Momentos polêmicos de Stephen Hawking: de ETs maus a buracos negros
A famoso físico gostava de fazer apostas científicas e previsões, desde a natureza de buracos negros ao fim da humanidade.
Nos anos 1970, Stephen Hawking, que morreu na quarta-feira aos 76 anos, virou o mundo da física de ponta cabeça quando anunciou que, no fim das contas, buracos negros não são negros e que alguma luz pode escapar pela borda da singularidade, chamada de horizonte de eventos.
Essa bomba – que inspirou uma maneira completamente nova de observar buracos negros pela lente do quantum – certamente não seria a última vez que Hawking fez anúncios chocantes sobre a natureza do cosmos.
Aqui, revisitamos algumas das mais famosas apostas e declarações mais provocativas que Hawking fez durante seus mais de 40 anos de vida pública.
Décadas de apostas no buraco negro
Para aqueles que conhecem o trabalho de Hawking, que focou nos mistérios dos buracos negros, pode parecer surpreendente que ele tenha um dia apostado contra sua existência. Mas o cosmólogo tem um longo histórico de apostas científicas altas – muitas das quais ele perdeu.
Em 10 de dezembro de 1974, Hawking apostou com o físico teórico da Caltech Kip Thorne sobre Cygnus X-1, uma fonte massiva de raios X na nossa galáxia, ser um Buraco Negro. Os dois estavam certos que sim. Mas quando a coisa apertou, Hawking apostou contra Cygnus X-1.
“Isso era um tipo de seguro para mim. Já fiz muitos trabalhos sobre buracos negros e eles não teriam servido para nada se no fim das contas os buracos negros não existirem”, Hawking escreveu em seu livro de 1988, Um Breve História do Tempo. “Mas, nesse caso, eu teria a consolação de ter ganhado a aposta, na qual eu ganharia quatro anos da revista Private Eye.”
Hoje em dia, o objeto é amplamente aceito como um buraco negro. Além disso, a descoberta de ondas gravitacionais em 2016 praticamente confirmou a existência de buracos negros.
Anos depois, Hawking entrou em outra aposta sobre buracos negros com Thorne e o físico teórico da Caltech John Preskill. Em 1997, o trio deliberou sobre se buracos negros destroem a informação contida em objetos gravitacionalmente engolidos por eles. Thorne e Hawking acreditavam que buracos negros de fato destroem informação – aparentemente quebrando um princípio da mecânica quântica. Preskill discordou.
Em 2004, Hawking admitiu a derrota e comprou uma enciclopédia de baseball como prêmio para Preskill. Hawking depois tentou compreender como buracos negros preservam informação e teve progresso notável em um estudo publicado na Physical Review Letter em 2016.
O Bóson de Higgs de $100
Buracos negros não eram os únicos alvos das apostas de Hawking. Em 2012, cientistas do Grande Colisor de Hádrons fizeram história quando descobriram pistas do Bóson de Higgs – a peça que faltava, e a tempos era procurada, no modelo da física de partículas.
Teorizado nos anos 1960, o Bóson de Higgs é a partícula que interage com a maioria das partículas subatômicas para conferir-lhes massa. Mas, por décadas, o Higgs se provou diabolicamente difícil de se encontrar – tanto que Hawking fez uma aposta com Gordon Kane, da Universidade de Michigan, sobre se a partícula seria um dia descoberta.
“Cerca de uma década atrás, eu estava em uma conferência na Coreia e Stephen estava lá”, disse Kane em entrevista à NPR. “E Stephen disse: ‘Eu aposto que o Bóson de Higgs não existe’. Então, eu imediatamente disse que aceitaria a aposta. Acertamos os detalhes e estipulamos um preço de 100 dólares (cerca de 330 reais).
Quando saiu a notícia da descoberta do Bóson de Higgs, Hawkings parabenizou Higgs pelo seu trabalho – e contou que perdeu 100 dólares.
A vida alienígena pode ser perigosa?
Em seus últimos anos, Hawking avisou repetidas vezes sobre os perigos da humanidade conhecer civilizações alienígenas. Em sua série documental de 2010, O Universo de Stephen Hawking, ele sugere que civilizações alienígenas avançadas o suficiente para visitar a Terra poderiam ser hostis.
“Tais extraterrestres avançados talvez se tornariam nômades, buscando colonizar e conquistar quaisquer planetas que alcançassem”, ele disse. “Quem sabe como seriam os limites?” Em documentário de 2016, Lugares favoritos de Stephen Hawking, ele reitera sua visão: “Conhecer uma civilização poderia ser como os indígenas encontrando Colombo. Isso não funcionou muito bem.”
As visões de Hawking não são completamente compartilhadas por seus colegas cientistas – muitos dos quais enfatizam a imensa dificuldade de viagens interestelares e o fato de que transmissões radiofônicas saem da Terra a décadas, enviando um sinal para quem estiver no espaço.
“Qualquer sociedade com a capacidade de ameaçar a Terra provavelmente possui o kit necessário para pegar os sinais que lançamos aos céus há sete décadas”, disse Seth Shostak, astrônomo sênior no Instituto Seti, em um artigo de opinião no Guardian. “E como estamos ocupados enchendo os mares do espaço com mensagens em garrafas marcando nossa existência e posição, é um pouco bobo lastimar o envio de novas mensagens.”
Hawking também se encantou com a ideia de vida extraterrestre, tendo dito que tal descoberta seria “simplesmente a maior da história”. Num esforço semelhante, Hawking deu apoio ao projeto Breakthrough Starshot, uma iniciativa de 100 milhões de dólares que pretende lançar minúsculas espaçonaves ao sistema solar de Alpha Centauri, a mais de 40 trilhões de quilômetros de distância.
Inteligência artificial: milagre ou castigo?
Hawking também demonstrou preocupação sobre uma força potencial – e os lados ruins – da popularização da inteligência artificial, que ele temia que pudesse ser uma ameaça existencial à humanidade.
“O desenvolvimento completo da inteligência artificial poderia ser o fim da raça humana”, ele disse em entrevista de 2014 à BBC. “Ela decolaria por conta própria, e se redesenharia a uma taxa cada vez mais alta. Humanos, limitados pela lenta evolução biológica, não teriam como competir, e seriam suplantados.”
Hawking não estava sozinho ao se mostrar preocupado com as pesquisas em inteligência artificial. Elon Musk, o CEO celebridade da Tesla e do SpaceX, julgou publicamente a inteligência artificial como uma “ameaça existencial”. Mas os comentários não passaram despercebidos. Alguns zombaram chamando o temor de “táticas de medo”.
Em comentários posteriores, Hawking enfatizou que a inteligência artificial não seria necessariamente ruim: “Os benefícios potenciais de criar inteligência são enormes”, disse ele em uma palestra de 2016. “Todos aspectos das nossas vidas serão transformados.” Mas em um fórum no Reddit, Hawking revelou um aviso sobre quem se beneficiaria desses avanços tecnológicos.
“Se máquinas produzem tudo que precisamos, o resultado dependerá de como as coisas serão distribuídas”, ele disse. “Até agora, a tendência parece ir em direção a tecnologia levando a desigualdade cada vez maior.”