Saiba porque esta aranha macho destrói a genitália da fêmea depois do sexo

Algumas aranhas da família Araneidae garantem sua paternidade mutilando a genitália de suas parceiras, a primeira descoberta do tipo na natureza, diz novo estudo.

Por Michael Greshko
As aranhas machos da espécie Larinia jeskovi, como essa, não permitem que suas parceiras sexuais tenham ...
As aranhas machos da espécie Larinia jeskovi, como essa, não permitem que suas parceiras sexuais tenham outros parceiros.
Foto de Gabriele Uhl

Amor complicado – Algumas aranhas machos cortam partes da genitália das fêmeas para evitar que elas tenham relações sexuais novamente, diz um novo estudo.

O comportamento, que garante ao macho a paternidade de toda a cria da aranha, é o primeiro a sugerir que os machos evoluem o comportamento para mutilar as partes externas da genitália das fêmeas.

Publicada no períodico Current Biology, essa descoberta também traz outros detalhes à teoria da seleção sexual – na qual machos e fêmeas de uma mesma espécie competem pelo direito de acasalamento, mesmo que isso leve à morte.

“O tempo todo estamos descobrindo [tais] adaptações novas e surpreendentes,” diz Jutta Schneider, bióloga da Universidade de Hamburgo, que não participou do estudo, mas colaborou com alguns dos autores. “Esta competição tem um poder enorme.”

As aranhas buscam o sexo por maneiras nada convencionais. Elas usam de tudo, desde canibalismo à auto-castração, para arrumar parceiros ou parceiras.

A bióloga Gabriele Uhl e seus colegas da Universidade de Greifswald, na Alemanha, perceberam a situação após examinar amostras de fêmeas de Larinia jeskovi, uma espécie de aranha que cria teias em espiral circular, nativas da Sibéria e do leste europeu. A equipe observou que, após o acasalamento, muitas fêmeas tinham perdido seu scopus, uma região que fica acima da genitália e que se parece com um botão.

Pegos no ato

Para descobrir isso, os pesquisadores pegaram uma L. jeskovi selvagem e a observaram acasalando em laboratório. Quando o macho subiu em uma fêmea virgem com sucesso, os pesquisadores congelaram o casal com jatos de nitrogênio líquido, permitindo verificar microscopicamente a genitália no ato da relação sexual das aranhas.

O congelamento das aranhas durante o ato sexual foi um desafio, pois o ato em si dura apenas alguns segundos. “Tivemos que ser muito rápidos e tivemos muita sorte," diz Uhl. 

Uma aranha macho libera seu esperma pelos pedipalpos, dois anexos que se parecem com pernas, perto da boca, e prendem o scopus da fêmea por cima e por baixo.

As análises mostraram que o pedipalpo da L. jeskovi prende e gira o scopus enquanto o macho se solta, cortando-o como se estivesse usando tesouras. Com esse ato crucial, os outros machos não conseguem se encaixar na fêmea, impedindo que ela tenha outro parceiro sexual.

Esta é mais uma técnica na típica batalha dos sexos entre as aranhas. Muitas fêmeas têm relações sexuais com vários machos, mas fertilizam seus óvulos com o esperma de apenas um deles. A competição já levou machos de algumas espécies a tomar atitudes drásticas, como a auto-castração, a fim de obstruir o sistema reprodutivo das fêmeas.

Contudo, neste caso, os “ machos encontraram uma forma muito inteligente de impedir que as fêmeas tenham outros parceiros sem mutilar a própria genitália,” diz Uhl.

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    (A) Aranha fêmea da espécie Larinia em sua teia. A seta indica sua genitália externa. (B ...
    (A) Aranha fêmea da espécie Larinia em sua teia. A seta indica sua genitália externa. (B e C) Imagens microscópicas mostram a genitália da aranha fêmea com o scopus (Sc) intacto (B) e ausente (C). A seta indica as aberturas para acasalamento da fêmea. Cortesia de Current Biology.
    Foto de Gabriele Uhl

    “Isso é fantástico, brilhante,” diz Scott Pitnick, biólogo da Universidade de Syracuse, que elogiou os cientistas por analisarem a estrutura da genitália das fêmeas e como elas ficam depois do acasalamento.

    “É meio que chocante ver como as pessoas deixam de verificar as relações entre função e estrutura", diz Pitnick.

    Prejuízo ou ajuda?

    Os pesquisadores suspeitam que o fenômeno não é restrito à Larinia jeskovi. As fêmeas de cerca de 80 espécies de aranha têm o scopus vulnerável a danos semelhantes causados pelo macho.

    Mas ainda não é claro se a fêmea está de fato danificada, a equipe só saberá depois de estudar sua expectativa de vida e fertilidade.

    “Ainda estamos analisando essa questão", diz Uhl. “Talvez ela só traga custos, e isso é algo que o macho reclama.”

    Ter apenas uma relação pode até beneficiar a fêmea. Elas podem armazenar esperma viável por anos, portanto, monogamia talvez nem atrapalhe a fertilidade.

    "E deixar de ter relação com outras aranhas machos pode ser uma forma eficiente das fêmeas afastá-las”, diz Pitnick, que encontrou outro benefício para a fêmea não relacionado à questão sexual: ela não vai precisar compartilhar refeições pelas quais ralou tando com pretendentes aleatórios.

    Siga Michael Greshko no Twitter.

    Publicado originalmente em 5 de novembro de 2015.

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