Cores mais exuberantes dos camaleões não são para camuflagem. Saiba o real motivo

Apesar do que sugerem diversos mitos e vídeos falsos, estes animais têm uma motivação inesperada para exibirem suas cores mais brilhantes.

Por Benji Jones
Publicado 6 de ago. de 2018, 12:33 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um jovem e bem camuflado camaleão-pantera, Furcifer panthera, em seu habitat nativo no Parque Nacional de ...
Um jovem e bem camuflado camaleão-pantera, Furcifer panthera, em seu habitat nativo no Parque Nacional de Amber Mountain, Madagascar. Os animais são especialistas em camuflagem.
Foto de Christian Ziegler, National Geographic Creative

Algumas pessoas são como os camaleões: conseguem se misturar facilmente com qualquer ambiente. Mas serão os camaleões como... os camaleões?

Sim e não, defendem pesquisadores. Ao contrário do que dizem certas crenças bem difundidas, reforçadas pela história do filme Enrolados, da Disney, que conta com um personagem camaleão chamado Pascal, estes lagartos enigmáticos não podem mudar a cor de sua pele para se camuflarem no ambiente.

“As pessoas acreditam que, se você colocar um camaleão em um tabuleiro de xadrez, o animal se esconderá imitando o padrão e as cores, mas é claro que isso não é verdade”, diz Michel Milinkovitch, geneticista evolucionista da Universidade de Genebra e especialista em cores de pele dos animais.

Ele também diz que vídeos do YouTube que mostram lagartos mudando sua cor ao se depararem com diferentes superfícies e objetos “são totalmente falsos”.

No entanto, a habilidade do camaleão de mudar de cor é uma entre melhores, além de ser a mais diversificada, na natureza. 

Embora os animais sejam incapazes de imitar certos detalhes de seu ambiente, como flores coloridas ou folhas individuais de grama, os camaleões podem fazer pequenos ajustes de cor para se camuflarem nos arredores. E as transformações mais impressionantes, que tornaram famosas espécies como o camaleão-pantera, ajudam estes lagartos a defenderem seus territórios e a atraírem parceiros.

Assim, embora eles não correspondam ao que comumente vemos no mundo do entretenimento, seu uso de cores é muito mais impressionante do que as pessoas imaginam. Vamos dar uma olhada mais de perto.

Camuflagem

É praticamente impossível avistar um camaleão. Pergunte para qualquer um que tenha passado algum tempo em campo procurando por eles. “É muito difícil”, conta Milinkovitch.

E há uma boa razão para isso: estes lagartos são totalmente indefesos. Eles não têm uma mordida perigosa, sua pele não está repleta de veneno, e não podem se mover rapidamente. Manter-se escondido é basicamente sua única tática para escapar dos predadores.

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    Um camaleão-folha macho e uma fêmea da espécie Brookesia decaryi. Muitos camaleões já têm peles que lembram seu ambiente, mas eles podem ajustar o brilho da tonalidade de diversas maneiras.
    Foto de Christian Ziegler, National Geographic Creative

    Muito da “camuflagem” apresentada pelos camaleões não requer nenhuma mudança de cor, diz Milinkovitch. Em seu estado natural, eles já se parecem bastante com folhas e galhos, assim como o bicho-pau se parece... com um pedaço de pau.

    Mas estes lagartos possuem a habilidade de ajustar o brilho aparente de sua pele, diz Devi Stuart-Fox, bióloga evolucionista da Universidade de Melbourne que estuda as cores dos camaleões há mais de uma década.

    Quando há menos luz, ela diz, como em uma árvore nas profundezas de uma floresta na região Malaio-Polinésia, células de pigmentação marrons e pretas chamadas melanina chegam à superfície da pele e fazem com que o camaleão pareça mais escuro e, assim, mais camuflado.

    “É como uma lavagem com corante escuro”, diz Stuart-Fox. “É preciso imaginar uma mistura de tintas: se tivermos uma tinta verde e misturarmos mais tinta preta, ela mudará seu brilho e sua tonalidade”.

    Em outras palavras, os camaleões realmente conseguem mudar a cor de sua pele para se camuflarem no ambiente, mas estão limitados a uma pequena variação dentro do círculo cromático. “Os camaleões têm um repertório limitado”, ela diz. “Mas não tenho dúvidas de que, dentro de seus limites, eles consigam mudar de cor para combinar com seu ambiente”.

    O verdadeiro motivo da troca de cor do camaleão
    Descubra as verdadeiras características destes répteis envoltos em muitos mitos em relação às suas cores.

    As apresentações mais elaboradas, como a exibição de diversas cores vivas de uma só vez, são poupadas para um propósito totalmente diferente.

    Show de força

    Os camaleões apresentam dois estados opostos, diz Milinkovitch. Eles tentam ser invisíveis, o que conseguem alcançar com mudanças sutis de cor, ou tentam ser vistos, mais uma vez, pela mudança de cor, mas desta vez muito mais explosiva.

    Nenhuma exibição de cor tem maior destaque contra o fundo verde da floresta do que o da dominância masculina. Camaleões são animais extremamente territoriais. Quando dois machos se encontram, há um espetáculo intenso, neste caso, de cor.

    “Eles ficam loucos”, diz Milinkovitch. “Eles se transformam em amarelo, vermelho e branco, qualquer cor que fique visível na árvore”.

    O macho mais fraco, muitas vezes menor e menos colorido, admitirá a derrota parando sua exibição de cores primeiro, o que indica que ele não quer brigar.

    Mas talvez ele queira tentar outra tática. Pesquisas mostram que alguns camaleões macho usam suas cores para imitar as fêmeas, o que permite que passem desapercebidos por outros machos sem a ameaça de competição, assim como os chocos são conhecidos por fazer.

    Os camaleões também usam suas cores para deslumbrar as fêmeas durante o cortejo. Mas não importa o quão fantástica seja a apresentação, algumas fêmeas não ficarão interessadas, e elas usarão suas cores para mostrar isso aos machos.

    Impressionante

    “As fêmeas reagirão conforme sua disponibilidade”, diz Milinkovitch. Se ela já estiver com o esperma de outro macho em seu aparelho reprodutivo, ele disse, “ela se tornará bastante escura, e muito agressiva”.

    Os machos podem ser violentos, ele disse, então é importante que as fêmeas os evitem caso não haja necessidade de inseminação. Se a fêmea estiver disponível, ela não exibirá muitas cores e permanecerá em um tom marrom-esverdeado, diz Milinkovitch, o que indica submissão.

    Stuart-Fox acredita que a mudança de cor possa servir para mais uma função, mesmo que ainda pouco pesquisada: a de ajudar os camaleões a regularem sua temperatura corporal. Essa característica é comum entre os lagartos. Em um estudo de 2016, ela mostra que dragões barbudos podem alterar a cor de sua pele conforme a temperatura, o que torna improvável que os camaleões não tenham a mesma habilidade, ela diz.

    Um camaleão de Parson, Calumma parsonii, em Madagascar. Os camaleões guardam suas mudanças de cor mais impressionantes para o acasalamento e a competição.
    Foto de Christian Ziegler, National Geographic Creative

    Os camaleões são animais ectotérmicos, ela afirma, não conseguindo reter o calor gerado por seu metabolismo. Em vez disso, eles precisam se aquecer usando o sol. (É por isso que vemos lagartos estirados em pedras no início da manhã em épocas frias).

    Cores mais escuras absorvem mais luz, e é possível que os camaleões tenham evoluído para tirar proveito deste princípio, ela diz. Quando está frio, mas há sol, eles se encharcam de melanina para escurecerem e, assim, acelerar o aquecimento. A não ser quando a cor os faz saltar à vista.

    É provável que o camaleão tenha evoluído a habilidade de mudar de cor para camuflagem, diz Stuart-Fox, mas esse talento agora satisfaz a uma vasta gama de necessidades do animal, como o controle de temperatura.

    Em alguns casos, seu talento satisfaz diversas necessidades de uma só vez. Em 2003, Stuart-Fox encontrou um camaleão anão do Cabo apoiado em um caule escuro de uma flor durante seu trabalho em campo na África do Sul. “Ele estava perfeitamente camuflado”, ela disse, enquanto também podia “absorver o máximo do sol”.

    “Eu acho que os animais nunca deixam de nos surpreender com suas maneiras de realizar várias coisas ao mesmo tempo e ter o melhor de todos os mundos”.

    Um camaleão-de-oustalet, Furcifer oustaleti, em seu habitat nativo no Parque Nacional de Kirindi, Madagascar.
    Foto de Christian Ziegler, National Geographic Creative

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