Um raro encontro cara a cara com a pantera-da-flórida
Após anos percorrendo locais selvagens, fotógrafo consegue olhar nos olhos de uma pantera em extinção.
EU LEVEI 20 anos para conseguir esta foto. Este é o tempo que sou fotógrafo interessado pela parte selvagem da Flórida, nos Estados Unidos. E esta foi a primeira vez que vi uma pantera na natureza com uma câmera em minhas mãos.
Percorri mais de 3 mil quilômetros pelos locais mais selvagens da região para chamar a atenção para o Corredor da Vida Selvagem da Flórida, uma rede de terras públicas e privadas em todo o estado que mantém a região selvagem da Flórida conectada para os animais silvestres.
Nos últimos dois anos, estive focado na ameaçada pantera-da-Flórida, o último grande felino no leste dos Estados Unidos e subespécie da onça-parda. Hoje, há aproximadamente 200 panteras (contra apenas 30 no início da década de 1990) vivendo principalmente no Everglades, sul da Flórida. Para se recuperar do status de ameaçada, é necessário que haja três vezes mais panteras distribuídas em uma região muito maior.
Com o aumento exponencial da população da Flórida nos próximos 50 anos, espera-se que o estado perca mais de dois milhões de hectares de fazendas, florestas e terras desprotegidas, conforme o estudo Florida 2070. Novas estradas e a expansão dos subúrbios ameaçam isolar os Everglades do restante do continente, impedindo que as panteras se expandam aos seus antigos territórios na Flórida e além.
Felinos pouco vistos
As panteras-da-Flórida são difíceis de serem vistas. Elas se movimentam principalmente à noite, mantendo-se escondidas atrás de uma densa vegetação. Um único macho pode habitar quase 500 quilômetros quadrados.
Para fotografá-las, meu trabalho dependia totalmente de armadilhas fotográficas, isto é, estúdios nas florestas compostos de câmeras profissionais, luzes e um disparador infravermelho de movimento que permitia que os animais tirassem suas próprias fotos ao passarem.
Uma das minhas câmeras está posicionada no interior do Santuário do Pântano de Corkscrew, em Audubon, que oferece um importante habitat protegido no Corredor da Vida Selvagem da Flórida, além de manter afastados os empreendimentos que surgem a partir de Naples.
Eu estava a caminho para trocar as baterias e cartões de memória da câmera quando vi uma pantera sentada na estrada de terra a 180 metros de distância de onde eu estava.
Cheguei um pouco mais perto, parei o carro no acostamento, abri a janela e desliguei o motor. A pantera estava muito longe e por isso usei a lente mais longa que tinha, de 100-400mm, além de um teleconversor de 1,4x, o que me dava um alcance de 560mm.
Quando o animal começou a se aproximar, coloquei a minha câmera em modo silencioso e fiquei atento para que todos os meus movimentos fossem silenciosos e lentos. Na forte luz da tarde, o cenário era claro e desconcertante. Ajustei a abertura para uma profundidade de campo relativamente rasa para minimizar os detalhes em segundo plano, um menor tempo de exposição para evitar que a imagem estourasse, e o sensor de autofoco para uma pequena área, permitindo que eu selecionasse o rosto da pantera, e não o que estava ao fundo.
“Eu estava pronto”
Quando a pantera se sentou a 18 metros de onde eu estava e olhou diretamente para mim, eu estava pronto. Foquei em seus olhos e registrei o momento que ela me proporcionou.
Meu corpo pulsava de energia. Eu já tirei algumas fotografias intensas com minhas armadilhas fotográficas, mas havia um nível de conexão emocional totalmente diferente ao olhar nos olhos desta pantera selvagem enquanto ela olhava diretamente de volta.
Um vislumbre raro na alma da Flórida selvagem.
Carlton Ward Jr. é fotógrafo conservacionista e fundou o projeto Corredor da Vida Selvagem da Flórida em 2010. Ele agora documenta a pantera-da-Flórida com auxílio de financiamento da National Geographic Society.