Nasa planeja missão rumo a Vênus pela primeira vez em décadas

Duas naves espaciais ambicionam resolver alguns dos mistérios profundos sobre o planeta próximo, incluindo por que ele se assemelha a uma versão infernal e tóxica da Terra.

Por Nadia Drake
Publicado 3 de jun. de 2021, 11:27 BRT
Venus

As naves espaciais são capazes de perscrutar através da espessa atmosfera de Vênus, revelando uma superfície alienígena que, de certa forma, é assustadoramente semelhante à da Terra.

Foto de NASA, JPL

A Nasa teve uma surpresa reservada para os cientistas planetários hoje: Durante um informe do "Estado da Nasa", a agência anunciou que a turbulenta e tóxica Vênus será o alvo das  próximas duas missões em seu altamente competitivo programa Discovery.

"Essas duas missões irmãs, ambas com o objetivo de entender como Vênus se tornou um mundo infernal, capaz de derreter chumbo na superfície — vão oferecer a toda a comunidade científica a chance de investigar um planeta que não visitamos há mais de 30 anos", disse o administrador da Nasa Bill Nelson durante o informe. “Nós esperamos que estas missões ajudem a compreender melhor como a Terra evoluiu e por que, atualmente, é habitável, quando outros [planetas rochosos] em nosso sistema solar não são.”

Uma espaçonave, chamada Davinci+, estudará a atmosfera tóxica do planeta — uma espessa camada de dióxido de carbono e nuvens de ácido sulfúrico. A outra, Veritas , fará mapas detalhados da superfície do planeta e tentará reconstruir sua história geológica.

A dupla derrotou outros dois finalistas, que teriam enviado sondas para a lua vulcânica de Júpiter, Io, ou para a lua de Netuno, Tritão - os destinos que estiveram no topo da lista de desejos da ciência planetária por décadas.

101 | Vênus
Explore o planeta mais quente do sistema solar.

O anúncio surge em meio a um crescente interesse em uma missão liderada pelos EUA a Vênus, que alguns cientistas planetários consideraram “o planeta esquecido.” Vênus é notavelmente similar à Terra em tamanho e massa. E embora seja um mundo infernal e inóspito hoje, pode ter sido um planeta temperado e coberto pelo oceano como o nosso. Compreender como Vênus se tornou um mundo extremamente hostil é crucial para compreender o quão comuns os planetas verdadeiramente similares à Terra podem ser.

“Nós temos um planeta vizinho do tamanho da Terra, que não é nada como a Terra. Por quê? Esta é uma coisa muito importante a se descobrir,” diz Paul Byrne, um cientista planetário da Universidade Estadual da Carolina do Norte. “Temos algumas perguntas muito grandes a responder a respeito da formação, características e da evolução de um mundo do tamanho da Terra.”

O dobro da diversão

O programa Discovery da Nasa dá suporte a missões menores e menos caras do que aquelas na classe da New Frontiers e categorias principais. Com lançamentos aproximadamente a cada 36 meses, as missões da Discovery são normalmente limitadas a $450 milhões, excluindo os custos do veículo de lançamento e os das operações da missão, enquanto as expedições da New Frontiers são limitadas a $850 milhões. Naves carro-chefe tais como Perseverance Curiosity Mars podem custar bilhões. 

Atualmente, a Nasa está lançando duas missões da Discovery. O Orbitador de Reconhecimento Lunar, lançado em 2009, levou mais de uma década mapeando a superfície da lua. O InSight Lander, lançado em 2018, está estudando o interior de Marte.

Em 2021, mais duas missões serão lançadas: Lucy estudará vários asteróides e os usará para descobrir segredos sobre o início do sistema solar, enquanto Psyche visitará um asteroide gigante de mesmo nome, extremamente rico em metais. Na época, alguns cientistas reclamaram sobre a seleção de duas missões de asteroide - especialmente porque elas superaram diversas missões propostas a Vênus, incluindo Veritas e Davinci+.

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    A nave espacial New Horizons da Nasa gravou esta visão da lua Io de Júpiter, e um de seus vulcões em erupção, durante um encontro com Júpiter em 2007 a caminho de Plutão.

    Foto de NASA, Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory, Southwest Research Institute, Goddard Space Flight Center

    Um longo tempo de espera

    Agora, essas missões terão finalmente a chance de voar, expondo novas verdades sobre o mundo vizinho encoberto.

    A última missão dos EUA a Vênus, Magellan, terminou em 1994 quando a espaçonave executou um mergulho programado na atmosfera do planeta. Desde então, sondas europeias e japonesas visitaram a irmã esquisita da Terra, e os cientistas continuaram a apontar telescópios com base na Terra para o planeta intrigante.

    Apesar da análise, os mistérios de Vênus apenas se aprofundaram. Entre eles está a crescente evidência de vulcanismo contínuo na superfície do planeta, apesar do fato de que Vênus não tem o tipo de atividade tectônica que alimenta as regiões extremamente mais vulcânicas da Terra. Há também a polêmica detecção de gás fosfina na atmosfera do planeta, que pode ser um sinal de vida.

    Em breve, talvez em 2030, a nave espacial Investigação Aprofundada da Atmosfera de Vênus sobre Gases Nobres, Química e Imagem, ou Davinci+, como é conhecida, zarpará para Vênus. Descerá, então, através da atmosfera do planeta, que é 90 vezes mais densa do que a da Terra, coletando amostras e transmitindo dados que ajudarão os cientistas a compreender como ele evoluiu, e se o planeta já teve oceanos.

    Enquanto o Davinci+ estuda a mortalha venusiana, a espaçonave Emissividade de Vênus, Radio Science, InSAR, Topografia e Espectroscopia, ou Veritas, como é conhecida, estará ocupada mapeando a superfície do planeta a partir da órbita. Essas imagens, além de informações detalhadas sobre a química da superfície e topografia, ajudarão a reconstruir a história geológica de Vênus - e talvez resolver o mistério de como ela evoluiu para o buraco do inferno vizinho.

    "O coitado do meu cão realmente pensou que nossa casa estava sob ataque pela maneira como eu estava gritando quando descobri que nossa missão havia sido selecionada", tuitou David Grinspoon, do Instituto de Ciências Planetárias, membro da equipe Davinci+.

    “Tenho pressionado por isso literalmente a minha carreira inteira,” ele também tuitou. “A última missão Vênus dos EUA foi lançada em 1989, ano em que terminei a faculdade. Há muito para aprender sobre o clima, a história de mundos semelhantes à Terra e à vida no universo.”

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