Pessoas vacinadas podem ficar sem máscara ao ar livre?

Novas diretrizes têm como objetivo tranquilizar as pessoas imunizadas sobre o baixo risco de contágio em atividades realizadas ao ar livre, mas alguns especialistas temem as consequências dessas orientações.

Por Sarah Elizabeth Richards
Publicado 4 de mai. de 2021, 07:00 BRT
Masks Outdoors

Crianças brincam sob as cerejeiras japonesas no Central Park em meio à pandemia de coronavírus, na cidade de Nova York. Depois de decretos de paralisação nos últimos 12 meses, a cidade autorizou atividades que oferecem baixo risco de transmissão de covid-19 ao ar livre.

Foto de Photography by Alexi Rosenfeld, Getty Images

Nos últimos meses, os espaços ao ar livre têm sido considerados santuários para algumas pessoas. Na era do distanciamento social, muitas vezes eram os únicos lugares para praticar exercícios durante os bloqueios de atividades ou se reunir com outras pessoas, com o devido espaço entre as cadeiras. E como os estudos existentes evidenciam que o risco de transmissão de covid-19 ao ar livre é baixo, muitas pessoas se sentiram à vontade para também tirar as máscaras e baixar a guarda.

Ainda assim, a interpretação de algumas pessoas sobre o que é seguro fazer sem usar a máscara varia bastante. Enquanto um vizinho estava certo de que ir a um bar ao ar livre sem máscara não ofereceria risco algum, o outro continuava usando a máscara para levar seu cachorro para passear.

No dia 27 de abril, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) anunciaram novas diretrizes a fim de esclarecer quais atividades são seguras quando realizadas ao ar livre. O veredito: pessoas que já tenham tomado a vacina estão dispensadas do uso de máscaras ao se reunirem ou comerem ao ar livre com pessoas vacinadas e não vacinadas.

“Participar de atividades ao ar livre sem o uso de máscara, de modo geral, é seguro para pessoas vacinadas”, disse a diretora do CDC, Rochelle Walensky. “No entanto, continuamos a recomendar o uso de máscara em ambientes abertos e lotados, onde a possibilidade de manter o distanciamento é menor e muitas pessoas não vacinadas podem estar presentes.”

Novas diretrizes

A nova orientação para atividades ao ar livre é um progresso para a liberdade das pessoas que já tomaram a vacina. No mês passado, o CDC anunciou que pessoas que estejam completamente imunizadas podem se reunir com segurança em ambientes fechados sem máscara com outras pessoas também vacinadas contra a covid-19. Os dados de vacinação mais recentes mostram que 29% dos norte-americanos já tomaram todas as doses necessárias para a imunização contra a covid-19 e 43% já receberam pelo menos uma das doses da vacina.

Porém, o comunicado vem em um momento em que há pouco consenso sobre as medidas de segurança do coronavírus na área da saúde pública: nos Estados Unidos, apenas cerca de metade dos estados têm decretos sobre o uso de máscaras, tanto em locais fechados como ao ar livre, e o número de estados que está revogando os decretos relacionados ao uso de máscara é crescente.

“Encontrar maneiras de tornar mais rígidas as regras de comportamento das pessoas, em atividades ao ar livre, é uma questão que deve ser cuidadosamente considerada”, afirmou Jewel Mullen, reitora adjunta de pesquisas em Igualdade Sanitária na Dell Medical School, da Universidade do Texas em Austin. A orientação anterior do CDC deu o sinal verde para que as pessoas pudessem praticar exercícios ao ar livre sem a máscara, com a ressalva de recolocarem as máscaras caso entrassem em contato com outras pessoas que estivessem a menos de dois metros de distância.

“Muitas pessoas estão tentando ser precavidas quanto ao uso das máscaras. Essas pessoas sempre se questionam sobre as devidas precauções em relação à pandemia e desejariam ter informações mais claras”, afirma Mullen. Ela diz que as novas recomendações são importantes para dar mais confiança às pessoas que querem fazer tudo certo para se proteger e proteger os outros.

Relaxamento das restrições?

Ainda assim, alguns especialistas que estudam o comportamento social na pandemia dizem temer que essa orientação, apesar de bem-intencionada, possa ter um efeito negativo. Isso porque, ao contrário de uma lista de convidados selecionada cuidadosamente para um jantar de fim de ano, por exemplo, é impossível saber quem tomou a vacina quando se está ao ar livre. Então, com as novas orientações relacionadas ao uso de máscaras, algumas pessoas não vacinadas podem interpretar o uso geral reduzido da máscara nas ruas como uma permissão para ficar sem máscara.

“A alteração das diretrizes do CDC que indica menor rigidez entre os vacinados, está diminuindo a percepção de risco entre todos”, diz Kaileigh Byrne, psicóloga da Clemson University que estuda a decisão dos indivíduos em obedecer às restrições relacionadas ao coronavírus. “As pessoas não vacinadas que assumem os riscos de furar a quarentena não serão identificadas entre quem está vacinado e quem não está”, alerta a psicóloga. “Elas pensam: aquela pessoa está se divertindo. Se está tudo bem para ela, está tudo bem para mim também."

Segundo Tobias Reynolds-Tylus, pesquisador da área de Comunicação que estuda campanhas de saúde na Universidade James Madison, na Virgínia, esse fenômeno é chamado de “normatização social” e influencia muito o comportamento humano.

“Ver menos pessoas usando máscaras pode fazer com que os indivíduos não vacinados se sintam como se eles próprios não precisassem usar máscara. A pressão social para o uso de máscara sem dúvida diminuirá”, afirma o pesquisador.

Nesse sentido, o momento do anúncio do CDC chega no pior momento possível da pandemia, acrescenta Steven Taylor, psicólogo da Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver, que estuda a percepção de risco das pessoas durante pandemias. Isso ocorre porque muitas pessoas estão cansadas das restrições causadas pela covid-19 e podem não ser receptivas a outro conjunto de diretrizes governamentais, especialmente as que propõem fazer distinção entre pessoas vacinadas e não vacinadas.

“A preocupação é que quanto mais se muda as diretrizes, mais se confunde as pessoas. Como as pessoas já estão cansadas da pandemia, o incômodo é ainda maior”, diz ele. “Quanto maior a complexidade, menor a adesão. Em um mundo ideal, as informações deveriam ser muito mais simples e estáveis.”

Mas, apesar de toda a confusão, as novas orientações sem dúvida trarão a tranquilidade necessária para as pessoas que passaram por esse longo período de espera para sair de casa, desde o início da pandemia, e elas serão beneficiadas psicologicamente por poder desfrutar do sol de verão.

Bryne conclui: “A mensagem é positiva para as pessoas vacinadas e dá a elas a oportunidade de se sentirem seguras fazendo o que não podiam mais fazer antes da vacina.”

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