Muitos animais simulam a própria morte — e não apenas para evitar serem devorados

Cobras, aves e outros animais, ao longo de sua evolução, passaram a ter diversos motivos para fingir a própria morte.

Por Christine Peterson
Publicado 6 de mai. de 2021, 17:00 BRT
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Uma cobra-dado finge estar morta perto de um riacho em Creta, na Grécia.

Foto de Blick Winkel, Alamy

De todas as maneiras pelas quais os animais evoluíram para escapar de predadores, fingir-se de morto pode ser uma das mais criativas — e arriscadas.

Cientificamente conhecido como tanatose, ou imobilidade tônica, o comportamento ocorre em todo o reino animal, de aves a mamíferos e peixes. Talvez o animal mais famoso por simular a própria morte seja o gambá-da-virgínia, nativo da América do Norte. Ele abre a boca, põe a língua para fora, defeca e excreta fluidos malcheirosos para convencer o predador de que já passou da data de validade.

Os porquinhos-da-índia e diversas espécies de coelhos também usam essa técnica, assim como diversas cobras, como a da espécie Drymarchon melanurus erebennus. No mundo das aves, os impostores incluem codornas-japonesas, galinhas domésticas e patos selvagens. Alguns tubarões também fingem ter chegado ao fim da vida: se o tubarão-limão for virado de barriga para cima e contido por alguns minutos, fica com o corpo mole, apresentando dificuldade para respirar e alguns tremores.

Dezenas de invertebrados praticam a imobilidade tônica, dessa forma, as espécies desses animais são as que mais apresentam esse comportamento — ou pelo menos são as mais estudadas.

Por exemplo, quando abordados por um predador, os gafanhotos-pigmeus do Japão simulam a morte esticando as pernas em várias direções, tornando quase impossível para as rãs engoli-los.

Em geral, os cientistas não têm conhecimento suficiente sobre esse comportamento intrigante, disse Rosalind Humphreys, estudante de pós-graduação na Universidade de St. Andrews, no Reino Unido, por e-mail. É difícil registrar o fenômeno na natureza e há preocupações éticas sobre a realização de experimentos de laboratório em que predadores atacam as presas, explica ela. Veja o que os cientistas sabem.

“A última chance”

Muitos insetos fingem estar mortos após serem capturados por um predador, um fenômeno chamado imobilidade pós-contato.

Por exemplo, as larvas do formiga-leão da espécie Euroleon nostras — um feroz inseto voador e predador — podem simular a morte por espantosos 61 minutos. Charles Darwin, por outro lado, ficou surpreso ao notar um besouro que se fingiu de morto por 23 minutos.

Funciona mais ou menos assim: um predador, digamos uma ferreirinha-comum, identifica um conjunto de orifícios feitos por larvas de formiga-leão e mergulha para capturá-las. A ave solta a larva, como acontece com certa frequência, e ela se finge de morta.

“É a última chance da sua vida”, diz Ana Sendova-Franks, pesquisadora visitante da Universidade de Bristol no Reino Unido e coautora de um estudo de março de 2021 sobre o comportamento, publicado na revista científica Biology Letters.

A imobilidade pós-contato é diferente de ficar momentaneamente imóvel, “como quando um ladrão entra em sua casa e você congela no lugar para que não seja visto”, diz Sendova-Franks. Em vez disso, muitas vezes trata-se de uma mudança fisiológica involuntária, como diminuir a frequência cardíaca.

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Simular a morte por comida ou acasalamento

Ao passo que a maioria dos animais finge estar morta para escapar do fim, outros encontraram usos alternativos para a técnica.

Veja a aranha-de-jardim por exemplo. As fêmeas costumam atacar os machos. Então, para acasalar, o macho reúne uma certa quantidade de alimento, se prende a ela e finge ter chegado ao fim da vida. A fêmea então rasteja ao redor da comida e do macho supostamente morto. Quando ela começa a se alimentar, o macho volta à vida e tenta o acasalamento novamente — às vezes com sucesso, conta Trine Bilde, professora de biologia da Universidade Aarhus, na Dinamarca. 

“Simular a morte parece ser um esforço de acasalamento do macho, além de, ou em vez de, ser uma estratégia contra predadores”, ela escreve por e-mail. “Talvez tenha ambas as funções.”

Na outra extremidade do espectro está a fêmea da libélula Aeshna juncea, que faz de tudo para evitar o acasalamento: ela se joga no chão em pleno voo para escapar de machos agressivos, que podem prejudicá-la.

O ciclídeo-americano finge a própria morte no fundo do lago para atrair peixes e outras presas. Quando outro peixe chega para dar uma mordida na carcaça, o ciclídeo acorda e ataca. Da mesma forma, o badejo-mira do Brasil simula a própria morte para atrair peixes jovens.

Um método de defesa peculiar, mas bem-sucedido

A imobilidade tônica pode parecer “estranha como ‘último recurso’ de defesa, pois espera-se que as presas quisessem lutar e fugir”, diz Humphreys. “No entanto, a imobilidade tônica pode reduzir a probabilidade de novos ataques de diversas formas.”

Por exemplo, nos experimentos com o formiga-leão do Reino Unido, os cientistas descobriram que larvas que simulavam a própria morte por mais tempo que outras larvas tinham menos chances de serem devoradas por um predador, que foi enganado ou que simplesmente ficou frustrado com a resposta da larva.

Em um experimento de 1975, os cientistas observaram como raposas-vermelhas em cativeiro atacavam cinco espécies diferentes de patos, sendo que a maioria delas se fingia de morta imediatamente quando capturada. As raposas levavam os patos até suas tocas para comê-los mais tarde. Raposas experientes sabiam matar ou mutilar os patos imediatamente, mas as inexperientes, às vezes, soltavam os patos supostamente mortos, permitindo a fuga.

É por isso que Sendova-Franks caracteriza o comportamento como sendo uma última chance. Movimentar-se certamente causará a morte, mas fingir-se de morto traz uma possibilidade — embora pequena — de sobrevivência.

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