Stephen Hawking, notório físico, morre aos 76

O conceito científico que levou Hawking à sua fama foi a revelação de que o universo começou em uma singularidade, um ponto infinitamente denso do espaço-tempo.

Por Andrea Stone
Publicado 14 de mar. de 2018, 07:38 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O físico em pôster da série "Ciência de Tudo com Stephen Hawking", exibida pelo canal National Geographic.
Foto de Canal National Geographic
Nota da editora: Esta é uma notícia urgente. Atualizaremos com mais detalhes assim que os apurarmos.

Stephen Hawking, o físico teórico britânico que encontrou um vínculo entre a gravidade e a teoria quântica e declarou que os buracos negros não são realmente negros, faleceu nesta quarta-feira, 14, declarou o porta-voz da família a the Guardian e a Associated Press.

"Ele foi um grande cientista e um homem extraordinário cujo trabalho e legado viverão por muitos anos", lembraram os filhos de Hawking, Lucy, Robert e Tim, no comunicado. "Sua coragem e persistência com seu brilho e humor inspiraram pessoas em todo o mundo.

"Ele disse uma vez: 'Não seria muito um universo se não fosse o lar das pessoas que você ama.' Nós vamos sentir falta dele para sempre".

Hawking tinha 76 anos, 50 anos a mais  do que os médicos esperavam que ele alcançaria depois de ser diagnosticado em 1963 com Esclerose Lateral Amiotrófica (ALS), também chamada de doença de Lou Gehrig.

"Poucos, se algum, fizeram mais para aprofundar nosso conhecimento de gravidade, espaço e tempo", disse o astrofísico britânico Martin Rees. Em uma reminiscência para marcar a ocasião do improvável 70º aniversário do colega da Universidade de Cambridge, ele lembrou um jovem que estava instável em seus pés e falou com grande dificuldade. Ninguém esperava que ele vivesse o tempo suficiente para ganhar seu Ph.D.

Embora sua doença degenerativa o paralisasse progressivamente e roubasse sua fala, Hawking fez mais do que sobreviver. Ele se tornou "indiscutivelmente o cientista mais famoso do mundo", comenta Rees, "aclamado por sua brilhante pesquisa, por seus livros mais vendidos [sobre espaço, tempo e cosmos] e, sobretudo, por seu surpreendente triunfo sobre adversidade."

A afirmação científica de Hawking que o levou à fama foi sua revelação de que o universo começou em uma singularidade, um ponto infinitamente denso de espaço-tempo. Trabalhando com o físico e matemático Roger Penrose, ele mostraria que a Teoria Geral de Einstein da Relatividade "o espaço e o tempo implícitos teriam um começo no big bang e um fim em buracos negros", de acordo com o site de Hawking, e que "a forma como o universo começou estava completamente determinado pelas leis da ciência".

No início da década de 1970, ele foi o primeiro a mostrar que a radiação escapa de buracos negros e que os buracos não são completamente negros. Sua teoria explicando o que chamou de radiação Hawking o transformou em uma superestrela do mundo científico.

Declan Fahy, professor de comunicação da American University conta que estuda cientistas como celebridades e intelectuais públicos, "uma contribuição exclusiva para a cosmologia [apenas] à medida que o campo se tornou o lugar mais excitante da física".

Anos depois, Hawking diria que os buracos negros não têm "horizontes de eventos", ou pontos de não-retorno, e que um dos objetos de estudo mais misteriosos do espaço precisariam ser repensados.

Primeiros anos

Stephen William Hawking nasceu em Oxford, Inglaterra, em 8 de janeiro de 1942, data notável para o cientista, já que marcava os 300 anos da morte de Galileu Galilei. O primeiro de quatro filhos de um casal de graduandos da Universidade de Oxford, Isobel e Frank Hawking, ele cresceu em uma família excepcionalmente intelectual que lia livros na mesa de jantar e que, mais tarde, seria descrita por Hawking como “levemente excêntrica”.

Seu pai, um grande pesquisador de doenças tropicais, queria que seu filho estudasse medicina — mas, o jovem gostava das estrelas. Hawking frequentou a St. Alban’s School e depois Oxford, onde estudou cosmologia e lutou contra o tédio antes de se formar com honras.

Ele foi até Cambridge para seu doutorado, recebendo-o em 1966, três anos depois de receber a devastadora notícia de que possuía a doença de Lou Gehrig com 21 anos e um prognóstico de vida de apenas dois anos e meio.

O cientista diria que seu relacionamento com Jane Wilde — que ele conheceu pouco antes de seu diagnóstico — foi o que deu a ele uma razão para viver. Os dois se casaram em 1965 e tiveram três crianças.

Eles acabaram se divorciando após 25 anos de casamento. Hawking casou-se pouco depois com uma de suas enfermeiras, Elaine Mason. O relacionamento, envolto por boatos (depois desmentidos pela polícia) de que sua segunda esposa era abusiva, também terminou em divórcio.

Fama

Hawking tornou-se uma celebridade internacional em 1988 quando foi publicado seu livro Uma Breve História do Tempo. A obra é um guia do universo para leigos que explica complexos conceitos de matemática em termos simples para pessoas fora da área científica — o título vendeu mais de dez milhões cópias e tornou seu nome muito conhecido.

Nos próximos anos, Steven Spielberg produziu a versão cinematográfica do livro enquanto o autor apareceu em uma série de filmes e programas de TV, incluindo a minissérie de seis episódios Stephen Hawking’s Universe. O cosmologista fez o holograma de si mesmo em Star Trek: The Next Generation e seu personagem animado em “Os Simpsons”. No canal National Geographic, apresentou as séries O Mundo Futurista de Stephen Hawking e Ciência de Tudo com Stephen Hawking.

O legado de Hawking não foi baseado apenas em seu trabalho, apesar dele ter sido eleito na idade de 32 anos à prestigiada instituição britânica Royal Society. “Por causa da aparência física dele”, Fahy diz, “ele tornou-se um símbolo de puro intelecto, uma imagem que jornalistas reciclaram muitas vezes. Aquela imagem conectou pessoas ao redor do mundo.”

Tudo isso descontentou muito colegas físicos de Hawking, que consideravam as comparações com Einstein “exageradas demais”.

Ele era “um símbolo de superação de uma grande dificuldade e isso, obviamente, você precisa admirar”, diz Virginia Trimble, uma astrônoma da Universidade da Califórnia, na cidade de Irvine, que foi colega do cientista em Cambridge. “Mas não acho que seu trabalho o teria elevado tanto se ele o tivesse feito sendo alguém que pode ir esquiar todo fim de semana.”

Hawking admitiu que ele “se encaixava no estereótipo do gênio desafortunado”, mesmo nunca tendo deixado sua cadeira de rodas o impedir de fazer qualquer coisa. Ele viajou o mundo dando palestras, sempre acompanhado por um grupo de cuidadores. Em Cambridge, ele ocupou a cadeira de professor lucasiano de matemática, cargo ocupado por Isaac Newton, e foi diretor de pesquisa no Centro de Cosmologia Teórica da universidade.

Anos mais tarde, Hawking perdeu completamente sua habilidade para falar após um ataque de pneumonia e precisou de uma traqueostomia para ser resolvida. Comunicar-se, então, levou cada vez mais tempo. Perto do fim, ele conseguia formar apenas uma palavra por minuto usando um aparelho de gerador de voz controlado pelo músculo de sua bochecha direita. O medo de que o brilhantismo de Hawking ficasse “preso” em seu corpo incentivou alguns esforços para encontrar jeitos de preservar sua habilidade de expressar-se.

Antes de seu declínio final, Hawking escreveu em seu website que foi o sintetizador de voz que o manteve conectado com o mundo.

“É o melhor que já ouvi”, escreveu ele, “apesar de me dar um sotaque que já foi descrito como escandinavo, americano ou escocês.”

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