Será que os ursos-pardos sobreviverão à caça?

Enquanto dois estados americanos planejam a temporada de caça, debate acirrado questiona a sustentabilidade das populações de ursos do parque Yellowstone.

Por Christine Peterson
Publicado 9 de ago. de 2018, 16:11 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um urso-pardo em um campo de flores silvestres no Parque Nacional de Yellowstone, em Wyoming.
Um urso-pardo em um campo de flores silvestres no Parque Nacional de Yellowstone, em Wyoming.
Foto de Tom Murphy

Um urso-pardo de 136 kg foi atraído por uma perna de cervo pungente quando se viu dentro de uma armadilha de aço camuflada, no início de uma manhã de junho, nas profundezas selvagens das Montanhas Rochosas. Ele acordou algumas horas mais tarde com uma tatuagem no lábio, uma etiqueta na orelha, um colar de rádio GPS e um novo nome: Urso-pardo 927.

Pesquisadores dizem que informações coletadas de ursos como este carregam a reposta para o futuro da espécie, depois de quase meio século na lista de espécies ameaçadas de extinção.

Graças, em grande medida, a esses dados, o governo federal agora considera os ursos-pardos do Parque Nacional de Yellowstone, no estado americano de Wyoming, oficialmente recuperados, o que significa que três estados do Oeste estão livres para realizar temporadas de caça altamente regulamentadas aos ursos. Os estados de Wyoming e Idaho estão planejando temporadas de caça aos ursos-pardos no próximo outono do hemisfério norte.

Se os carnívoros solitários sustentam ou não uma temporada anual de caça é um assunto que suscita debate acirrado. Se deixarmos de lado a discussão ética – se as pessoas devem ou não matar ursos-pardos só pelo esporte –, os administradores da vida selvagem dizem que a população deste urso pode, sim, absorver uma caça limitada.

“Os carnívoros grandes nunca carecem de controvérsia”, diz Dan Bjornlie, biólogo de grandes carnívoros do Departamento de Caça e Pesca de Wyoming. “Mas a caça, desde que mantida dentro dos limites de mortalidade, não é uma ameaça”.

Os críticos discordam. O número de ursos pode ser maior do que nos anos 1970, quando a caça excessiva, a expansão humana e um esforço geral pela erradicação de carnívoros vistos como perigosos para os humanos e para o gado provocaram uma queda vertiginosa na população da espécie, chegando a números tão baixos quanto 136 ursos selvagens. Mas isso não significa que eles estejam estáveis ​​o suficiente para permitir a caça esportiva, diz Bonnie Rice, representante sênior do Sierra Club no Greater Yellowstone e na região norte das Montanhas Rochosas.

“Essa população sempre será vulnerável”, diz Rice. “É o segundo mamífero mais lento da América do Norte na hora de se reproduzir... É uma espécie que não aguenta tamanho corte em sua população”.

Uma estimativa “ultraconservadora”

Para além da controvérsia, a maioria dos pesquisadores da fauna silvestre e dos grupos de conservação concordam que a volta do urso-pardo de Yellowstone é uma história de sucesso notável.

Oficialmente, mais de 700 ursos vivem na área de Greater Yellowstone. Pesquisadores dizem que a estimativa é baixa e que até mil deles podem realmente vagar pelas montanhas e vales remotos.

Sua população pode aguentar a caça porque atingiu sua capacidade de suporte em muitas partes do hábitat central, diz Frank van Manen, líder da Equipe Interinstitucional de Estudos do Urso-Pardo, um grupo de cientistas formado pelo Departamento do Interior.

E dados científicos como os coletados com o Urso 927 podem ajudar a administrar a caça de forma eficaz, rastreando não só o número total de ursos, mas também os fatores que afetam a quantidade de ursos que podem ser removidos da população através da caça de forma sustentável, como o número de fêmeas reprodutoras e taxas de sobrevivência de seus jovens.

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    A cada primavera e verão, os biólogos passam vários meses capturando ursos em Yellowstone e seu entorno. Quase todos os ursos recebem colares de GPS ou VHF para rastrear sua movimentação, sobrevivência e reprodução.

    As informações resultantes, combinadas com avistamentos confirmados de fêmeas com filhotes, são inseridas em uma série de fórmulas usadas para estimar as mortalidades anuais e a população total da espécie.

    “Quando criaram as formas de estimativa, eles quiseram ser ultraconservadores, de modo que não seria possível superestimar a população”, diz Bjornlie. “Estamos, atualmente, subestimando e muito a população”.

    Protegendo populações

    Então, o que vai evitar que a população de ursos caia aos mesmos números de décadas atrás?

    Múltiplas salvaguardas, dizem os administradores.

    Os estados do Oeste podem tecnicamente manter a caça se a estimativa da população estiver acima de 600, quando os estados começam a receber uma pequena porcentagem de ursos extras. No entanto, provavelmente não haveria ursos extras em quantidade suficiente para se caçar até que a população chegasse mais perto de 674, diz Bjornlie.

    Este ano, o estado de Wyoming votou para permitir que 10 ursos machos e uma fêmea fossem potencialmente caçados na chamada “área de monitoramento demográfico”, uma faixa de terra relativamente pouco desenvolvida e considerada hábitat adequado, e 12 ursos machos ou fêmeas fora dela. O estado de Idaho optou por uma etiqueta de urso macho, enquanto o estado de Montana se recusou a realizar uma caçada.

    Apenas um caçador por vez pode estar no campo na área central de Wyoming. Se uma fêmea é morta a caça termina, pois seria difícil para os futuros caçadores dizer se estariam mirando um macho ou uma fêmea.

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    Se um caçador em Idaho matar uma fêmea, essa fêmea será subtraída da cota do próximo ano, diz Bjornlie.

    Se a população de ursos-pardos diminuir ainda mais, para menos de 500, eles podem voltar à lista de espécies ameaçadas, na pendência de uma revisão federal.

    Preparando-se para o desconhecido

    Ambientalistas como Rice dizem que essas contingências oferecem pouco conforto. O Sierra Club é um dos vários grupos que estão processando o governo federal para colocar os ursos de volta na lista de espécies ameaçadas de extinção. Um juiz decidirá no final de agosto.

    Rice se preocupa com a falta de diversidade genética – os ursos pardos do Yellowstone estão desconectados de qualquer outra população de ursos – e com as fontes de alimentação em transformação. As mudanças climáticas podem estar reduzindo a safra anual de pinhões, umas das fontes de alimento favoritas do urso-pardo.

    Pesquisadores da equipe interinstitucional dizem que os dados mostram que os ursos estão bem equipados para sobreviver a esses desafios. Quando declina a produção de pinhões, por exemplo, os ursos optam por bezerros de alce ou bisões, diz van Manen. Há ursos-pardos o suficiente em Yellowstone para se evitar a maior parte de endogamia. E o número crescente de fatalidades em ursos jovens é em grande parte atribuível ao aumento da densidade de ursos adultos, que agora, provavelmente, estão matando filhotes.

    Se um caçador puxar ou não puxar o gatilho em setembro, pesquisadores como Bjornlie permanecerão em campo montando armadilhas para ursos como o 927, observando uma das populações de ursos mais estudadas do mundo.

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