Você ama ou odeia café? A genética tem a ver com isso

Cientistas estão descobrindo como a agitação, a insônia e até o sabor amargo são influenciados por pequenas variações em nosso código genético.

Por Michelle Z. Donahue
Publicado 7 de nov. de 2018, 17:30 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O gosto ou não por café pode ser influenciado por sua sensibilidade genética à cafeína.
O gosto ou não por café pode ser influenciado por sua sensibilidade genética à cafeína.
Photographs by Mark Thiessen & Rebecca Hale, Ngm Staff

Uma xícara de café quente é uma parte necessária da rotina matinal de milhões de pessoas ao redor do mundo. E com o início do horário de verão bagunçando um pouco nosso sono, muitas pessoas acabam tomando xícaras a mais de café para vencer a sonolência.

Mas, para algumas almas privadas de sono, uma xícara de café nunca é a resposta. Não importa a quantidade consumida, até mesmo uma pequena quantidade de cafeína pode deixar essas pessoas agitadas ou mantê-las acordadas a noite toda. Por que a cafeína afeta as pessoas de maneiras tão diferentes? A resposta, em parte, está em seus genes.

“Estamos descobrindo que temos fatores genéticos embutidos que nos ajudam a autorregular nosso consumo de cafeína,” diz Marilyn Cornelis, uma pesquisadora de cafeína na Universidade Northwestern em Chicago, Illinois. “É interessante como é forte o impacto que nossa genética tem sobre isso.”

Com o tempo, consumidores regulares de café desenvolverão um nível de tolerância para cafeína que pode ser revertido apenas cortando o cafezinho diário. Mas se você evita o café porque ele deixa você ansioso, sem sono ou enjoado, pode ser devido a variações tão pequenas quanto um único nucleotídeo em seu DNA – o A, G, C e T do alfabeto genético.

Tudo começa com como seu corpo lida com a cafeína circulando em seu sistema. Esse é o trabalho do seu metabolismo e em relação à cafeína, apenas dois genes fazem a maior parte do trabalho. CYP1A2 produz uma enzima no fígado que metaboliza aproximadamente 95% de toda cafeína ingerida. AHR controla o quanto você produz dessa enzima. Juntos, esses genes controlam a quantidade de cafeína que circula na sua corrente sanguínea e por quanto tempo.

“Para alguém que tem uma variante genética que leva a um metabolismo de cafeína reduzido, é mais provável que eles consumam menos café comparado a alguém que tem uma variante genética que leva a um metabolismo de cafeína aumentado,” diz Cornelis.

Em outras palavras, se você tem um metabolismo acelerado – ou se você fuma, o que aumenta o metabolismo – a cafeína não ficará tempo suficiente no seu sistema para afetar profundamente seus centros de estímulo cerebral, então você pode querer tomar outra xícara. Mas se você produz menos dessa enzima que elimina a cafeína, mais da substância vai circular por seu corpo por mais tempo, o que significa que isso pode afetá-lo por mais tempo.

Ajuste de atitude

Um grupo de genes completamente diferente foi envolvido em como a cafeína afeta a atividade cerebral e premia os centros, assim como outros efeitos colaterais como ansiedade, insônia e dor de estômago.

Adenosina, uma das culpadas pela sonolência matinal e pelo sono pós-almoço, desacelera a atividade nervosa e bloqueia a liberação de muitas substâncias que causam bem-estar no cérebro, incluindo a dopamina. Mas quando a cafeína está circulando em sua corrente sanguínea, ela facilmente toma o lugar da adenosina nos receptores em seu cérebro e em outros lugares de seu corpo, aumentando o período em que você fica acordado.

A expressão dos receptores de adenosina é regulada por um gene conhecido como ADORA2A e vários estudos apontam para variantes nesse gene influenciando sua reação à cafeína. Pode ser uma das razões que algumas pessoas têm insônia mesmo depois de um gole de café pela manhã. Também foi descoberta sua influência na ansiedade – um estudo de 2008 descobriu que 150 mg por dia, ou o mesmo que um cappuccino médio do Starbucks, pode causar ansiedade nas pessoas com certa variante do gene. Outro estudo envolveu variações nos receptores de adenosina com síndrome do pânico em algumas pessoas.

Dessa maneira, algumas pessoas evitam o café simplesmente porque elas o associam a efeitos colaterais negativos, como mostrou um estudo na Pharmacological Reviews em abril.

 “O consumo de cafeína varia amplamente como uma função tanto para o país como per capta,” escreve Astrid Nehlig, uma pesquisadora de cafeína no Instituto Francês de Saúde e Pesquisa Médica, e autora do artigo de abril. “Essa variabilidade pode ser em parte ligada ao fato de que algumas pessoas sofrem efeitos colaterais como ansiedade, taquicardia e nervosismo depois de consumir cafeína.”

As variações no gene receptor de dopamina DRD2 também podem influenciar sua devoção ou aversão ao café. Cornelis também descobriu que o gene ABCG2, que está envolvido no transporte de compostos pela barreira sangue-cérebro, pode afetar a quantidade de cafeína que chega ao seu sistema nervoso central.

Acorde e sinta o café

Cafeína à parte, o café em particular pode ser uma bebida polarizada por causa de seu sabor e aroma – outro grupo de fatores que são influenciados por nossos genes.

Em um estudo no Centro Monell na Filadélfia, a pesquisadora de sabor e aroma Danielle Reed observou a atividade dos genes conhecidos por estarem envolvidos na percepção do sabor amargo em um grupo de consumidores de café. Quando bebiam cafeína pura, os participantes que bebiam mais café diariamente classificaram as amostras de sabor como mais amargas do que aqueles que bebiam menos café.

Quando o grupo de Reed observou os genes correspondentes de receptores de amargo, eles descobriram que esses genes eram mais ativos em grandes consumidores de café. Mas outros participantes do estudo não tinham o gene variante capaz de sentir o amargo da cafeína. Isso significa que era esperado que essas pessoas gostassem mais de café?

“Apenas 15% do amargo do café vem da cafeína e os outros 85% são de outra paleta de compostos amargos,” diz Reed. “Há muitos receptores de amargo diferentes, mas também há muitos amargos diferentes no café. Então, você também precisa observar a genética café por café, porque cada café é diferente.”

A cafeína também pode influenciar as vias sensoriais de algumas pessoas de uma forma que ainda não entendemos completamente, diz Reed. O composto não apenas se liga à superfície das células receptoras, mas também pode entrar na célula, onde sua influência contínua não é clara.

 “Se você tem muita sensibilidade ao amargo, embora você tenha mais inclinação para perceber o amargo do café, você pode continuar gostando de café por condicionamento ou pelos efeitos farmacológicos da cafeína,” diz Reed.

 “Ou talvez você seja apenas uma dessas pessoas que tem uma apreciação sutil das comidas que permite que você sinta a amargura e o prazer ao mesmo tempo.”

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