Nova espécie de anfíbio com focinho de porco é descoberta na Índia

A espécie peculiar vive embaixo da terra e sobe à superfície só para se acasalar.

Por Jason Bittel
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:35 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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O recém-descoberto sapo-roxo-de-bhupathy passa quase toda a vida adulta no subsolo – mas os girinos ficam 4 meses grudados em pedras atrás de cachoeiras.
Foto de Jegath Janani

Cientistas encontraram uma nova e peculiar espécie de anfíbio nos Ghats Ocidentais – a cordilheira no oeste da Índia. O sapo tem a pele brilhante, com coloração roxa, auréolas azul-claro ao redor dos olhos e um focinho pontudo como o de um porco.

Os pesquisadores deram à nova espécie o nome de Sapo-roxo-de-bhupathy (Nasikabatrachus bhupathi), em homenagem ao colega de profissão Dr. Subramaniam Bhupathy, um renomado herpetólogo que morreu depois de se acidentar em uma expedição nos Ghats Ocidentais em 2014.

Apesar de estranho, cada aspecto da anatomia lilás do anfíbio é resultado de anos de evolução. Olhos pequenos, focinho comprido e membros curtos são características que permitem ao bicho passar quase toda a vida sob a terra.

Aliás, esses anfíbios sequer sobem a superfície para comer. Eles preferem usar a comprida língua cilíndrica para capturar formigas e cupins embaixo do solo, segundo a herpetóloga Elizabeth Prendini, do Museu Americano de História Natural e co-autora do artigo que descreve a nova espécie no periódico Alytes.

O sapo-roxo-de-bhupathy é parente próximo de outro sapo-roxo (N. sahyadrensis) encontrado na região em 2003. A descoberta é fruto de uma iniciativa do governo indiano para recolher amostras de DNA de todas as espécies de sapos e rãs do país.

 “Essa linhagem de anfíbios é muito antiga e pouco diversa, por isso essa descoberta é tão especial”, diz Prendini.

Cantando na Chuva

Apenas uma coisa consegue fazer com que o sapo-roxo saia da sua toca subterrânea – a chuva.

Quando a temporada de monções chega, os machos começam a coaxar sob a areia dos riachos das montanhas, segundo Ramesh Aggarwal, autor sênior do novo estudo e geneticista molecular no Centro de Biologia Celular e Molecular (CBCM) em Hyderabad, na Índia.

Os aspectos do sapo – focinho pontudo, olhos pequenos e membros curtos – os ajuda a morar sob a terra.
Foto de Jegath Janani

Depois, as fêmeas se aproximam para acasalar e deixam os ovos fertilizados nos riachos. Em um ou dois dias, os girinos eclodem.

Mas, diferente de outras espécies de sapos – cujos girinos passam os dias nadando em poças e lagos –, o sapo-roxo desenvolve, na fase larval, bocas em formato de ventosa parecidas com as dos peixes rêmora. Eles usam o orifício para aderir às pedras nas cachoeiras formadas pelas fortes chuvas, onde se alimentam de alga com pequenos dentes.

Os girinos, grudados nas rochas, passam cerca de 120 dias na correnteza, de acordo com Karthikeyan Vasudevan, coautor do artigo, biólogo e colega de Ramesh no CBCM.

Esse é o mais longo período que a espécie passa sobre a superfície em toda a vida”, diz Karthikeyan. Depois da fase larval, o sapo-roxo-de-bhupathy se despede do mundo exterior e inicia sua jornada secreta no subsolo.

O maravilhoso mundo dos sapos

“As adaptações dos sapos são incríveis e esta espécie é uma prova disso,” diz Jodi Rowley, bióloga no Museu Australiano e Exploradora da National Geographic – ela não esteve envolvida na pesquisa.

Jodi conta que diferentes espécies de sapos do mundo inteiro são capazes de entocar no subsolo para fugir do tempo seco. O sapo-roxo-de-bhuphaty, no entanto, leva esse estilo de vida ao extremo, vivendo embaixo da terra quase sempre.

A descoberta é particularmente interessante, diz Jodi, porque mostra quão distante essa espécie está dos seus parentes mais próximos.

“Ambas espécies de sapo-roxo evoluíram independentes de outras por um longo período”, diz ela. “O parente mais próximo nem está na Índia, mas nas Seychelles, que é mais perto da África do que da Índia.”

De todo modo, trata-se de mais uma evidência do quão pouco sabemos sobre os anfíbios anuros em geral.

“Apesar de serem os grupos de animais mais ameaçados do planeta – 42% das espécies correm risco de extinção –,ainda nem sabemos quantas espécies de sapos e outros anfíbios existem”, aponta Jodi.

Inclusive, ela afirma que mais de 100 espécies de sapo são descritas em periódicos científicos todo ano. (Muitas outras são descobertas, mas ficam na espera longa e trabalhosa necessária para descrevê-las oficialmente.) Talvez, essa curiosa espécie com nariz de porco vá inspirar uma próxima geração de jovens biólogos.

“É um mundo maravilhoso lá fora, com bichos incríveis, por isso acredito que devemos comemorar as boas notícias”, diz Jodi.

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