Como fotógrafos capturam um mundo cercado por doenças infecciosas
Com a disseminação do coronavírus, profissionais não podem se deixar abater pela paranoia para que consigam mostrar o rastro devastador da doença.
PARA ESSES FOTÓGRAFOS, não é guerra, mas também pode ser mortal.
Para mostrar os efeitos de doenças infecciosas no mundo, os fotógrafos da National Geographic ficam próximos de surtos de doenças e vírus mortais, alguns não muito diferentes do coronavírus visto nas últimas manchetes, que causa uma doença semelhante à pneumonia.
Por mais difícil que seja o fotojornalismo, há uma certa paranoia que se intensifica quando você está perto de uma doença mortal, diz Nichole Sobecki. A fotógrafa sediada no Quênia trabalhou no semestre passado para a National Geographic em hospitais, centros de tratamento e cemitérios da República Democrática do Congo, cobrindo o atual surto de ebola em meio a conflitos.
“Há um momento”, diz Sobecki ao meu colega David Beard,” em que você começa a suspeitar que tudo ao seu redor pode estar infectado com o ebola. O tecido da sua camisa, a alça da câmera, a maçaneta da porta do seu quarto, até a sua própria pele — tudo começa a parecer sinistro. Foi essa leve paranoia, até mesmo dentro de mim, que me ajudou a entender como uma sociedade pode se apegar a uma mentira e ater-se a ela com firmeza, e como boatos falsos podem levar a uma violência muito real.”
Lynn Johnson, que cobriu matérias para a National Geographic sobre a SRAG, a gripe aviária e a varíola dos macacos, entre outras, se sensibilizou ao fotografar Norbert, um jovem do Congo “que estava sofrendo terrivelmente com varíola dos macacos. Tão corajoso”, lembrou ela na sexta-feira. Ela também precisou se concentrar na cobertura de “doenças armadas”, como o ebola, a febre de Marburg e a varíola. “Como se não houvesse perigo suficiente na natureza, ainda existe algo mais virulento que elimina uns aos outros”, disse Johnson.
Sobecki e Johnson estavam dispostas a trabalhar um pouco mais, mas o colega Joel Sartore, mais conhecido por sua coleção Photo Ark de mais de 9,8 mil espécies vulneráveis, havia sido exposto à febre de Marburg, da família do ebola. “Tivemos que levá-lo no primeiro voo que partia de Uganda e ele ficou em quarentena em sua casa”, diz a editora de fotos Kathy Moran. Mais tarde, Sartore teve que passar por um tratamento semelhante à quimioterapia, que durou meses, para se livrar da leishmaniose, um parasita transmitido pela picada de flebotomíneos.
“Quase todos os nossos fotógrafos foram expostos à malária, dengue etc.”, diz Moran.
Para os fotógrafos e repórteres presos entre as 36 milhões de pessoas afetadas pelo isolamento de treze cidades da China central, epicentro do recente surto, Sobecki tem um conselho:
“Fiquem calmos, sigam as recomendações dos profissionais de saúde e saibam a diferença entre compartilhar histórias importantes e contribuir para a disseminação do medo. O maior desserviço àqueles que vivem em meio a um surto infeccioso é usar sua situação, que é muito real e complicada, para transformá-la em uma fantasia cheia de horror.”