Amor ou curiosidade? Em raro encontro, hipopótamo e hiena dão beijo de esquimó

O estranho evento ofereceu novas percepções sobre o relacionamento entre essas duas espécies formidáveis.

Por Katie Stacey
Publicado 3 de out. de 2019, 17:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Focinho com focinho: Uma hiena-malhada rola de barriga para cima perto de um hipopótamo às margens ...
Focinho com focinho: Uma hiena-malhada rola de barriga para cima perto de um hipopótamo às margens do Rio Luangwa.
Foto de Shenton Safaris

Era um típico safari para o guia Patrick Njobvu, no Parque Nacional South Luangwa, na Zâmbia, quando ele testemunhou algo inédito em seus 23 anos de ofício.

Enquanto ele e turistas observavam, de um veículo, o local em uma manhã de julho, um hipopótamo emergiu do Rio Luangwa e se aproximou de uma hiena-malhada adormecida, mas que logo acordaria.

“A hiena não fugiu e ambos começaram a se cheirar, focinho com focinho, quase como se estivessem se beijando”, contou o guia-chefe no Shenton Safaris à National Geographic por e-mail. Os jovens animais ficaram juntos por quase 20 minutos, encostando seus focinhos, com a hiena rolando e ficando de barriga para cima em um determinado momento. “Foi algo muito estranho”, comentou ele.

Mais tarde, Njobvu descreveu o incidente no blog do safári como um “caso de amor entre a hiena e o hipopótamo”, mas especialistas dizem que é mais provável que tenha sido um caso de curiosidade juvenil.

“Se eu fosse supor, eu diria que o jovem hipopótamo estava simplesmente curioso sobre a hiena, que, por sua vez, não se sentiu ameaçada o suficiente para fugir porque o hipopótamo não estava sendo agressivo”, observa Rob Heathcote, ecologista comportamental na Universidade de Exeter, no Reino Unido.

A curiosidade dos animais jovens vai ajudá-los a testar os limites e a aprender sobre os elementos desconhecidos de seus ambientes. “Porém, não podemos dizer ao certo o que foi essa interação, além de especulações, uma vez que isso é algo muito raro para ser estudado adequadamente”, disse ele.

O fator medo

Arjun Dheer, que estuda as hienas-malhadas na Cratera de Ngorongoro, na Tanzânia, não “duvida de que houve curiosidade mútua”, mas ele acrescenta que ambos animais provavelmente estavam com medo um do outro.

“A linguagem corporal da hiena – orelhas para trás e cabeça inclinada – indica uma resposta submissa ou de medo”, notou Dheer, doutorando no Instituto Leibniz para Pesquisa de Animais Silvestres e de Zoológico na Alemanha.

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Da mesma forma, em uma foto do incidente, o hipopótamo está bocejando, o que pode ser uma demonstração de ameaça. “Os hipopótamos são territoriais e este aqui podia não estar muito feliz com a hiena próxima ao seu lago”, afirmou Dheer por e-mail.

As hienas podem ser os predadores mais bem-sucedidos da África, mas os hipopótamos também podem ser muito perigosos e são responsáveis por muitas mortes de humanos todos os anos.

Dê um beijo de adeus nessa teoria

É possível também que os animais estivessem brincando, um fenômeno observado em várias espécies, desde crocodilos a lontras e cachorros.

Gordon Burghardt, biólogo da Universidade do Tennessee, em Knoxville, desenvolveu uma definição científica para brincadeira: “Comportamento repetitivo e agradável que é similar, mas não idêntico, a outros comportamentos regulares dos animais. Também pode ser visto quando o animal está saudável e não estressado.”

Ainda assim, “o comportamento de brincar é pouco estudado e não sabemos muito bem qual é sua verdadeira função”, disse Heathcote.

Uma coisa que Dheer tem certeza é de que as duas espécies não estão se beijando. “É sempre tentador antropomorfizar os animais, mas não vejo isto como um caso de amor”, afirmou.

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