É preciso cancelar as viagens de férias por causa do coronavírus?

Declarada a pandemia do Covid-19 pela OMS, famílias estão considerando diversos fatores para decidir se devem viajar ou não.

Por Matt Villano
Publicado 11 de mar. de 2020, 15:25 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Ainda antes das novas restrições de viagem entrarem em vigor na Itália em 8 de março, ...
Ainda antes das novas restrições de viagem entrarem em vigor na Itália em 8 de março, um passageiro aguardava um trem na principal estação ferroviária de Milão.
Foto de Alessandro Grassani, T​he New York Times, Redux

Para Jessie Nagel, seu marido e sua filha de 14 anos, obcecada pela cultura japonesa, era para ser uma viagem de férias memorável: uma excursão em família da Califórnia para Tóquio.

 

A família de Los Angeles fez reservas para férias com diversas atividades: um passeio de barco passando pelas cerejeiras em flor do Parque Chidorigafuchi, um passeio pela região de Harajuku, uma volta pela rua comercial Nakamise e um plano em família de comer ramenokonomiyaki (crepes salgados) pelos bairros.

Então, a propagação do Covid-19 começou e os planos foram por água abaixo.

Quanto mais relatos de casos na Ásia, mais Nagel se preocupava com a possibilidade de contágio caso viajassem para lá. Ela também estava preocupada com a experiência como um todo. Amigos nos Estados Unidos e no Japão comentaram que os locais de visitação poderiam estar fechados e que as ruas poderiam estar assustadoramente vazias porque os moradores não sairiam de casa. Nagel começou ainda a temer ficar em quarentena ao retornar aos EUA, justamente devido ao destino de viagem da família.

Por fim, Nagel, chefe de uma agência de comunicações, acabou desistindo.

“Cancelamos o hotel sem dificuldades, mas agora vou verificar os voos”, disse ela. “Aproveitamos uma grande promoção (um total de 1,8 mil dólares para nós três), mas ainda é um valor muito alto para se abrir mão.”

Trabalhadores desinfetam a igreja de San Domenico Maggiore, em Nápoles, no dia 6 de março.
Foto de Salvatore Laporta, KONTROLAB/LightRocket/Getty Images

Famílias avaliam opções

Nagel e sua família não são os únicos viajantes que estão na dúvida sobre alterar ou remarcar seus itinerários de férias.

Alguns, como Nagel, cancelaram a viagem para minimizar os riscos. Outros aguardam para ver o que vai acontecer, formulando planos alternativos, caso haja um agravamento na propagação do corona vírus. Outros ainda abandonaram completamente a ideia de viajar — ao menos num futuro próximo. E alguns aventureiros persistem apesar das notícias sobre a propagação do vírus.

A situação é desanimadora. Até a publicação dessa reportagem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia registrado mais de 118 mil casos do vírus e mais de 4,3 mil mortes, e declarado o surto de Covid-19 uma pandemia. Embora a maioria dos casos tenha sido relatada na Ásia (a doença foi notificada pela primeira vez em 31 de dezembro de 2019, em Wuhan, na China), a OMS identificou casos em mais de 100 países ao todo.

Além disso, em 8 de março, o Departamento de Estado dos EUA desaconselhou viagens em navios de cruzeiro para cidadãos dos EUA, onde houve a incubação de muitos casos. Em 9 de março, a Itália se tornou a primeira democracia ocidental a impor confinamento a um país inteiro desde a Segunda Guerra Mundial.

Segundo especialistas, os sinais de infecção incluem sintomas respiratórios, febre, tosse e falta de ar. oficial do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA informou que o vírus é mais perigoso para idosos e portadores de doenças crônicas como doenças cardíacas, diabetes ou doenças pulmonares.

Por todos esses motivos, muitas faculdades cancelaram os programas de estudos no exterior no período de março a junho. Grandes eventos também foram suspensos: em 6 de março, os organizadores do festival anual de música, tecnologia e cinema SXSW, em Austin, Texas, cancelaram todo o evento pela primeira vez em seus 34 anos de história.

Os cancelamentos levaram alguns viajantes a trocar de itinerário.

Veja, por exemplo, Vanessa Zimmerman, residente da cidade de Nova York. Ela, o marido e os três filhos (com 6, 10 e 13 anos) planejavam passar as férias no início de abril em Palm Springs, na Califórnia e na Disneylândia. Após observar as mudanças de planos de grandes empresas, a família mudou tudo: cancelou o destino original e fez reservas em um pequeno resort em Long Boat Key, na Flórida.

Embora a família provavelmente tenha que pagar taxas de alteração de voos, Zimmerman acrescentou que essa despesa vale a pena pela tranquilidade.

“Ainda estou receosa por viajar com três filhos, mas quero tocar a vida em frente e não ficar neurótica”, afirmou Zimmerman, executiva de desenvolvimento de uma organização sem fins lucrativos. “Com tudo o que está acontecendo, não queríamos ir para um local onde não fosse possível voltar para casa de carro, caso necessário”.

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    Na Itália, duramente atingida pelo coronavírus, atrações como o Parque Arqueológico de Pompeia tiveram uma queda de mais de 75% nas multidões de turistas.
    Foto de Jonathan Perugia, In Pictures/Getty Images

    Indústria do turismo

    Na indústria do turismo, as organizações não perderam tempo para emitir alertas, ainda que não tenham ido tão longe a ponto de fazer recomendações a respeito das férias de primavera no Hemisfério Norte.

    Por exemplo, a Associação de Viagens Familiares (FTA, na sigla em inglês) — uma organização que trabalha com fornecedores que atendem grupos de famílias — publicou uma declaração no Facebook em 1o de março que essencialmente incentivava as famílias a se manterem informadas com as atualizações da OMS e a tomar precauções para minimizar o risco.

    Colleen Hodson, diretora executiva, afirmou que, embora a FTA não possa aconselhar ninguém sobre a opção certa para cada família, ela pode fornecer sugestões racionais e coerentes. “Viajar com crianças durante um período em que muitos temem possíveis riscos à saúde — por menores que sejam — é uma decisão extremamente pessoal”, disse ela. “Sugerimos que as famílias que viajarem com crianças consultem antes seu pediatra, reflitam sobre a situação do destino para onde viajarão e contratem seguro viagem”.

    Médicos de família também recomendam cautela.

    A Dra. Elisa Song, pediatra em Belmont, Califórnia, recomendou que os pais sejam “racionalmente cautelosos” em sua reação às notícias sobre o corona vírus e que minimizem o risco de contágio redobrando os cuidados, o descanso e a boa higiene. “Atitudes como limpar as superfícies de contato no avião, não tocar o rosto e se hidratar farão a diferença”, disse ela.

    Song, que administra o blog Healthy Kids Happy Kids, também aconselha manter outros hábitos saudáveis, caso haja risco de contaminação com o vírus ou não. Não recompense seus filhos com doces por manter uma boa higiene lavando as mãos, pois Song afirma que pesquisas indicam que o açúcar suprime a capacidade dos glóbulos brancos de combater infecções.

    Song também ressaltou que evidências sugerem que a irrigação nasal com sistemas de lavagem nasal ou nebulizadores portáteis pode reduzir a colonização de diferentes vírus. “Ao desembarcar de um avião, irrigamos nossos narizes com soro fisiológico para eliminar quaisquer partículas virais eventualmente presentes”, afirmou ela.

    Famílias ainda mantêm planos de viagem

    Ainda assim, alguns viajantes não se deixam intimidar. Matt Swenson, editor que mora em Alpharetta, na Geórgia, contou que ele e sua esposa estavam planejando levar de férias seus dois filhos pequenos (de 4 e 6 anos) à cidade de Nova York no início de abril.

    Swenson disse que mora a 64 quilômetros de um dos aeroportos mais movimentados do mundo (o Aeroporto Internacional Hartsfield-Jackson de Atlanta) e observou que “a doença poderia estar no supermercado ao lado”.

    Ele acrescentou que ele e sua mulher “sempre insistem para que as crianças lavem as mãos em todas as situações”.

    Mesmo com um plano semelhante para manter baixo o risco de exposição, Noelle Thill, da Califórnia, afirma que não tem certeza de que prosseguirá com os planos de férias de sua família no fim de março. Ela, o marido e as duas filhas (de 10 e 15 anos) planejavam visitar a Disneylândia durante três dias, mas como a filha caçula tem asma, Thill não quer arriscar.

    “Se surgirem mais casos nas próximas semanas, provavelmente cancelaremos”, contou Thill, que mora em Healdsburg. “Vamos ver o que acontece na próxima semana. Estamos reavaliando a cada dia.”

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