Três bilhões de aves foram perdidas na América do Norte desde 1970
Devido à perda de habitat, pesticidas e outros fatores, as primaveras da América do Norte estão mais silenciosas que nunca.
Você pode não ter percebido enquanto caminha por uma floresta ou passeia por um parque da cidade, mas, segundo novo estudo, as populações de pássaros em toda América do Norte estão em um estado silencioso de queda livre.
De fato, comparadas às contagens de aves da década de 1970, os cientistas agora estimam que os Estados Unidos e o Canadá, que abrigam 760 espécies de aves, perderam cerca de três bilhões de aves.
O estudo, publicado na revista Science, analisou uma combinação de pesquisas populacionais de longo prazo, assim como dados de radares meteorológicos, para mostrar a tendência. Em geral, os pesquisadores descobriram que pássaros encontrados em pastagens — incluindo famílias conhecidas como as de pardais, toutinegras, melros e tentilhões - foram as mais atingidas, tendo suas populações cortadas em 53% nos últimos 48 anos.
Com quase três quartos de todas as espécies de pastagens passando por declínio, parece que esses biomas, que incluem os campos de agricultores são especialmente vulneráveis à perda de habitat e à exposição a pesticidas tóxicos. Mas o número de pássaros em queda talvez possa estar ligado à enorme queda nas populações de insetos—uma importante presa aviária, dizem os pesquisadores.
“Devemos ver essa notícia como impressionante e devastadora”, diz o principal autor do estudo Peter Marra, diretor da Iniciativa Ambiental Georgetown da Universidade de Georgetown.
Isso porque os pássaros são cruciais para o funcionamento saudável dos ecossistemas. Nossos amigos emplumados não só ajudam a controlar pragas e outros insetos, mas também desempenham papéis fundamentais na distribuição de sementes, no descarte de carcaças podres e até na polinização de plantas.
O que está matando as aves?
Para o estudo, Marra e seus colegas analisaram estimativas de populações abrangentes de 529 espécies de pássaros, algumas das quais forneceram dados de até o meio século. Também incluíram estimativas de biomassa a partir do radar meteorológico, que podem detectar aves quando as mesmas voam pelo céu à noite, para concluírem suas migrações semestrais. Isso ajudou a equipe a calcular como as populações mudaram em áreas onde o monitoramento no solo é mais escasso, como no extremo norte.
Uma vez que todas as mudanças foram somadas, ela mostrou uma perda de 2,9 bilhões de aves de 1970 – uma redução total de 29%.
Embora as aves norte-americanas sejam muito diversas, existem alguns fatores comuns por trás de suas mortes. “Basta você voar pelo país para ver que nós mudamos drasticamente a face da terra,” diz Marra. “Há muitos habitats que sumiram.”
O uso generalizado de pesticidas não só prejudicou as populações de insetos, mas também as de aves: um recente estudo descobriu que quando as aves comem sementes tratadas com certos pesticidas neonicotinóides, elas imediatamente perdem peso, o que, por sua vez, dificulta a capacidade de migrar.
Outras causas incluem colisões com janelas de vidro, que podem matar cerca de 600 milhões de aves por ano, e gatos domésticos, que devem caçar entre um e quatro bilhões de aves por ano.
Claramente, as mortes estão aumentando.
Ainda não é tarde demais
Lucas DeGroote é o coordenador de pesquisa aviária do Museu Carnegie de História Natural, que administra uma das estações mais antigas e ainda em operação de marcação de aves da América do Norte, na Powdermill Nature Reserve no sudoeste da Pensilvânia. Ele diz que o estudo “não é nada surpreendente.”
“Aqui, nós identificamos pássaros desde 1961 e durante quase 60 anos, estamos capturando um volume menor de pássaros, e a composição das espécies também mudou,” diz DeGroote. “Portanto é ótimo ver uma análise que mostra alguns números disso”.
Apesar da magnitude das descobertas, os dois especialistas acreditam que ainda há tempo para reverter a tendência. Por exemplo, as pessoas “podem manter seus gatos dentro de casa, cultivar plantas nativas e minimizar os impactos das janelas”, diz Marra.
DeGroote acrescenta: “Existe aquele ditado: ‘o melhor momento para plantar uma árvore foi há 20 anos.’ O próximo melhor momento para plantar uma árvore é agora.”
Em outras palavras, as escolhas que fazemos agora determinarão o que acontecerá em seguida. “Eu acho que esse nível de otimismo é necessário para a conservação”, ele diz.