Escola de Papais Noéis no Rio de Janeiro dá novas oportunidades a velhinhos simpáticos
A Escola de Papai Noel do Brasil não cobra inscrição e já formou mais de 700 bons velhinhos em 25 anos.
“Desde pequeno, sempre tive a vontade de ser Papai Noel”, conta Hugo Andrés Dias, sorrindo. Ele tem o cabelo e a barba brancos, veste a tradicional roupa vermelha e demonstra um domínio perfeito do Ho!Ho!Ho!. Uruguaio com forte sotaque portunhol, Dias sofreu um grave problema de saúde e – enquanto internado no hospital há um ano – decidiu largar tudo para realizar o antigo desejo de se tornar o bom velhinho. Depois de deixar a família e a oficina mecânica que matinha em Montevidéu, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se inscreveu na Escola de Papai Noel do Brasil.
Fundada em 1993 por Limachem Cherem, a escola exige algumas regras rígidas dos seus alunos. “As crianças podem tentar tirar a barba, então tem que ser natural”, diz Cherem, de 62 anos e diretor até hoje. Mas não é só isso. É preciso também ter mais de 50 anos, uma boa higiene, não fumar, não beber, ter a barba e os cabelos brancos ou grisalhos e – o mais importante – adorar crianças. O carioca Cherem diz ter “o sentimento de dever cumprido” e considera todos os Papais Noéis da escola como seus próprios filhos.
A primeira turma do curso tinha apenas dois alunos, mas em 2018 foram 45 velhinhos participando das aulas. Depois de se inscreverem gratuitamente, os estudantes participam de quatro encontros onde praticam exercícios teatrais, musicais e dinâmicas com o corpo. Na ementa também constam aulas de improvisação, dicção, postura, figurino, dinâmica de grupo, maquiagem, caracterização e psicologia. Tudo isso para que o Bom Velhinho consiga, entre outras coisas, contornar algumas perguntas embaraçosas, participar de coral de vozes e segurar as crianças no colo.
Os Papais Noéis formados pela escola são indicados para trabalhos em shoppings, lojas, clubes, residências, hospitais, escolas, empresas e comerciais de TV durante os meses de novembro e dezembro. Desde a fundação, em 1993, a instituição já formou cerca de 700 novos profissionais.
Cláudio Augusto Schuller entrou pela primeira vez na escola em 2018, aos 67 anos. O motorista de taxi diz estar muito feliz de poder aprender os cantos de Natal, os nomes dos brinquedos mais modernos e a cuidar da barba – tudo graças ao curso. Schuller sempre foi o Papai Noel de seus cinco filhos e todo ano escondia os brinquedos. Mas ser Papai Noel nos shoppings da cidade e nas casas das famílias vai além disso. “É uma forma de passar o bem que temos no coração para as crianças”, disse.
Além do contato com as crianças e a convivência com os colegas, o ofício do Papai Noel acaba sendo muito importante para que aposentados tenham a oportunidade de ganhar algum dinheiro extra. Com a crise econômica o aumento do desemprego, o trabalho temporário ajuda a pagar dívidas e a comprar presentes para os netos. Limachem Cherem explica que o salário do Papai Noel, concentrado em aproximadamente dois meses do ano, é muito variável. Segundo Cherem, eles podem ganhar entre 3 e 15 mil reais, dependendo do tipo de shopping, dos horários e dos trabalhos adicionais – entregar os presentes em casa na noite de Natal e aparecer nas escolas, por exemplo. “É uma nova janela para o mundo do trabalho”, diz Cherem.
Ao longo dos dois meses de curso, os velhinhos se aproximam e passam até a promover churrascos. Hugo Andrés Dias já fala um português melhor depois de apenas um mês interagindo com os colegas brasileiros e, apesar de já ter realizado um dos sonhos, ainda quer concretizar outros. “O próximo passo é saltar de pára-quedas”, disse Dias. Ele também faz pedidos no Natal.