Por que o lançamento deste foguete pode fazer história esta semana

Se tudo correr como esperado, o novo membro da frota da SpaceX pode ser o mais poderoso foguete desde aquele que enviou humanos à lua.

Por Michael Greshko
Publicado 6 de fev. de 2018, 15:34 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Mais de 50 anos após o foguete Saturn V enviar seres humanos à lua, a plataforma de lançamento 39A no Centro Espacial Kennedy da NASA, mais uma vez, torna-se um pano de fundo para a história. Se tudo der certo na tarde desta terça-feira, o foguete Falcon Heavy da SpaceX entrará no espaço da maneira mais peculiar possível – carregando um Tesla Roadster vermelho-cereja ao som de David Bowie.

Seis horas após o lançamento, o Tesla entrará no que é conhecido como a órbita de transferência de Hohmann ao redor do Sol – orbitando entre as trajetórias da Terra e de Marte por prováveis milhões de anos. Enquanto isso, espera-se que três câmeras a bordo do Tesla capturem a cena.

Se bem-sucedido, o Falcon Heavy se tornará o foguete mais poderoso do mundo por ser capaz de lançar mais de 63,5 mil quilos de carga – e talvez um dia passageiros – na órbita terrestre baixa. Somente o Saturn V, o cavalo de batalha das missões da Lua de Apolo, levantou mais massa em órbita.

“Será o voo-teste mais significante desde 1967, que foi a primeira prova do Saturn V”, comenta John Logsdon, especialista em políticas espaciais da Universidade George Washington

A janela para a tentativa de lançamento abre às 16h30 (horário de Brasília), em 6 de fevereiro. Se necessário, o lançamento pode passar para o dia seguinte, 7, ou ainda depois. Você pode sintonizar no livestream do SpaceX para ver como os eventos se desdobram.

Veja como foi o teste de voo do foguete Falcon Heavy, da SpaceX (a partir de 7min53seg)

Mas muito pode dar errado, como o CEO da SpaceX e o magnata de lança-chamas Elon Musk enfatizou no início do lançamento. Se o foguete estiver para explodir na plataforma de lançamento 39A, a conflagração não só destruiria o Falcon Heavy, mas também o bloco que enviou o Saturn V e a frota do ônibus espacial da Nasa. Esse caos também descarrilaria o plano de longo prazo da SpaceX para transportar os astronautas da Nasa para a Estação Espacial Internacional.

Uma explosão da plataforma de lançamento "não só destruiria um pedaço de patrimônio, mas atrasaria o voo espacial humano por um longo tempo", alerta Logsdon. "As pessoas dizem que a Nasa não corre mais riscos; mas eles tomaram especificamente este."

E mais, outras rotas menos explosivas já falharam. Uma vez que o foguete atinge a velocidade do som, o trio de foguetes auxiliares pode se agitar de forma inesperada. As ondas sobrepostas são capazes de causar uma perda fatal ao foguete.

Também é possível que o Tesla Roadster não saia da vizinhança imediatamente. Antes de enviar o carro em direção a Marte, o estágio superior do foguete deve passar seis longas horas flutuando pelo Cinturão de Van Allen, onde o campo magnético da Terra aprisiona a radiação de alta energia lançada fora do sol. Será que o estágio superior do foguete poderá sobreviver às batidas e a um novo incêndio?

Os cenários inquietantes são suficientes para dar ao lançamento o que Musk chama de “grande fator de rugas”. Mas na coletiva de imprensa, ele parecia em paz.

“O que é estranho neste voo é que normalmente eu me sinto superestressado no dia anterior. Mas desta vez, eu não estou”, ele explica. “Estou seguro de que fizemos tudo que foi possível para maximizar a chance de sucesso desta missão.”

Reduza, reutilize

Caso o Falcon Heavy tenha sucesso, ele servirá como um potente símbolo para a corrida de empresas privadas para o espaço, algo que a SpaceX agitou ao enfatizar a questão da reutilização.

A maioria dos foguetes possui múltiplas partes, ou compartimentos, que ajudam a cabine principal a carregar a carga – os satélites e as cápsulas de tripulação – para o espaço. Essas partes geralmente vão se quebrando e caindo para a Terra à medida que são descartadas. Em muitos casos, essas peças não podem ser reutilizadas de forma segura.

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    Veja como o SpaceX Falcon Heavy destaca-se contra alguns dos outros veículos de lançamento de carga pesada que levaram com sucesso o material e, em alguns casos, a tripulação em órbita (clique para ampliar).
    Foto de Dan Steinmetz

    Mas, desde 2008, a SpaceX tem conquistado novos terrenos com o Falcon 9, incluindo recuperar e reutilizar algumas das partes do foguete. Assim como empresas aéreas não constroem um novo avião para cada viagem através do país, a ideia é não construir mais um novo foguete a cada lançamento. Nesse caso, reutilizar peças é um ponto chave para diminuir os custos de uma viagem espacial.

    Já que o Falcon Heavy é, essencialmente, três Falcons 9 juntos, a SpaceX espera recuperar suas três primeiras partes. Se tudo for como planejado, os foguetes auxiliares – que foram reciclados de outros lançamentos de Falcon 9 anteriores – irão se soltar e retornar aos campos de lançamento. Mais tarde, o primeiro compartimento central irá aterrissar separadamente na plataforma de aterrisagem flutuante chamada Of Course I Still Love You (“É claro que ainda te amo”, em português).

    Quanto toda essa potência e produção irá custar? Surpreendentemente, bem pouco em comparação com outras empresas.

    A SpaceX afirma que se nenhum outro detalhe surgir, um lançamento da Falcon Heavy irá custar aproximadamente US$ 90 milhões. Para efeito de comparação, o foguete da United Launch Alliance, o Delta IV Heavy, custou pelo menos US$ 350 milhões por lançamento, mesmo oferecendo apenas metade da capacidade de carregamento do Falcon Heavy.

    “Tem sido um total tiro fora da curva”, diz Logsdon.

    Mesmo antes do primeiro teste com o Falcon Heavy, várias empresas contrataram seus serviços. O foguete está previsto para lançar o Arabsat 6ª, um satélite de comunicação da Arábia Saudita, além de cargas de companhias como Inmarsat e Viasat. Fora isso, a SpaceX tem um contrato de US$ 160 milhões com as forças aéreas dos Estados Unidos para o lançamento do STP-2, um pacote de aparatos que incluem um relógio atômico superpreciso criado especialmente para o espaço e uma rede de satélites para monitoração da atmosfera terrestre.

    “Se tivermos sucesso, é jogo ganho”, comenta Musk. “Seria como uma companhia aérea ter aeronaves reutilizáveis enquanto todas as outras só podem usar suas máquinas uma vez. Todo mundo salta de paraquedas e depois o avião bate em algum lugar aleatório.”

    Em avaliação

    Mesmo com os impressionantes atributos do Falcon Heavy, ele pode voar bem menos missões do que Elon Musk antecipou quando anunciou o foguete em 2011. Isso porque a SpaceX quis tirar tudo o que podia do desempenho do Falcon 9, algo que lhe deu a capacidade de lançar uma variedade maior de satélites.

    “Um dos maiores mercados para o Falcon Heavy pode ter desaparecido”, dis Logsdon. “O Falcon Heavy é muito mais um estágio temporário na evolução da SpaceX, e não uma parte concreta de sua linha de produtos.”

    O que vem depois? O Big Falcon Rocket (BFR), um gigante capaz de levar quase 30% mais carga que o Falcon Heavy para a órbita terrestre baixa. O BFR é também a base para o plano ambicioso de Elon Musk de levar humanos para a Lua e Marte.

    Enquanto isso, The Verge e Ars Techica reconhecem que o Falcon Heavy seria perfeito para mandar instrumentos científicos para lugares mais profundos do sistema solar. Já o SLS, o megafoguete da Nasa, será capaz de lançar cargas maiores com mais dinamismo, mas com previsão de custo entre US$ 1 bilhão a US$ 3 bilhões por lançamento. É possível, portanto, que o Falcon Heavy e outros foguetes ultrapassem o SLS.

    Transportadoras espaciais

    Além de suas implicações práticas, o Falcon Heavy também é importante por aquilo que significa: a vanguarda de esforço cada vez maior de explorar e comercializar o espaço.

    A empresa Orbital ATK já está operando seu foguete Antares e sua cápsula Cygnus. Em 2020, a companhia de foguetes de Jeff Bezos, a Blue Origin, terá seu próprio foguete, o New Glenn, pronto para competir com o Falcon 9. A Bigelow Aerospace está se dedicando para aperfeiçoar seus habitats espaciais infláveis. E em um de seus primeiros testes de lançamento, a Rocket Labs conseguiu lançar pequenos satélites na órbita terrestre – incluindo um globo refletor, como de discotecas.

    “É ótimo podermos lançar muitas coisas no espaço, desde uma pequena pick-up até um caminhão”, diz Logsdon. “Significa que as pessoas estão muito otimistas de que seremos ativos no espaço.”

    “Essas coisas são apenas caminhões, afinal de contas”, ele complementa. “Não são o produto final.”

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