Sucesso! Jipe-robô da Nasa acabou de aterrissar em Marte

Depois de um mergulho angustiante na fina atmosfera marciana, o explorador robótico Perseverance poderá finalmente começar sua busca por sinais de vida no Planeta Vermelho.

Por Nadia Drake
Publicado 18 de fev. de 2021, 18:37 BRT, Atualizado 19 de fev. de 2021, 11:26 BRT

O jipe-robô Perseverance tirou esta primeira foto da superfície poeirenta de Marte poucos segundos depois de tocar solo em 18 de fevereiro de 2021.

Foto de NASA, JPL Cal-tech

O mais novo robô habitante de Marte pousou com sucesso. Pouco antes das 18h, horário de Brasília, o brutamontes jipe-robô de bilhões de dólares da Nasa, batizado de Perseverance, aterrissou em segurança no Planeta Vermelho depois de uma viagem de quase 500 milhões de quilômetros e uma descida de tirar o fôlego até a superfície marciana.

Pesando uma tonelada e movido a energia nuclear, o Perseverance fez uma descida suave e acrobática através da fina atmosfera de Marte que, se tudo de fato deu certo, foi gravada em vídeo pela primeira vez. O jipe ajustou o tempo dos seus movimentos sozinho para se alinhar e acertar a estreita zona de pouso, com cerca de 6 km de diâmetro, na cratera Jezero, que um dia abrigou um lago profundo e potencialmente antigo.

Logo depois, o Perseverence confirmou estar a salvo com um sinal enviado à Terra pela Órbita de Reconhecimento de Marte, dando início a celebrações socialmente distantes no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL, na sigla em inglês), na Califónia. Na central de comando do JPL, dava para ver as expressões de alívio e júbilo da equipe, mesmo com máscaras e concentração reduzida de pessoas.

 

“Essas missões são difíceis – tem muita coisa que precisa dar certo”, diz Jennifer Trosper, da JPL e segunda gerente de projeto do Perseverance. “Não há garantias. É isso que torna empolgante.”

A missão do robô é ambiciosa: buscar formas de vida antiga no Planeta Vermelho. Será o primeiro de cinco jipes da Nasa a procurar por traços de marcianos que morreram há muito tempo – habitantes de um mundo que, no seu primeiro bilhão de anos de idade, era mais quente e úmido que o poeirento planeta que vemos hoje.

Para ajudar cientistas a encontrar pistas que Marte pode ter sido um planeta habitável, Perseverance vai encher seus porta-malas com amostras de rocha que serão eventualmente retornadas à Terra para análises mais aprofundadas. A resposta sobre a existência de vida em Marte pode estar escondida nesses presentinhos interplanetários. Ou, se os cientistas forem muito sortudos, o jipe pode encontrar evidências ao apontar seus inúmeros instrumentos no terreno antes alagadiço da cratera Jezero.

“Nossa jornada foi de seguir a água a ver se este planeta era habitável e encontrar químicas complexas”, disse o administrador associado da Nasa Thomas Zubuchen, em uma entrevista com jornalistas no início desta semana. “Hoje estamos no advento de uma fase inteiramente nova.”

Agora que o jipe está a salvo em Marte, as equipes da missão estão mudando o foco para as primeiras fases de operações em superfície. Uma das questões mais importantes é onde, exatamente, o Perseverance pousou em Jezero. Apesar de novas tecnologias permitirem que o jipe faça a aterrissagem mais precisa da história, ainda não é certo onde na elipse de pouso o robô de fato tocou solo.

“Nós sempre fazemos um bolão do pouso – todos chutam onde o jipe vai estar na elipse”, diz Trosper.

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500 milhões de quilômetros até um novo mundo

O Perseverance partiu rumo a Marte em 30 de julho de 2020. Por sete meses, ele atravessou o espaço enfiado em uma espaçonave como um bicho em sua concha protetora. As seis rodas do jipe-robô foram puxadas para dentro, seu mastro e braço robótico dobrados e um pequeno helicóptero chamado Ingenuity escondido embaixo do chassi. As equipes do JPL o acordavam periodicamente durante o voo para testar seus sistemas e capturar áudios curtos pelos microfones instalados a bordo.

“Eu era, creio, a primeira pessoa a receber os arquivos de áudio quando ligávamos o microfone durante a viagem”, diz Adam Nelessen, da JPL. “E ouvir um tipo de som de zumbido mecânico, experimentar [o voo espacial] nesse outro sentido, é realmente visceral e emocionante.”

Mas, em 18 de fevereiro, a parte mais crucial da jornada do jipe começou – uma sequência de eventos de vida ou morte conhecidos como entrada, descida e pouso, ou EDP.

“Não há créditos parciais no EDP”, disse o membro da equipe Gregory Villar. “São milhares de pequenas coisas, e grandes coisas, que podem dar errado.”

No fim da fase de cruzeiro, o Perseverance se aproximava de Marte a praticamente 20 mil km/h – rápido demais para pousar em segurança. Depois de atingir a atmosfera do planeta, o atrito do ar com a nave a desacelerou a menos de 1,6 mil km/h. Depois, um paraquedas reduziu a velocidade para cerca de 320 km/h.

Mas o ar de Marte é muito pouco denso para um paraquedas conseguir, sozinho, depositar uma máquina tão pesada. Por isso, uma sequência cuidadosamente coreografada de manobras foi iniciada para a descida. Depois de acionar o paraquedas, soltar-se do escudo de calor e encontrar um lugar seguro para pousar, o Perseverance completou a última perna da viagem com a ajuda de um dispositivo chamado sky crane, ou guincho celeste.

Trata-se, essencialmente, de um módulo movido a foguetes que desce o jipe por cabos – usado pela primeira e única vez para levar o jipe-robô Curiosity à cratera marciana de Gale, em 2012. Pousos anteriores usaram apenas paraquedas e retrofoguetes ou um casulo com 24 airbags. Mas esses métodos não funcionariam com um jipe tão robusto quanto o Perseverance.

“Algumas das maiores ideias parecem malucas no começo, certo?”, diz Nelessen. “As pessoas acreditam que é incrível quando você quebra a norma, mas você meio que precisa fazer isso para avançar ao nível seguinte.”

Depois de se separar do paraquedas, o ‘guincho celeste’ diminuiu a velocidade para cerca de 27 km/h. A cerca de 21 metros da superfície, ele gentilmente baixou o Perseverance ao solo com três cabos de nylon. Com os cabos cortados, o guincho voou e caiu longe o bastante para evitar complicar as operações de superfície do jipe.

Apenas as animações da Nasa puderam mostrar como o processo se deu com o Curiosity. Mas, desta vez, a agência espacial se preparou para capturar toda a ação em vídeo. Se tudo for como planejado, seis câmeras capturaram as acrobacias da fase EDP, três focadas no paraquedas e o resto observando o jipe e o guincho celeste. Engenheiros também acoplaram um microfone ao jipe-robô. Nas próximas semanas, à medida que baixa e processa os dados, a Nasa deve divulgar imagens e sons do jipe aterrissando em uma superfície alienígena.

“Eu não sei dizer o quanto eu acho que vai ser emocionante ter o vídeo e o som para sentir que você estava lá, viajando junto”, diz Nelessen, membro do JPL responsável pelas gravações.

Ajuste dos ponteiros do jipe-robô

Agora na cratera Jezero, o trabalho do jipe começa para valer. Em sua missão primária, o Perseverance vai ler a história geológica de Jezero e procurar pistas sobre antigos habitantes alienígenas. Ele também vai selecionar e guardar amostras de rochas que uma sonda buscará no futuro e retornará para a Terra na próxima década.

Depois de uma competição intensa entre os locais de pouso, cientistas escolheram Jezero entre quatro finalistas por ela conter evidências claras de que um dia esteve coberta de água e porque um enorme delta de rio perto do aro norte da cratera é rico em sedimentos que podem preservar material biológico.

Mas Jezero, com suas enormes rochas, precipícios e bancos de areia potencialmente problemáticos não era o lugar mais seguro para se enviar um jipe-robô – e o Perseverance não teria conseguido sem algumas atualizações de outras tecnologias de pouso.

“Nós basicamente dissemos aos cientistas: ‘Vocês podem ir onde quiserem”, diz Villar. “E isso nunca aconteceu no passado.”

Primeiro, softwares de automação ajudaram o jipe a se guiar até um local de pouso mais seguro durante a descida. Mas, mesmo com essa precisão extra, a equipe só deve descobrir o local exato de pouso nos próximos dias.

“Ao longo da história da exploração de Marte, cientistas tiveram não puderam escolher o local de pouso e as questões que queriam solucionar devido às tecnologias de pouso de então”, diz Robin Fergason, do Serviço Geológico dos Estados Unidos, cuja equipe ajudou o Perseverance a navegar até Jezero. “Pela primeira vez, podemos ter mais perigos na elipse de pouso do que já tivemos antes. Somos capazes de ir a locais muito mais interessantes e empolgantes.”

Alongando as rodas

Durante os primeiros dias em Jezero, as equipes estarão focadas em checar os sistemas de bordo para ter certeza que tudo está funcionando direito.

“O primeiro dia nós não fazemos muita coisa porque pousamos à tarde e a Terra já terá se posta”, diz Trosper referindo-se ao fato de que nosso mundo já estará abaixo do horizonte de Marte na perspectiva do jipe-robô. Isso significa que qualquer comunicação com o jipe dependerá de sondas em órbita que passarão sobre o equipamento a cada algumas horas. O software de bordo se converterá para o modo de operações em superfície e a equipe vai destravar os apêndices do jipe que ficaram guardados durante o voo e descida.

O Perseverance deve fazer algumas imagens ainda parado, que serão então enviadas à Terra através de uma das sondas em órbita. Depois, o jipe dorme para recarregar as baterias, acordando apenas caso uma sonda se aproxime no céu.

Nos dias marcianos seguintes, o Perseverance lança sua antena de longo alcance e para tentar encontrar a Terra enquanto garante que suas baterias estão carregadas e os instrumentos de bordo aquecidos. Assim que a equipe tiver certeza de que o jipe está estável em solo, ele fará uma série de fotos panorâmicas em 360º. O jipe-robô vai lentamente fazer a transição do seu software de pouso para o de superfície, um processo que deve demorar uma semana, segundo Trosper.

“É uma dança, vários passos, e é em Marte, e se algo dá errado... é difícil”, diz Trosper. “Este é meu quinto jipe-robô, e eu fui parte de todas anomalias em jipes que já tivemos – você realmente não quer chegar nessas situações.”

Depois que a checagem de software estiver completa, o jipe vai mover seu braço robótico e dar uma pequena volta. Ele continuará testando os instrumentos de bordo e, provavelmente em alguns meses, o helicóptero Ingenuity deve fazer a primeira tentativa de um voo motorizado em outro planeta.

Então, por fim, a missão começa para valer – o jipe-robô se lança para responder uma das questões mais profundas da humanidade: estamos sozinhos? Por mais de um século, pensamos que a resposta curta pode estar em Marte, um planeta que há tempos nos seduz com promessas de existência de vida, seja inteligente ou unicelular.

As paisagens áridas que vemos hoje provavelmente são inabitadas, mas, há bilhões de anos, água jazia e corria pela superfície de Marte. A vida, se pudesse existir, teve uma chance de prosperar. Hoje, depois de sonhar em encontrar vida entre as estrelas, e imaginar como ela poderia ser em Marte – podemos finalmente descobrir se alienígenas um dia habitaram o Planeta Vermelho.

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