Por que as baleias-jubartes gostam tanto de saltar?

As gigantes saltadoras podem ser vistas na costa brasileira até outubro, quando acaba o período de reprodução e elas voltam à Antártida.

Por Léo Merçon
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:35 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Baleia-jubarte salta próximo ao litoral do Espírito Santo. O estado registrou 34 jubartes encalhadas em 2017, número menor apenas que o da Bahia, com 44 casos.
Foto de Leonardo Merçon, Amigos da Jubarte

Você consegue imaginar um animal marinho de 40 toneladas e 16 metros de comprimento, saltar e sair quase totalmente da água? Pois as baleias-jubarte fazem exatamente isso.

Ao pular, esses mamíferos enormes conseguem projetar ¾ de seu corpo para fora da água. Todo ano, de julho a outubro, elas vêm da Antártida para acasalar e dar à luz seus filhotes na costa brasileira, principalmente no litoral sul da Bahia e na costa do Espírito Santo.

Por que elas saltam? Algumas hipóteses tentam explicar este comportamento. Uma delas é que o som do impacto pode servir para atrair fêmeas ou demonstrar força entre os machos. Outra diz que o salto pode ajudar a baleia a eliminar os parasitas e as cracas incrustadas na pele. Me pergunto se algum dia teremos certeza sobre o que esses animais inteligentes e sensíveis querem dizer, ou fazer, com suas acrobacias. Quem sabe um dia aprendemos a nos comunicar com elas? Assim poríamos perguntar porque gostam tanto de pular.

Em busca das gigantes

O sol ainda nem nasceu quando nosso barco deixa a pequena doca de pescadores. Uma manhã fria, a brisa suave faz o amanhecer ainda mais agradável, com os primeiros raios de sol batendo em nossos rostos. Mais um dia no mar, em busca das gigantes voadoras.

Vitória, no Espírito Santo, tem um excelente potencial para o turismo náutico, porém, o turismo de observação da natureza não é tão difundido por aqui. Poucos capixabas sabem que o estado é um dos locais de maior concentração de baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) do Brasil. As expedições que participo colhem informações sobre essa população que se acasala e tem seus filhotes por aqui.

Após 1 hora de navegação, vemos os primeiros borrifos ao longe, frutos da respiração pesada das baleias. A nuvem de gotículas de água com mais de 3 metros de altura é uma das formas mais eficazes de encontrá-las em alto mar. Nos aproximamos do grupo seguindo todas as normas de observação de cetáceos e mantendo as distâncias permitidas. Percebemos que as baleias pouco se importavam conosco, continuando o frenesi do ritual reprodutivo. Com as batidas de nadadeira, de cauda e, eventualmente, grandes saltos, todos no barco ficam eufóricos, mesmo já tendo presenciado o mesmo comportamento dezenas de vezes.

Acredito que minhas imagens possam inspirar pessoas e promover mudanças positivas no mundo. A questão das baleias é um exemplo perfeito. Promovendo o interesse da população pelas baleias e movimentando a economia local em volta do assunto, podemos suscitar o interesse da sociedade na conservação da espécie. Mas para salvá-las, os oceanos precisam ser protegidos. Assim, vários outros seres podem ser beneficiados pelo interesse crescente das pessoas.

As grandonas são animais magníficos, que impressionam pelo tamanho e, ao mesmo tempo, pela delicadeza – podem, com facilidade, assumir o posto de símbolo da conservação marinha.

Explicar a experiência de uma interação presencial com elas é uma tarefa difícil. O tamanho, o barulho, as vibrações, as acrobacias e a intensidade do momento não podem ser traduzidos por textos, vídeos ou relatos. É preciso aventurar-se, ir e sentir o arrepio somado ao frio na barriga – inevitável ao presenciar de perto, e em seu habitat natural, essa incrível criação da natureza.

No final da expedição, que rendeu as fotos que ilustram essa matéria, parei para reparar nas expressões dos membros da equipe. Quase não se falavam. Pareciam estar em êxtase – olhos fixados no horizonte, perdidos nas memórias da experiência que acabaram de ter. Os sorrisos de orelha a orelha eram facilmente explicáveis. Presenciamos o comportamento milenar de um dos maiores seres vivos no planeta. Nós estávamos lá e fomos presenteados com um espetáculo. Tenho a curiosa sensação de que as baleias, deliberadamente, nos permitiram presenciar aqueles momentos.

Léo Merçon é fotógrafo de natureza e conservação e fundador do Instituto Últimos Refúgios. Veja mais do seu trabalho no Instagram.

Conheça mais sobre o projeto Amigos da Jubarte no site e na página do Facebook.

O projeto Amigos da Jubarte é uma realização do Instituto O Canal, com co-realização do Instituto Últimos Refúgios, Instituto Baleia Jubarte e Instituto Ecomaris, com apoio da Vale, Universidade Federal do Espírito Santo e Prefeitura Municipal de Vitória. Além de prever ações de caráter educacionais, científicos e culturais, a iniciativa aposta num novo panorama turístico, pautado no desenvolvimento sustentável, fomentando a indústria limpa e servindo principalmente de vetor para a sensibilização ambiental.

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