4 mil répteis resgatados vivos em maior operação global do tipo
Forças policiais abordaram traficantes suspeitos em aeroportos, locais de reprodução e lojas de pet em 22 países.
Forças policiais globais promoveram a maior operação contra o tráfico de répteis da história, prendendo 12 suspeitos e recolhendo mais de 4 mil répteis vivos em aeroportos, locais de reprodução e lojas de pets na Europa, América do Norte e outros locais entre abril e maio.
A iniciativa, chamada Operação Blizzard – uma brincadeira com a palavra lagarto em inglês (lizard) – foi coordenada pela Interpol e pela Europol em resposta ao tráfico ilegal de cobras, tartarugas e outros répteis protegidos. O comércio desses animais ameaça algumas espécies de extinção.
O comércio de répteis exóticos explodiu nas últimas duas décadas, com milhões de animais sendo importados – legal e ilegalmente – para a união Europeia e Estados Unidos como animais de estimação. Alguns répteis também são procurados pela pele, transformada em itens de alta costura como sapatos, cintos e bolsas.
Poucas proteções existem para os répteis – apenas cerca de 8% das 10 mil espécies estão incluídas na Convenção Internacional de Comércio de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Selvagens, o tratado internacional que regula a troca comercial de vida selvagem através das fronteiras.
Como parte da operação Blizzard, forças de segurança de 22 países – incluindo Nova Zelândia, Itália, Espanha, África do Sul e EUA, mas não o Brasil – revisaram relatórios de inteligência, cruzaram informações com casos mais antigos, monitoraram redes sociais e conduziram inspeções de locais de reprodução, disse Sergio Tirro, gerente de projetos de crimes ambientais na Europol que ajudou a levantar inteligência para a operação. O compartilhamento de dados entre os países permitiu a identificação de mais de 180 suspeitos.
“Essa operação claramente demonstra o valor da cooperação internacional”, disse Chris Shepherd, diretor executivo da Monitor, uma ONG na Colúmbia Britânica, Canadá, dedicada a combater o tráfico ilegal de vida selvagem. “Também ilustra o tamanho desse comércio imenso e bem organizado.”
Seis prisões já tinham sido feitas na Itália e outras seis na Espanha, e há mais prisões e denúncias por vir, segundo uma declaração da Interpol. Em um caso, de acordo com a Europol, um passageiro de uma companhia aérea tinha 75 tartarugas vivas em sua bagagem e não carregava nenhum documento que o permitiria transportá-las.
“Em geral, nosso alvo não é apenas um passageiro ou indivíduo – nosso foco são grupos de crime organizado por trás do comércio ilegal”, diz Tirro. Mesmo assim, muitos indivíduos identificados não eram líderes das organizações, mas participantes sem muita importância, ele explica. Mas as forças de segurança esperam que esse trabalho ajude a construir casos contra as pessoas mais graduadas coordenam o tráfico ilegal.
As apreensões incluíram mais de 20 crocodilos e jacarés, seis jiboias da areia do Quênia encontradas em aviões de carga nos EUA e 150 itens feitos de pele de répteis – incluindo bolsas, pulseiras de relógio, remédios tradicionais e produtos taxidermizados. Apesar do foco principal da operação ter sido em répteis, as forças de segurança também encontraram outros animais e produtos da vida selvagem: corujas vivas, gaviões, cisnes, marfim de elefante e carne de caça.
Nove répteis sendo contrabandeados do estado americano de Washington para a Colúmbia Britânica foram apreendidos no Canadá, disse Sheldon Jordan, que lidera a unidade de vida selvagem do ministério de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Canadá. Três desses animais já tinham morrido no trajeto, o que revela quão fatal o tráfico ilegal pode ser, diz ele. A operação Blizzard foi conduzida nesta época do ano porque a maior parte do comércio de répteis no Hemisfério Norte ocorre entre a primavera e o verão, quando esses animais de sangue frio conseguem se manter aquecidos o suficiente para sobreviver, diz Jordan.
Apreender 4 mil répteis é significante, nota Shepherd, mas “há milhões de répteis sendo comercializados ilegalmente todo ano”, e o mercado para essas criaturas só aumenta. Desbaratar as redes organizadas que regem o tráfico de répteis e trabalhar nos países onde esses animais são roubados da natureza, diz ele, é essencial.