Pessoas vacinadas podem transmitir variante Delta mesmo sem sintomas, sugere estudo

Pesquisa revela que a nova variante, altamente disseminada, pode se desenvolver em pessoas vacinadas com a mesma capacidade que se desenvolve em pessoas que não foram imunizadas.

Por Sanjay Mishra
Publicado 26 de ago. de 2021, 16:00 BRT
Vaccine

Profissional de saúde administra uma dose da vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19 em um posto de vacinação na cidade de Lake Worth, na Flórida, no dia 13 de agosto de 2021.

Foto de Saul Martinez, Bloomberg, via Getty

Um estudo preliminar indicou que, no caso de uma infecção disruptiva, a variante Delta é capaz de se proliferar nas vias nasais de pessoas vacinadas na mesma proporção que se proliferaria se não estivessem vacinadas. O risco de transmissão também é igual ao de pessoas não vacinadas, o que significa que pessoas vacinadas podem transmitir o vírus e infectar outras.

Estudos anteriores realizados em hospitais na Índia, em Provincetown, uma pequena cidade do estado de Massachusetts, e na Finlândia também comprovam que, ao serem acometidos por infecções disruptivas da variante Delta, pacientes, vacinados ou não, podem apresentar níveis elevados do vírus circulando na cavidade nasal. O próximo passo foi observar a transmissibilidade do vírus por pessoas vacinadas. Muitos especialistas já acreditavam que havia essa possibilidade, mas, até a realização desse estudo, nenhum teste havia sido realizado em laboratório.

“Até onde sei, somos os primeiros a demonstrar proliferação do vírus retirado de amostras de pessoas infectadas que já haviam completado o ciclo de vacinação”, disse Kasen Riemersma, virologista da Universidade de Wisconsin e um dos autores do estudo.

“Em relação às outras variantes, a variante Delta está se manifestando com mais frequência em pessoas já vacinadas” porque é extremamente infecciosa e consegue burlar a resposta imunológica, afirma Ravindra Gupta, microbiologista da Universidade de Cambridge. O laboratório de Gupta foi um dos primeiros a registrar infecções pela variante Delta, com níveis elevados do vírus nas vias nasais, em profissionais da área da saúde já vacinados.

Se a descoberta do estudo de Wisconsin for confirmada, pessoas com infecções disruptivas — muitas das quais não apresentam sintomas de covid-19 — podem espalhar o vírus sem saber. “É uma descoberta alarmante”, explica Katarina Grande, supervisora de saúde pública e chefe da equipe de dados da covid-19 do condado de Madison & Dane, que liderou o estudo.

O que preocupa Eric Topol, fundador e diretor do Instituto de Pesquisa Translacional Scripps, é a possibilidade de indivíduos infectados com a variante Delta, e que já tenham completado o ciclo de vacinação contra a covid-19, transmitirem o vírus. Isso pode ocorrer a uma taxa mais alta nos dias que precedem os sintomas, ou mesmo na ausência de sintomas comparado aos casos que envolveram cepas anteriores. “É por isso que as máscaras e medidas preventivas são importantes, mesmo para as pessoas vacinadas”, afirma Topol.

Estudos como esses ressaltam que a transmissão da variante Delta pode ser muito maior do que o estimado, como salienta Ethan Berke, diretor de saúde pública do UnitedHealth Group. A pesquisa de Berke mostrou que testes frequentes com resultados rápidos, mesmo que preliminares, podem ser muito eficazes na redução da pandemia de covid-19. Berke não participou do estudo realizado em Wisconsin.

“Mesmo que o estudo tenha sido baseado em uma região específica, apresenta informações importantes sobre como as pessoas podem transmitir o vírus, estejam elas vacinadas ou não. Esse tipo de informação, especialmente quando testado e aprimorado, é bastante útil conforme as organizações desenvolvem políticas sobre a realização de testes, distanciamento social e vacinas”, afirma Berke.

Como saber se o vírus na amostra é infeccioso?

Para detectar a presença do vírus SARS-CoV-2, os cientistas adotaram uma medida chamada de limite de ciclo (CT, na sigla em inglês), que utiliza corantes para revelar a quantidade de RNA viral presente no nariz.

“O vírus SARS-CoV-2 infecta o nariz e as vias respiratórias superiores. É muito difícil obter altas taxas de anticorpos nessa área do corpo por longos períodos. O sistema imunológico não foi preparado para atingir altos níveis de anticorpos nesses locais”, diz Gupta.

Os valores de CT estão relacionados à carga viral, que é o número de partículas virais presentes no organismo. Quando a quantidade de vírus ultrapassa um certo limite, os pesquisadores acreditam que uma pessoa infectada transmita o SARS-CoV-2 e potencialmente infecte outras pessoas. O estudo realizado em Wisconsin analisou amostras da secreção nasal  de 719 pessoas não vacinadas e vacinadas, todas com resultado positivo para covid-19, e constatou que 68% dos pacientes estudados tinham cargas virais muito altas. A alta carga viral é um sinal de que o vírus está se replicando, explica Gupta.

Para descobrir se as amostras continham a forma infecciosa do vírus, os pesquisadores de Wisconsin cultivaram o vírus de 55 amostras de pacientes (de pessoas vacinadas e não vacinadas com resultado positivo) em células especiais suscetíveis à infecção por SARS-CoV-2. A equipe de Katarina Grande detectou o vírus ativo em quase todos os pacientes: 88% dos indivíduos não vacinados e 95% dos vacinados.

“Colocamos as amostras nas células e as células morreram quando foram infectadas. Isso demonstra claramente a presença do vírus e que ele é infeccioso”, explica Riemersma.

Se as pessoas continuam produzindo muito vírus infeccioso após serem vacinadas, também podem transmiti-lo da mesma forma que pessoas que não foram imunizadas.

Uso de máscaras e vacinação são necessários para prevenir transmissão do vírus 

“Temos uma verdadeira tempestade de coisas acontecendo: variantes superinfecciosas, população vulnerável, debates sobre o uso de máscaras”, diz Grande.

Mais de 93,8% dos Estados Unidos estão em risco elevado ou muito elevado de transmissão comunitária do SARS-CoV-2, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país (CDC, na sigla em inglês). O CDC determina que uma área é de alto risco quando o número de novos casos em um condado ultrapassa 100 a cada 100 mil habitantes ou quando mais de 10% dos testes de covid-19 foram positivos nos sete dias anteriores. Nessas áreas, o CDC recomenda o uso de máscara em ambientes públicos fechados para potencializar a proteção contra a variante Delta e evitar que ela seja transmitida a outras pessoas.

Embora as vacinas autorizadas previnam mortes e quadros graves de covid-19, elas oferecem proteção bem menor aos idosos, pessoas com sistema imunológico debilitado e pessoas com outras condições de saúde específicas.

“Precisamos de mais informações sobre a variante Delta para entender melhor como ela funciona e como pode ser transmitida. Em última análise, isso nos daria informações sobre como podemos nos proteger em casa, no trabalho e em nossas comunidades”, diz Berke. “Enquanto isso, medidas básicas de higiene, como o uso de máscaras, distanciamento social, testes regulares e vacinas, continuarão desempenhando um papel crucial na redução da transmissão e na prevenção de quadros graves e óbito.”

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