos observar animais noturnos, não saímos à procura deles com imensos refletores. Mas, por algum motivo, esse conceito acaba sendo mais difícil nas profundezas do oceano”.

O Medusa contorna esse problema com luzes vermelhas, que não podem ser vistas pela lula-gigante. Isso já havia funcionado antes, quando a imagem de uma lula-gigante foi capturada no litoral do Japão em 2012. Essa foi a primeira gravação em vídeo de uma lula-gigante viva na natureza.

À caça

Essa nova observação é mais uma prova de conceito. Em 19 de junho, o Medusa filmou, pela primeira vez na história, uma lula-gigante viva nos mares dos EUA, a 160 quilômetros do sudeste de New Orleans. Para Widder, essa é a confirmação de que a lula-gigante não é tão misteriosa como acreditávamos.

A observação da lula-gigante foi uma surpresa para Widder e outros exploradores da equipe. E seu comportamento inesperado apresentou um novo entendimento sobre a forma como elas caçam.

“Foi muito empolgante ver aquela lula seguindo e caçando a água-viva eletrônica,” disse Widder. Ela ficou nadando junto à isca por um tempo antes de atacar — o que foi uma surpresa porque os cientistas acreditavam que ela ficasse esperando parada por sua presa para em seguida nadar perto dela.

“Agora estamos aprendendo pela primeira vez sobre como ela sobrevive,” disse Widder.

Um tentáculo na escuridão

Após cerca de 20 horas de gravação na quinta atividade do Medusa, o cientista Nathan Robinson avistou o tentáculo da lula-gigante tentando alcançar a isca na escuridão, entre um camarão e outros pequenos animais que apareceram na tela. Todo o seu corpo apareceu na imagem à medida que ela tentava pegar a água-viva eletrônica. Ao perceber que não se tratava de um alimento, a lula nadou para longe.

Toda essa interação durou menos de 30 segundos.

Robinson não disse nada enquanto observava a tela, mas a expressão em seu rosto fez Widder perceber que ele tinha visto algo incrível. Ela e os outros colegas correram para ver a imagem.

A criatura tinha cerca de 3 metros de comprimento — ela era pequena para uma lula-gigante, que pode chegar a 12 metros. Eles precisavam de uma confirmação para se certificarem daquilo que tinham visto.

Eles tentaram enviar as imagens da descoberta para Michael Vecchione, especialista em cefalópodes do Museu Nacional de História Natural Smithsoniano, mas fortes ventos cortaram a conexão da internet. Em seguida, eles literalmente viram o clarão de um raio.

Uma fumaça marrom-amarelada subiu da antena da embarcação, que estava despedaçada no convés, então a equipe correu para garantir que não haviam perdido essa rara gravação da lula-gigante. Ela ainda estava intacta, e eles conseguiram enviar o vídeo para Vecchione, que, por sua vez, deu a confirmação esperada.

Agora, Widder ri da sorte da sua equipe.

“O fato de existir uma criatura tão grande, tão magnífica e tão incrivelmente peculiar vivendo nas profundezas dos nossos oceanos, e de nunca termos observado uma delas viva, é uma grande coisa,” ela diz.

“Para resumir o que muitos disseram durante a expedição, é como se um raio tivesse atingido o mesmo lugar duas vezes.”

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