Quando a humanidade pisará em Marte?
Segundo Ivair Gontijo, engenheiro brasileiro da Nasa, esse dia vai chegar, mas demora. Enquanto isso, jipe-robô que ele ajudou a projetar leva nossos olhos – e ouvidos – ao Planeta Vermelho.
O Planeta Vermelho é uma antiga obsessão dos humanos. "Somos uma espécie de seres inteligentes e curiosos; Aristóteles já dizia que sempre queremos saber o que há depois da próxima montanha”, diz Ivair Gontijo.
Um dia, mas isso está tão longe de acontecer que é impossível precisar uma data. Essa é a avaliação de Ivair Gontijo – e ele tem cacife para fazê-la. Engenheiro da Nasa, Ivair trabalha no Laboratório de Propulsão a Jato, na Califórnia, e faz parte da equipe que construiu o Perseverance, o jipe-robô da agência espacial norte-americana que pousou no Planeta Vermelho em fevereiro.
O Perseverance está coletando e armazenando em tubos de metal uma série de amostras geológicas de Marte. Nos próximos anos, o plano é enviar uma segunda missão para transportá-las até a órbita marciana e, em seguida, uma terceira para resgatar os tubos e trazê-los de volta à Terra.
“Com isso, vamos completar o processo inteiro, ir e voltar de Marte”, diz Ivair. “É claro que com humanos é muito mais complexo, envolve desafios de engenharia gigantescos, mas resolvíveis. É possível imaginar soluções”, afirma.
E é possível imaginar soluções porque é isto que temos feito nos últimos séculos, argumenta o cientista. “Nós somos uma espécie de seres inteligentes e curiosos; Aristóteles já dizia que sempre queremos saber o que há depois da próxima montanha”, diz Ivair. Agora, quando essa montanha é Marte, a descoberta é demorada.
Para os ansiosos, o Perseverance ajuda a dar um gostinho de como é o planeta. Enquanto o jipe-robô anterior enviado até lá, o Curiosity, buscava água e outros elementos que provariam que um dia Marte foi habitável, a missão atual está atrás de carbono. Em outras palavras, provas de que já houve vida por lá.
“Nós estamos investigando rochas sedimentares de três bilhões e meio de anos de idade em busca de material orgânico genuinamente marciano”, conta o engenheiro da Nasa.
Nesse processo, o Perseverance levou para Marte um microfone – parte da SuperCam, dispositivo no qual Ivair trabalhou. Enquanto câmeras de resolução considerável já levam a nossa visão para diversos planetas e cometas do Sistema Solar, é a primeira vez que nossos ouvidos viajam tão longe.
Para Ivair, esse senso de expansão dos nossos sentidos pelo Universo é ainda mais literal. No começo de março, ele recebeu um e-mail de José Antonio Manrique, pesquisador da Universidade de Valladolid, na Espanha, que também trabalhou na SuperCam. Anexada, ia uma das fotos tiradas pelo Perseverance. “Ele dizia: ‘Esse sistema passou pelas nossas mãos! Passou pelas minhas mãos, pelas suas, e agora está lá em Marte!’”, conta Ivair. “É uma sensação muito bacana.”
Para a maior parte de nós, uma sensação ainda muito distante. Para a humanidade, uma sensação que já é real.
#PossoExplicar é o primeiro talk show de ciência do Brasil, apresentado por Miá Mello. Assista todas as quartas, às 21h, no National Geographic.