Caranguejos-eremitas desenvolveram órgãos sexuais maiores para evitar a perda de moradia

Estudo sugere que os crustáceos com conchas mais valiosas e suscetíveis a roubo evoluíram para poderem acasalar com mais segurança.

Por Jake Buehler
Publicado 26 de jan. de 2019, 09:00 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Como alguns de seus parentes, os caranguejos-eremitas terrestres (Coenobita perlatus) de Seicheles gastam muita energia "reformando" ...
Como alguns de seus parentes, os caranguejos-eremitas terrestres (Coenobita perlatus) de Seicheles gastam muita energia "reformando" suas conchas, das quais são relutantes em sair independentemente do motivo — até mesmo para acasalar.
Foto de Wil Meinderts, Minden Pictures

OS CARANGUEJOS-EREMITAS SÃO comuns em praias quentes, mas muitos desses carismáticos crustáceos possuem algo surpreendente e oculto — um pênis muito grande, às vezes metade do comprimento de seu corpo, ancorado em uma concha. Nova pesquisa sugere que os caranguejos evoluíram e passaram a ter órgãos sexuais maiores para ajudá-los a acasalar sem se distanciar muito de casa.

Alguns desses eremitas gastam muita energia "reformando" o interior de suas conchas, pois, diferentemente de muitos caranguejos, eles não têm sua concha própria, conta Mark Laidre, biólogo da Dartmouth College e Explorador da National Geographic.

Esses animais conseguem talhar suas conchas e secretar substâncias químicas erosivas, o que lhes permite criar um interior liso e com mais espaço. Essas casas reformadas fornecem espaço para eles crescerem e até mesmo para armazenarem ovos — tornando as conchas extremamente valiosas. Em outras palavras, podemos dizer que eles não gostam de deixar o conforto de suas conchas — até mesmo temporariamente — o que acontece quando os caranguejos-eremitas precisam sair para acasalar.

Mas e se eles tivessem um órgão sexual grande o suficiente para se reproduzirem sem precisar sair da concha, que pode ser roubada por rivais?

Diferentes tamanhos

Enquanto estudava os caranguejos-eremitas terrestres no Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsoniano, Laidre percebeu que o tamanho do pênis dos animais, também conhecido como tubo sexual, variava muito. Porém, a espécie que mais fazia essas reformas — e consequentemente possuía as conchas mais valiosas — tinha os maiores órgãos sexuais.

Esse caranguejo macho (Coenobita compressus) possui um pênis proeminente e normalmente carrega uma concha valiosa e bastante suscetível a roubo.
Foto de Mark Laidre

O novo estudo de Laidre, publicado no periódico Royal Society Open Science, sugere que os caranguejos-eremitas desenvolveram genitálias maiores para evitar que ficassem sem teto.

Para testar sua hipótese de "partes íntimas versus propriedade privada", Laidre examinou mais de perto a genitália dos caranguejos terrestres do gênero Coenobita, mas também de um conjunto de caranguejos-eremitas relacionados, em diversos habitats e estilos de vida. Alguns caranguejos modificaram suas conchas em diferentes níveis, ao passo que outros não. Alguns eram minúsculos residentes de poças de maré, e outros, como os Petrochirus diogenes, são grandes animais que vivem no mar.

Laidre também incluiu o caranguejo-dos-coqueiros que é do tamanho de uma melancia — o maior invertebrado em terra firme do mundo — e que não necessita de uma concha para morar.

Ao medir a proporção entre o tamanho do pênis e do corpo de mais de 300 espécimes do museu, Laidre descobriu que quanto mais a concha de uma determinada espécie era talhada, maior era o pênis em relação ao tamanho corporal. Laidre até mesmo descartou hipóteses alternativas que poderiam explicar o padrão, como a possibilidade de o comprimento do pênis aumentar com o tamanho do corpo, ou a influência de determinados tipos de habitat.

Isso faz sentido porque a vida dos caranguejos-eremitas terrestres gira em torno de suas conchas protetoras. Essas criaturas espertas são impiedosas quando o assunto é encontrar e roubar as melhores conchas de seus vizinhos.

Sem aderência

"Eles se envolvem em muitas atividades ilícitas com as conchas, em que os moradores sempre correm o risco de serem despejados", afirma Laidre, que observou que as conchas reformadas são mais suscetíveis a roubo, pois seu interior liso é ainda mais difícil de ser agarrado pelo caranguejo morador.

Possuir uma genitália maior é "realmente uma solução evolucionária bem sensível àquilo que representa uma das situações mais perigosas nas quais [os caranguejos] podem ser envolver", afirma ele.

Perder uma concha reformada faz com que o animal inevitavelmente seque e morra. E os caranguejos se tornaram tão especializados que eles não cabem nem mesmo em conchas que não passaram por melhorias como uma forma de contornar o problema temporariamente. "Se eles perdem a concha, eles morrem em 24 horas".

Portanto, Laidre considera a genitália maior como um seguro cujo objetivo é proteger um investimento importante, reforçado por outros comportamentos que tornam o sexo o mais seguro possível.

De concha a concha

Durante o acasalamento, os dois caranguejos direcionam a abertura de suas conchas um para o outro e ficam o mais próximo possível para permitir que o macho deposite o esperma sem que nenhum dos dois animais precise sair da concha. (Não há penetração no ato). Laidre observa que o processo acontece de forma bastante rápida em espécies com conchas reformadas comparado a outros caranguejos, e é executado em locais reservados, provavelmente minimizando ainda mais os riscos.

O oposto acontece com os caranguejos-dos-coqueiros que, dentre os caranguejos estudados, possuem um dos menores órgãos sexuais em relação ao tamanho de seu corpo. Os caranguejos-dos-coqueiros usam conchas reformadas enquanto jovens, mas deixam de precisar delas quando ficam maiores, antes de atingirem a maturidade sexual. Sem conchas para protegerem na fase adulta, o perigo durante o acasalamento é reduzido, assim como a necessidade de uma genitália maior.

"Achei esse estudo muito inteligente", diz Justa Heinen-Kay, ecologista evolucionária da Universidade de Minnesota, que não participou do estudo. "É bastante impressionante o fato de esses animais terem evoluído e desenvolvido órgãos sexuais maiores para ficarem perto de suas casas durante o acasalamento".

"É bem incomum que um objeto esteja envolvido na evolução de características sexuais", observa Heinen-Kay.

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