9 grandes dúvidas sobre a Ômicron explicadas

Que tipo de teste é o ideal? Por quanto tempo é preciso se isolar e como contar os dias? Como saber se tenho Ômicron? Especialistas tentam esclarecer confusões. 

Por Emily Sohn
Publicado 7 de jan. de 2022, 10:32 BRT
Foto aérea de uma fila de carros esperando para fazer testes de cvoid-19 por drive-thru

Com casos de covid-19 em alta nos Estados Unidos, carros fazem fila para realizar testes em sistema drive-thru no Tropical Park, em Miami, na Flórida, em 22 de dezembro de 2021.

Foto de Joe Raedle, Getty Images

Conforme os cientistas compreendem melhor as especificidades da Ômicron em relação às outras versões do vírus Sars-CoV-2, as orientações sobre como lidar com a variante estão mudando rapidamente. Nos Estados Unidos, onde a variante Ômicron já é dominante, o CDC, orgão de saúde dos EUA, foi alvo de críticas por alterar diretrizes, entre as quais está a recomendação reduzir o período de isolamento de dez para cinco dias para pessoas que testaram positivo para covid-19.

Qual é a razão científica por trás dessa alteração na orientação e como as pessoas podem se proteger da propagação da variante Ômicron? Veja o que é preciso saber, segundo especialistas.

Por que o CDC alterou a recomendação sobre o período de isolamento?

Uma resposta simples é: praticidade, diz Gregory Poland, vacinologista e especialista em medicina interna da Clínica Mayo em Rochester, Minnesota, nos Estados Unidos. Com a facilidade de propagação da variante Ômicron, os casos dispararam para mais de 540 mil por dia nos últimos sete dias. Se milhares de pessoas precisarem se isolar por 10 dias, se torna muito difícil formar equipes e operar empresas essenciais, inclusive hospitais.

“Como proceder se 20% ou mais dos profissionais da área de saúde não puderem trabalhar porque apresentaram teste positivo para covid-19?” questiona Poland. “Estamos vendo um rápido crescimento no número de mortes e complicações clínicas entre os hospitalizados, causados pelo número insuficiente de profissionais de saúde.”

Mas as razões científicas por trás da mudança na orientação são consistentes. Estudos verificaram a concentração de vírus vivos (e que, portanto, são transmissíveis) no nariz de pessoas infectadas e como seus níveis se alteram com o tempo. Eles demostram que a capacidade de transmissão do vírus por uma pessoa atinge o pico entre um ou dois dias antes do início dos sintomas e dois a três dias depois, afirma Jill Weatherhead, especialista em doenças infecciosas da faculdade de medicina de Baylor, em Houston, nos Estados Unidos. Portanto, cinco dias após o resultado positivo de um teste de covid-19, a quantidade de vírus no organismo de uma pessoa infectada cai drasticamente, diminuindo as chances de transmissão.

A nova diretriz funciona como uma compensação, acrescenta Abraar Karan, médico de doenças infecciosas da Universidade Stanford, em Palo Alto, Califórnia. “O lado bom é que evitamos grandes perdas na capacidade de trabalho”, diz ele. “O lado ruim é que passamos a autorizar a circulação de potenciais transmissores do vírus, embora esse risco seja muito menor do que no início do quadro de infecção.”

Isso significa que o isolamento é de apenas cinco dias para quem testar positivo? 

Não exatamente. A recomendação de cinco dias se aplica apenas a pessoas assintomáticas ou que estejam percebendo atenuação dos sintomas.

Um resultado negativo para a covid-19 por volta do quinto dia de infecção também não significa necessariamente que a pessoa não está mais infectada, salienta Karan. “O paciente ainda pode transmitir a doença, mesmo se o resultado do teste de antígeno for negativo”, explica Karan. “Mas a probabilidade de contágio é menor do que quando o antígeno era positivo.”

De acordo com especialistas, pessoas imunocomprometidas demoram mais para se curar das infecções e devem ficar isoladas por aproximadamente 20 dias. Para pessoas com o sistema imunológico saudável e que apresentem atenuação de sintomas, o uso de máscaras reduz o risco de transmissão do vírus após o quinto dia. Mesmo depois de cinco dias de isolamento, as pessoas devem usar máscaras de alta qualidade e bem ajustadas sobre a boca e o nariz.

“O objetivo da nova orientação é que permaneçamos protegidos durante o surto e evitemos a transmissão do vírus”, diz Weatherhead. “Se um infectado ainda estiver transmitindo o vírus após esses cinco dias, o uso contínuo da máscara oferecerá outra camada de proteção para prevenir a propagação.”

Como fazer a contagem dos dias de isolamento?

A prática apropriada de isolamento para a redução de riscos considera o dia zero como o dia em que os sintomas aparecem, mesmo se já houver resultado positivo antes do início dos sintomas. O dia um é o primeiro dia completo após o início dos sintomas. Se a pessoa não apresentar sintomas, o dia um passa a ser o primeiro dia completo após o resultado positivo do teste.

O isolamento se aplica apenas a pessoas com resultado positivo, de acordo com o CDC. Isso significa manter o distanciamento social, até mesmo de outros membros da família, de preferência em um quarto separado ou em uma área com banheiro reservado.

Caso descubra que teve contato com alguém que testou positivo, o CDC recomenda ficar em quarentena, o que também significa um período de distanciamento social, mas isso vai depender do seu cronograma vacinal. Caso já tenha recebido a dose de reforço, a segunda dose da vacina da Moderna nos últimos seis meses, a segunda dose da vacina da Pfizer nos últimos cinco meses ou a vacina de dose única da Johnson & Johnson nos últimos dois meses, não é necessário ficar em quarentena; em todo caso, é necessário utilizar máscaras quando estiver próximo a outras pessoas durante 10 dias.

Caso não tenha sido vacinado ou ainda não tenha tomado a segunda dose ou dose de reforço devido ao cronograma, o CDC recomenda ficar em casa por cinco dias e, em seguida, utilizar máscara enquanto estiver próximo a outras pessoas por mais cinco dias. Se a quarentena não for uma opção possível, use máscara por 10 dias em qualquer estabelecimento. Qualquer pessoa próxima a alguém que tenha testado positivo para covid-19 deve, se possível, realizar o teste no quinto dia desde o primeiro contato com o infectado. Caso apareçam sintomas, recomenda-se a realização do teste e a permanência em casa.

Em que momento os testes deixam de apresentar resultados positivos? 

A resposta para essa questão depende do tipo de teste realizado, entre outros fatores.

Os testes de PCR detectam material genético do vírus Sars-CoV-2. Em algumas pessoas, os resíduos genéticos podem permanecer no nariz por semanas ou até meses depois que o vírus não é mais capaz de causar infecções, diz Weatherhead. Poland tem um colega que apresentou teste positivo para covid-19 16 semanas após o início da infecção.

Os testes rápidos de antígeno, por outro lado, detectam proteínas virais que são produzidas por vírus vivos e ativos. É improvável que os resultados desses tipos de testes continuem positivos depois que os níveis do vírus estiverem muito baixos, não infecciosos.

Um teste positivo de qualquer tipo de teste não revela a probabilidade de contágio de ninguém, observa Weatherhead. Embora seja tentador interpretar um resultado mais brando dos testes rápidos como um declínio na transmissibilidade, ele pode estar representando simplesmente a quantidade de vírus absorvida pelo swab. “O resultado é ‘positivo ou negativo’, não uma ‘quantificação’”, diz ela.

Os testes rápidos detectam a variante Ômicron? 

As evidências disponíveis sugerem que sim, afirma Weatherhead. De acordo com um comunicado realizado no fim de dezembro pela Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês), a precisão pode ser ligeiramente menor para detectar a nova variante. Em comparação com os testes de PCR, os testes rápidos têm menos probabilidade de detectar infecções em seus estágios iniciais. Mas um informativo da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido analisou o desempenho de testes rápidos de antígenos na detecção da variante Ômicron e não encontrou nenhuma alteração de desempenho.

Os testes de covid-19 passam a apresentar resultado negativo antes para totalmente vacinados e aqueles que tomaram dose de reforço?

Segundo especialistas, teoricamente, sim. Em um estudo realizado em dezembro de 2021 com pessoas infectadas por diversas variantes (exceto Ômicron), incluindo Delta e Alpha, pesquisadores relataram que as pessoas vacinadas com casos reincidentes já não apresentavam mais quadro de infecção em uma média de 5,5 dias. Por outro lado, as pessoas não vacinadas levaram em média 7,5 dias para eliminarem a infecção, embora o pico de carga viral fosse o mesmo em ambos os grupos. Estudos também mostram que pessoas com o esquema vacinal completo têm menos probabilidade de desenvolver casos graves de covid-19, incluindo os infectados pela variante Ômicron.

A vacinação “certamente reduz o risco de desenvolver quadros graves e a necessidade de hospitalização, porque o sistema imunológico se prepara para reduzir a carga viral”, observa Weatherhead. “Porém, se isso se traduz na rapidez com que um teste de antígeno positivo passa a apresentar um resultado negativo, acredito que ainda não temos esses dados.”

É necessário um resultado de teste negativo para interromper o isolamento?

Embora muitos especialistas em saúde pública acreditem que seria uma boa ideia, o CDC mantém a decisão de não recomendar um teste negativo antes de interromper o isolamento.

A melhor resposta pode depender da escolha entre tomar decisões políticas ou individuais, diz Poland. Em nível populacional, pode fazer sentido exigir testes negativos para evitar que crianças potencialmente infectadas frequentem a escola, por exemplo.

Mas em sua vida pessoal, diz Weatherhead, o que você escolhe fazer depende de seu próprio nível de tolerância ao risco e da vulnerabilidade das pessoas ao seu redor. “Se você está perto de pessoas que não foram vacinadas ou que têm problemas de saúde que geram alto risco, talvez seja melhor fazer o teste ou aguardar os 10 dias completos”, observa ela.

Se o teste der negativo, é necessário o uso de máscara?

Se estiver vacinado, tiver recebido a dose de reforço e for saudável, terá diminuído drasticamente a chance de desenvolver um quadro grave, ser hospitalizado ou morrer, esclarece Poland. O risco de ser infectado com a variante Ômicron diminui apenas moderadamente. Dada a transmissibilidade da variante, Poland recomenda o uso de máscaras caso esteja frequentando ambientes fechados com pessoas que não moram com você.

Muitas pessoas podem ser infectadas sem nunca saber e transmitir o vírus adiante, acrescenta Karan. O uso de máscaras pode impedir a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas.

Em última análise, as pessoas precisarão considerar suas condições de saúde, tolerância ao risco, cronograma de vacinação e taxas da covid-19 em sua comunidade ao tomar decisões em relação ao uso de máscaras, reitera Weatherhead. “Em geral, se todos estiverem imunizados, assintomáticos e com teste de PCR negativo, o risco será baixo e as pessoas não precisarão usar máscara, principalmente ao se reunirem ao ar livre”, diz ela. Pessoas “com problemas de saúde ou com alto risco de desenvolver casos graves se forem infectadas pelo Sars-CoV-2, podem optar por continuar utilizando máscara, mesmo entre pessoas imunizadas”.

Como saber se estou infectado pela variante Ômicron? 

Nos Estados Unidos, a Ômicron corresponde a 95% dos novos casos, de acordo com dados divulgados esta semana pelo CDC, que utiliza um sistema de vigilância nacional para obter uma amostra das variantes circulantes. Mas a variante Delta ainda circula, e os testes em domicílio não revelarão qual a variante da infecção.

Para todas as variantes, “a melhor coisa que podemos fazer é identificar quais são nossas tolerâncias de risco e ter certeza de que estamos protegendo os outros, especialmente durante esse período de alto contágio”, conclui Weatherhead. “Fora isso, se vacinar e utilizar máscara reduzirá os riscos de transmissão.”

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