Mais distante que Plutão, corpo de gelo recém-identificado é pista para misterioso Planeta X

Praticamente do tamanho do estado de Alagoas, o estranho objeto pode ser o primeiro deste tipo nos confins de nossa vizinhança estelar.

Por Nadia Drake
Publicado 9 de out. de 2018, 16:07 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Ilustração do Planeta X, um planeta ainda não visto, que poderia estar moldando as órbitas de ...
Ilustração do Planeta X, um planeta ainda não visto, que poderia estar moldando as órbitas de objetos menores e extremamente distantes como o recém-descrito 2015 TG387.
Foto de Illustration by Carnegie Institution for Science, DTM, Roberto Molar Candanosa/Scott Sheppard

O séquito de mundos conhecidos e distantes do sistema solar ganhou mais um membro: um pequeno corpo de gelo que leva 40 mil anos para completar uma demorada órbita ao redor do Sol, afastando-se, com a exceção dos cometas, mais que todos os objetos conhecidos do sistema solar de nossa estrela de origem. A última vez que o 2015 TG387 aproximou-se do Sol, os mamutes e ursos das cavernas pisavam sobre os gramados da Eurásia e os humanos modernos estavam forjando ferramentas a partir das pedras.

Apelidado de Goblin (“duende”, em inglês), o 2015 TG387 é provavelmente esférico e do tamanho do estado de Alagoas (cerca de 27 mil km²). E — assim como diversos outros habitantes distantes do sistema solar — seu comportamento orbital pode indicar a presença de um Planeta X passando despercebido nos confins do sistema solar.

“Cada objeto pequeno que localizamos e que é isolado como este nos deixa mais perto de encontrarmos o planeta”, afirma Scott Sheppard, do Instituto Carnegie de Ciência, que informou a descoberta em um aviso distribuído pelo Centro de Planetas Menores da União Astronômica Internacional.

“Ou, se encontrarmos mais deles, pode ser que parem de apontar para o planeta”.

Algo suspeito

Como sugerido por seu enigmático nome, o 2015 TG387 chamou a atenção dos astrônomos pela primeira vez em 2015. Sheppard e seus colegas utilizam alguns dos telescópios mais precisos da Terra para explorar o vasto sistema solar e buscar alguns dos mundos mais remotos ainda presos gravitacionalmente ao Sol.

Ilustração mostra a órbita do 2015 TG387, apelidado de Goblin, em comparação ao resto do sistema solar.
Foto de Illustration by Carnegie Institution for Science, DTM, Roberto Molar Candanosa/Scott Sheppard

Esse tipo de pesquisa requer muito tempo e paciência, já que simplesmente avistar uma fagulha de luz não diz muito. Em vez disso, astrônomos precisam rastrear meticulosamente objetos como o 2015 TG387, que avançam lentamente no espaço sideral.

“Foram necessários três anos de observações para determinarmos de fato sua órbita com uma precisão com que nos sentíssemos confortáveis”, conta Sheppard. “Encontramos diversos outros objetos a distâncias parecidas, mas ainda levará um ano ou dois para observar suas órbitas e ver se são realmente interessantes”.

No momento, o 2015 TG387 está no norte celeste, próximo à constelação de Peixes. Está a cerca de 80 unidades astronômicas de distância, o que significa que está 80 vezes mais longe do Sol que a Terra, ou quase o dobro da distância entre o Sol e Plutão. Atualmente está se deslocando para dentro e, em sua maior aproximação, a pequena bola de gelo ainda estará a 65 unidades astronômicas de distância. Em seu ponto mais afastado, ficará a quase 2,3 mil vezes essa distância.

Apesar da proximidade relativa, não é possível vê-lo no céu: o 2015 TG387 é um objeto de 24a magnitude, o que significa que ele é quase tão brilhante quanto uma das pequenas luas de Plutão — e não é possível ver nem o próprio Plutão sem um telescópio comum de tamanho decente e alguma experiência na área. Sheppard estima que sua largura aproximada seja de 290 quilômetros, embora esse cálculo dependa da capacidade de reflexão de sua superfície.

Migalhas planetárias

O distante objeto deixou os astrônomos animados, porque o 2015 TG387 junta-se a diversos outros planetas recém-descobertos que permanecem afastados e fazem elipses exageradas ao redor de nossa estrela, nunca se aproximando mais do Sol que Netuno. O Sedna, descoberto em 2003, e o 2012 VP113, apelidado de Biden, estão inclusos.

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    Sua órbita também se alinha à de outros objetos que, juntos, sugerem que um planeta grande, talvez com uma massa várias vezes maior que a da Terra, esteja se escondendo na escuridão profunda das imediações do sistema solar.

    “Ele sugere que alguma coisa esteja empurrando esses objetos para tipos semelhantes de órbitas e por isso pensamos que exista um grande Planeta X por ali”, afirma Sheppard. “Algo enorme – do tamanho da Terra até Netuno – pode estar conduzindo esses objetos para essas órbitas, razão pela qual são estáveis”.

    Sheppard e seus colegas estão procurando esse planeta, e ele diz que o 2015 TG387 ajuda a reduzir a área de busca de certa forma. Por ora, ele suspeita que o Planeta X esteja orbitando em oposição ao 2015 TG387, criando uma ressonância gravitacional que percorre e preserva essas órbitas estranhas e dispersas.

    Todavia, também é possível que os astrônomos estejam apenas observando um pequeno subconjunto distorcido de corpos celestes do exterior do sistema solar, como o Sedna, e que o restante desses corpos siga por caminhos que não apontem para um planeta.

    Por exemplo, Michele Bannister, astrônoma da Universidade da Rainha em Belfast, não está tão convencida de que um grande planeta misterioso esteja por aí e gostaria que fossem feitos mais testes para comprovar essa hipótese.

    “Uma forma de testar esse tipo de coisa é conhecendo a abundância de espécies de órbitas e seus formatos”, afirma. “Estou ansiosa para ver uma dessas simulações mais a fundo com um planeta extra”.

    Relíquia

    Ainda assim, Bannister está animada com esse mundo recém-mapeado porque ele poderia ser o primeiro indicador de uma profusão de objetos que normalmente não conseguimos enxergar.

    “Cada uma dessas detecções é a ponta do iceberg de um grupamento enorme, em que vemos o mais brilhante por estar, por acaso, mais perto do Sol ou por ser o maior membro de seu grupamento, tornando-se detectável”, conta.

    Esses conjuntos heterogêneos de fragmentos congelados são cruciais para entender a disposição completa de nossa vizinhança solar e sua história, prossegue Bannister. Até agora, cientistas só conseguiram chegar a alguns grupamentos desses objetos, como aqueles com órbitas que os levam a 50 unidades astronômicas do Sol, aqueles como o Sedna que param a cerca de 80 unidades astronômicas de distância e aqueles que se lançam diretamente para dentro do sistema solar.

    Acreditava-se que o último grupo, o dos cometas, viesse da orla externa da Nuvem de Oort, um aglomerado distante de fragmentos de gelo espalhados de 2 mil a 200 mil vezes a distância entre o Sol e a Terra. O 2015 TG387 provavelmente possui uma composição semelhante à de um cometa por ser predominantemente de gelo, porém sua órbita não é nada parecida.

    Ele provavelmente se origina bem dentro da orla interna da Nuvem de Oort, uma região que até agora não pudemos explorar muito bem.

    Bannister afirma que um dos mistérios notáveis que pairam sobre esses objetos distantes é a questão de como exatamente passaram a existir. É estranha a formação de um grupamento de objetos que nunca ultrapassa Netuno em direção ao Sol; não há materiais suficientes por lá para formar esses objetos.

    Do mesmo modo, também não está claro como eles podem ter sido empurrados para tão longe. As teorias variam desde leves cutucões gravitacionais que perturbaram suas órbitas ao longo do tempo até planetesimais de autogravitação ou ainda a passagem próxima de estrelas ou planetas interestelares sem estrelas.

    “Esse grupamento é empolgante porque não temos uma explicação bem definida do que os criou”, afirma Bannister. “Poderiam ser planetesimais fossilizados da aurora de nosso sistema solar, colocados lá por algum mecanismo a ser detectado”.

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