Como a amizade entre morcegos-vampiros é surpreendentemente parecida com a nossa

Esses mamíferos hematófagos começam a estabelecer amizades devagar e se aprofundam ao longo do tempo em laços que podem salvar vidas, de acordo com estudo.

Por Mary Bates
Publicado 14 de mai. de 2020, 07:30 BRT
Morcegos-vampiros-comuns em uma caverna na Costa Rica.

Morcegos-vampiros-comuns em uma caverna na Costa Rica.

Foto de Nick Hawkins, Minden Pictures

 

Os morcegos-vampiros fazem amizades da mesma maneira que as pessoas, começando devagar e aprofundando-se ao longo do tempo em laços que podem salvar vidas, de acordo com nova pesquisa.

Esses morcegos altamente sociáveis, nativos da América Central e do Sul, já eram conhecidos por manter relacionamentos que duravam décadas, mas os cientistas não sabiam como essas conexões se iniciavam.

Agora, um novo estudo, publicado na revista científica Current Biology, mostra que os únicos mamíferos hematófagos conhecidos do mundo desenvolvem confiança em indivíduos desconhecidos, primeiramente com o processo de catação e depois regurgitando o sangue obtido para compartilhá-lo — um ato de altruísmo para uma espécie que precisa comer a cada três dias. Além disso, o compartilhamento de sangue tende a ser recíproco, sendo que os morcegos são mais propensos a fornecer uma refeição a um parceiro que já tenha lhe oferecido uma no passado.

“No relacionamento entre morcegos-vampiros, observamos que a história das interações é importante e o ambiente social também”, diz o líder do estudo Gerry Carter, ecologista comportamental da Universidade Estadual de Ohio.

A pesquisa apoia uma teoria ecológica relativamente nova, conhecida como “subir as apostas”, que sustenta que animais desconhecidos “testam” o altruísmo primeiramente com comportamentos de baixo risco, ou seja, limpam os pelos uns dos outros, e depois fazem investimentos mais altos, nesse caso, compartilhando comida.

Proposta pela primeira vez em 1998, a teoria pode se aplicar a outros animais sociais — incluindo os humanos.

É por isso que estudar esses hematófagos sociais também pode revelar novas informações sobre a complexidade das amizades humanas, diz ele.

Irmãos de sangue

Para testar como surgem esses laços, Carter e seus colegas capturaram 27 morcegos-vampiros-comuns (Desmodus rotundus) — uma das três espécies conhecidas — de dois locais remotos no Panamá. Animais noturnos, os morcegos galopam pelo chão, utilizando todas as quatro patas para se aproximar da presa. Dentes afiados cortam a veia da vítima sem dor — geralmente gado ou outro animal grande —, permitindo que o sangue que escorre seja lambido com a língua.

No laboratório, os cientistas colocaram os morcegos em pares, cada um proveniente de um local no Panamá, ou em pequenos grupos mistos. Eles então retiveram os alimentos de um dos morcegos e observaram como eles interagiam com seus companheiros de ninho.

Após 15 meses juntos, surgiram alguns padrões. Muitos dos desconhecidos formaram um relacionamento que incluía o processo de catação, mas uma quantidade muito menor de morcegos compartilhou sangue via regurgitação.

O processo de catação sempre acontecia antes de a refeição ser partilhada entre dois indivíduos desconhecidos. E entre aqueles que regurgitaram comida para os outros, a frequência de catação mútua aumentou antes da primeira troca de sangue e depois se estabilizou.

Além disso, é mais provável que as relações entre desconhecidos se formem quando morcegos da mesma família não estejam por perto. Quando os morcegos foram introduzidos como pares isolados, o relacionamento entre eles se formou mais rapidamente e com mais frequência do que quando estavam em grandes grupos.

Subindo as apostas

A teoria de “subir as apostas” é simples e intuitiva: não vale a pena investir muito em alguém que não lhe dá nada em troca, diz Tom Sherratt, cocriador do modelo e biólogo da Carleton University em Ottawa, no Canadá.

“Eles testam a confiabilidade do possível parceiro, fazendo um investimento de baixo nível primeiro para verificar se é recíproco”, diz Sherratt. Caso contrário, nenhum relacionamento é formado e eles seguem a vida.

“É uma estratégia poderosa porque significa que o relacionamento pode evoluir para um de maior confiança, mas também o indivíduo não perde muito se o outro não desejar cooperar.”

Contudo tem sido difícil demonstrar a teoria em animais. Detectar esse padrão significaria introduzir indivíduos desconhecidos ao acaso e monitorar o que acontece por um longo período de tempo — exatamente o que Carter e seus colegas fizeram com sucesso nessa pesquisa, diz Sherratt, que não participou do estudo sobre os morcegos. (Assista a um raro vídeo de morcegos-vampiros se alimentando de pinguins.)

Olho por olho

Algumas pessoas não gostam de admitir, mas a reciprocidade também é parte vital das relações humanas, acrescenta Carter.

“As amizades entre os humanos têm contingências e expectativas sutis, mas não é do interesse de ninguém deixar isso explícito”, afirma ele.

Pense nisso desta forma: “O que aconteceria se um de seus amigos se tornasse completamente não confiável?”, Carter pergunta.

“Se você está investindo alto e ele nunca lhe dá nada em troca, em quanto tempo você começaria a se afastar desse relacionamento e construir outros?”

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