Estação espacial está prestes a cair do céu –mas onde ela vai acertar?

A expectativa é que estação espacial Tiangong-1 rompa a atmosfera terrestre em algum momento entre os dias 30 de março e 2 de abril.

Por Andrew Fazekas
Publicado 28 de mar. de 2018, 14:28 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O foguete Long March 2F levou Tiangong-1 à órbita em setembro de 2011.
O foguete Long March 2F levou Tiangong-1 à órbita em setembro de 2011.
Foto de Lintao Zhang, Getty

Uma estação espacial chinesa está em rota de colisão com a Terra e as previsões mais recentes dizem que ela pode cair em qualquer lugar do planeta entre 30 de março e 2 de abril.

Batizada de Tiangong-1, que quer dizer palácio celestial, a nave foi colocada em órbita em setembro de 2011. A estação foi desenvolvida para ser usada em testes de tecnologias robóticas e já viu vários encontros de veículos, acoplagens e visitas de astronautas durante sua vida operacional útil. Essa atividade estabelece as bases para uma estação espacial mais permanente que os chineses planejam lançar no futuro próximo.

Em maio de 2017, autoridades chinesas divulgaram o primeiro relatório para a ONU (Organização das Nações Unidas) informando que a Tiangong-1 tinha parado de funcionar em 16 de março de 2016. Embora tenha mantido a integridade estrutural, a nave está sem combustível e não pode mais ser controlada por equipes no solo.  

Agora, circundando a Terra a uma altitude média de 320 km, a estação sofre um arrasto significativo ao encostar na atmosfera externa mais densa do planeta e está perdendo, em média, 4 quilômetros de altitude por dia. Em algum momento, a Tiangong-1 alcançará uma altitude de 69 quilômetros e reentrará em chamas na Terra.

Se pedaços da Tiangong resistirem à queda, é difícil saber onde eles poderão cair no planeta. A estação gira duas vezes em torno da Terra a cada três horas e sua órbita a leva entre 43º de latitude norte e 43º sul, o que significa que todos os continentes, exceto a Antártida, são potenciais alvos.  

“Tudo que podemos dizer é que ela cairá em algum lugar desse limite de latitude, e nossa resposta não mudará até ela realmente cair”, disse Jonathan McDowell, astrônomo do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian.

A data precisa da reentrada da Tiangong-1 é também desconhecida até hoje porque a densidade da atmosfera superior muda dependendo da atividade solar.

“Quando faltar cerca de 24 horas nós talvez possamos prever a hora da reentrada para aproximadamente três horas”, disse  McDowell.

Problema de rastreamento

Nossa capacidade de prever como satélites em queda se comportam ainda é incipiente, em parte porque nos falta a habilidade de monitorar em tempo real a dinâmica atmosférica, diz Moriba Jah, astrodinamicista da Universidade do Texas, em Austin.

“Nós não entendemos toda a dinâmica e a mecânica da atmosfera com precisão e antecedência suficientes para prever o futuro”, ele diz. “Isso se traduz em uma incerteza tão grande na trajetória orbital do objeto em queda que pode significar a diferença entre entrar no Oceano Pacífico ou no meio dos Estados Unidos.”

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    Uma cápsula tripulada se acopla à Estação Espacial Tiangong-1 em uma ilustração feita por uma estatal de comunicação da China em 2013.
    Foto de Li junfeng, Imaginechina, Ap

    Espera-se que a Tiangong-1 se despedace quando reentrar na atmosfera e há a possibilidade de que fragmentos pesando cerca de 100 quilos atinjam a Terra. Algo semelhante aconteceu em 1979, quando a estação Skylab da Nasa desorbitou e não se queimou tão rapidamente quanto esperado. (Partes da estação caíram na Austrália e, apesar de ninguém ter se ferido, um condado multou a Nasa por jogar lixo em seu território.)

    Em seu relatório para a ONU, autoridades chinesas minimizaram o risco de fragmentos resistirem à queda e Jah e McDowell concordam que as chances estão em nosso favor.

    “A maior parte do planeta é coberto por oceanos então, com todas as chances, se houver alguma peça sobrevivente a maior probabilidade é que ela desça em algum lugar na água,” afirmou Jah.

    “Mesmo que algum fragmento caia num continente, a maioria da população mundial está centrada em áreas costeiras específicas, o que reduz ainda mais a probabilidade de alguma peça resistente atingir uma área densamente povoada.”

    Espaço entulhado

    Ainda assim, a incerteza em torno da Tiangong-1 deveria servir de lição para as agências espaciais e fabricantes de satélites terem “planos B” se perderem controle de grandes recursos no espaço, afirmou Jah.

    A Estação Espacial Internacional, que tem o tamanho de um campo de futebol americano, está num caminho orbital similar ao da Tiangong-1, e Jah disse que a Nasa está extremamente preocupada em como desorbitá-la adequadamente no final de sua vida.

    “Talvez isso [a estação espacial chinesa desorbitando] seja a motivação para que agências governamentais do mundo todo forneçam financiamento para acadêmicos e pesquisadores realmente entenderem a ciência de reentradas, porque esse problema não desaparecerá, mas vai se repetir”, ele conta. “Os riscos também continuarão aumentando principalmente com o crescente número de objetos em órbita.”

    Hoje, com mais de 50 mil peças de lixo espacial sendo rastreadas na órbita ao redor da Terra, a verdadeira preocupação é com colisões em órbita, explica McDowell.

    “Se não começarmos a limpar o que fizemos, o espaço pode se tornar inutilizável por conta de todos os fragmentos voando lá em cima”, ele disse.

    Olhos nos céus

    Por enquanto, telescópios ao redor do mundo estão observando atentamente a Tiangong-1 enquanto ela desce para seu mergulho mortal. Observadores do céu podem participar da vigília, inclusive por meio de um webcast ao vivo do Virtual Telescope Project, que será transmitido em 28 de março a partir das 12:00 UT (9:00, horário de Brasília).

    A estação também pode ser vista a olho nu e é fácil diferenciá-la de um avião: como muitos satélites e a EEI, a Tiagong-1 parece uma luz branca que não pisca deslizando graciosamente pelo céu.

    Quem vive em altitudes médias, tanto no hemisfério norte quanto no sul, tem boas chances de ver a reentrada da estação, dependendo da data que acontecer. 

    Observadores norte-americanos, em particular, terão as visões mais claras da estação nas primeiras horas das manhãs desta semana, enquanto observadores que estiverem em latitudes maiores que 60não vão ver a estação aparecer no horizonte. Você pode encontrar horários específicos para observar do seu ponto de vista colocando sua localização em vários sites que rastreiam satélites, como o Heavens Above.

    Céu claro a todos.

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