Enorme tubarão-branco fêmea impressiona pela barriga avantajada. Ela está grávida ou engoliu uma baleia?

A famosa Deep Blue e outras duas fêmeas grandes foram avistadas próximo à costa do Havaí, um lugar incomum para o encontro desses predadores.

Publicado 8 de ago. de 2019, 17:02 BRT
Enorme tubarão-branco fêmea impressiona pela barriga avantajada. Ela está grávida ou engoliu uma baleia?

Kimberly Jeffries avistou a cachalote morta a quase 800 metros de distância — uma massa branca, do tamanho de um ônibus, boiando nas águas tranquilas do início da manhã.

Era janeiro de 2019, e Jeffries, fotógrafa da natureza e vida selvagem que mora no Havaí, havia chegado ao local, a alguns quilômetros a sudoeste de Waikiki, com o objetivo de fotografar predadores no momento em que se refastelavam da baleia que boiava. Logo após ter mergulhado, algo chamou sua atenção alguns metros abaixo: um enorme tubarão-branco vindo das profundezas em sua direção.

Com cerca de 6 metros de comprimento da cauda à ponta do nariz, tratava-se da famosa Deep Blue, um dos maiores tubarões-brancos já filmados. (A maioria das fêmeas dessa espécie atinge cerca de 4,5 a 5 metros.) Ao longo de três dias, Jeffries e colegas documentaram o extraordinário espetáculo — mantendo uma distância respeitosa — de outras duas fêmeas mais velhas da mesma espécie que também se aproximaram para aproveitar a carcaça da cachalote.

"Foi uma semana rara na qual não havia vento, e o mar estava calmo", conta Jeffries. E isso permitiu imagens submarinhas incríveis, incluindo fotos e vídeos, de Deep Blue e dos demais tubarões-brancos que se alimentavam, oferecendo um momento raro de observação da vida desses grandes predadores.

O ocorrido também é incomum considerando o número e o sexo dos animais avistados. Fêmeas de tubarão-branco parecem ser, em sua maioria, criaturas solitárias. E ao passo que tubarões-brancos  provavelmente visitem o Havaí há séculos, os cientistas acreditam não haver nenhuma população residente.

"Será que existem outras fêmeas pelo Havaí que desconhecemos?" pergunta Christopher Lowe, diretor do laboratório de tubarões da Universidade Estadual da Califórnia, em Long Beach. "Talvez apenas não saibamos que esses animais frequentam o local e essa foi uma rara oportunidade de observá-los".

Embora o tubarão-branco seja a espécie mais famosa de tubarão, há muito que ainda não sabemos — em parte por eles serem difíceis de estudar, pois são elusivos e migram longas distâncias, chegando a percorrer milhares de quilômetros todos os anos.

Ao catalogar esses encontros, os cientistas esperam obter mais informações sobre onde esses animais ficam, ajudando a criar medidas de conservação mais eficazes. O tubarão-branco, listado como vulnerável na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, enfrenta diversas ameaças, incluindo a pesca esportiva e a captura acidental em outros tipos de pesca.

Nas profundezas do mar

Deep Blue — identificada pelas ondulações na lateral de seu corpo cinzento e por sua barriga branca — foi vista pela última vez em 2013, próximo da costa oeste da Baixa Califórnia, no México, perto da Ilha de Guadalupe. Essa região costuma ser um ponto de encontro de tubarões e estima-se que o local seja uma das diversas zonas no oceano Pacífico utilizadas pelos tubarões-brancos para procriação, explica Nicole Nasby Lucas, bióloga do Instituto de Ciência da Conservação Marinha, que estuda os tubarões-brancos de Guadalupe e que recebeu uma fotografia de Deep Blue pela primeira vez em 1999.

Os tubarões-brancos machos passam cerca de seis meses todos os anos próximo da costa, a partir do fim de julho ou começo de agosto. Nessa época, eles se alimentam de leões-marinhos e focas, e provavelmente se acasalam com as fêmeas — embora os cientistas nunca tenham flagrado nenhum casal de tubarões-brancos em ação.

Então, por volta do início de fevereiro, os machos partem para alto mar para passarem a outra metade do ano em um local conhecido como o café dos tubarões-brancos, ou área compartilhada de forrageamento em alto mar — SOFA na sigla em inglês. Com quase o tamanho do estado de Colorado, essa zona está localizada em mar aberto entre o Havaí e a Baixa Califórnia.

Por outro lado, os tubarões fêmeas, como a Deep Blue, seguem um cronograma um pouco diferente. Quando atingem a maturidade, por volta dos 15 anos de idade, as fêmeas somente retornam às áreas costeiras onde os filhotes nascem a cada dois anos, regidas pelo período gestacional, que é bastante longo. Diferentemente das mulheres, que carregam seus bebês na barriga por cerca de 40 semanas, acredita-se que as fêmeas de tubarão-branco tenham uma gestação de cerca de 18 meses.

Durante boa parte desse período, as fêmeas percorrem todo o norte do Pacífico, alimentando-se de tudo o que conseguirem encontrar. E carcaças de baleia são uma importante fonte de alimento para tubarões-brancos grandes.

"É um tipo de banquete oportunista", afirma Lowe.

Grávida ou rechonchuda?

Mas é difícil afirmar se as três fêmeas de tubarão-branco estavam prenhas sem uma amostra de sangue para testar os níveis hormonais, explica Lowe. Tirar conclusões sobre Deep Blue é especialmente difícil devido ao seu porte físico.

Quando um vídeo feito dela próximo da Ilha de Guadalupe viralizou na internet, seu enorme tamanho fez muitos se perguntarem se ela estava grávida. Mas tubarões-brancos fêmeas não voltam a Guadalupe durante o período gestacional, observa Nasby Lucas. Todas as evidências sugerem que elas migrem até o local para acasalar.

Lowe acredita que a questão tenha ficado ainda menos clara após essa última aparição de Deep Blue que evidenciou o seu apetite voraz. "Quando se alimentam assim dessas baleias, elas ficam, literalmente, com uma barriguinha de Buda", afirma ele.

Mas como é normal que fêmeas prenhes circulem em busca de alimentos, afirma Nasby Lucas, "há chances de ela estar carregando filhotes na barriga".

Uma chance aos tubarões

Embora avistar tubarões-brancos próximo da costa do Havaí seja raro hoje em dia, as populações no norte do Pacífico parecem estar aumentando nos últimos anos devido a diversas medidas de proteção, como a proibição, em 1994, de pesca com rede nas águas da Califórnia, observa Heidi Dewar, bióloga marinha do Southwest Fisheries Science Center da Agência Norte-Americana de Administração dos Oceanos e da Atmosfera. (Saiba como o número de tubarões-brancos está aumentando próximo da costa de Cape Cod.)

O último encontro também chama atenção à condição dos tubarões-brancos, e ao fato de as pessoas acreditarem, erroneamente, que eles atacam sem qualquer critério. Ao passo que seja verdade que os tubarões-brancos sejam os maiores predadores do mar, o que exige que sejam tratados com cautela e respeito, sua reputação de assassino pode, às vezes, colocá-los em perigo.

"Os oceanos só têm a ganhar quando fazemos o público se interessar pelos animais marinhos de forma positiva, especialmente os tubarões", afirma Dewar.

"Os oceanos precisam de ajuda".

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