Avistada provável formação de lua alienígena pela primeira vez

Um manto de poeira ao redor de um planeta distante pode representar o início de uma lua totalmente nova.

Por Nadia Drake
Publicado 15 de jul. de 2019, 20:30 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um leve disco de poeira circunda um planeta grande, possivelmente dando origem a uma nova lua, ...
Um leve disco de poeira circunda um planeta grande, possivelmente dando origem a uma nova lua, em uma ilustração do sistema estelar PDS 70.
Foto de Illustration by S. Dagnello, NRAO/AUI/NSF

Possivelmente pela primeira vez, a imagem de um planeta gigante e distante pode ter sido captada no momento exato em que gerava luas.

Avistado pelo Observatório ALMA no Chile, o jovem planeta orbita uma pequena estrela a uma distância aproximada de 370 anos-luz e parece estar envolto em um disco gasoso de poeira: exatamente o tipo de estrutura que os cientistas acreditam que produziu as diversas luas de Júpiter há bilhões de anos.

“Há uma grande possibilidade de existirem luas com o tamanho de um planeta sendo formadas ao redor dele”, afirma Andrea Isella,  líder do estudo, da Universidade de Rice,  em uma declaração.

“É bastante plausível que planetas gigantes tenham discos formadores de luas gigantes ao redor deles”, afirma Bruce Macintosh, da Universidade de Stanford, referindo-se à observação, publicada nesta semana no periódico The Astrophysical Journal Letters. “É um resultado intrigante e bastante provável”.

Sean Andrews, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, concorda, acrescentando que está otimista de que a imagem seja a primeira do tipo.

“Se o resultado se confirmar, será ‘o primeiro registro’ desse importante fenômeno”, prossegue ele.

Girando ao redor

Os astrônomos já observaram muitas nuvens de poeira semelhantes ao redor de estrelas. Denominados discos circunestelares, tais estruturas são o meio em que se formam os planetas, embora permaneça um mistério o processo exato pelo qual os planetas nascem da poeira. Em alguns casos, os astrônomos acreditam que podem ter enxergado rastros dos planetas recém-nascidos entrando nesses discos circunestelares e o ALMA captou diversas imagens desses vestígios de nascimentos planetários.

Contudo, até hoje, ninguém tinha avistado um disco de poeira ao redor de um planeta propriamente dito; já é difícil obter imagens diretamente de planetas ao redor de nosso sistema solar, que dirá retratar nuvens difusas de detritos em volta de planetas gigantes mais novos.

Esta imagem de poeira do ALMA no sistema estelar PDS 70 mostra duas manchas fracas dentro ...
Esta imagem de poeira do ALMA no sistema estelar PDS 70 mostra duas manchas fracas dentro de um disco maior ao redor da estrela. A mais fraca delas pode ser o primeiro avistamento de uma lua em formação ao redor de um planeta alienígena.
Image by A. Isella, ALMA ESO, NAOJ, Nrao

Isella e seus colegas estudaram um sistema estelar dentro de um círculo de poeira, chamado de PDS 70, utilizando dados coletados em 2017 pelo ALMA, um conjunto de 66 antenas parabólicas de radiotelescópios espalhados por um trecho do deserto do Atacama. O sistema estelar possui um planeta com o tamanho de Júpiter chamado PDS 70b, que aspirou um espaço vazio no manto de poeira ao redor de sua pequena estrela natal com seis milhões de anos de idade. Outro planeta, chamado PDS 70c, percorre um caminho próximo à borda interna desse espaço vazio, aproximadamente à mesma distância de sua estrela que a distância entre Netuno e o Sol.

Inicialmente, a área nebulosa ao redor do PDS 70c parecia uma fraca projeção de gás. No entanto, neste ano, quando a equipe reprocessou os dados do ALMA empregando um método um pouco diferente, as irregularidades se distinguiram em um anel de poeira. Isella e seus colegas interpretam a imagem recém-processada como o retrato de um disco circumplanetário formado de detritos, o tipo de estrutura a partir da qual luas se formam e planetas em desenvolvimento extraem materiais.

“Acreditamos que as luas de Júpiter foram formadas em um disco ao redor de Júpiter quando jovem e os discos circumplanetários exerçam um papel importante na formação de planetas”, afirma ele.

Direto ao ponto

Porém essa ainda não é uma detecção completamente confirmada.

“Certamente há algumas incógnitas nesses resultados”, conta Andrews. Ele identificou discrepâncias entre as observações feitas com diferentes comprimentos de onda, que produziram imagens discretamente diferentes do disco que gira ao redor da estrela. Quando observado pelo ALMA, esse disco contém claramente um ponto de origem semelhante a um planeta: o PDS 70c. Entretanto, quando estudado em comprimentos de onda menores como o infravermelho, esse ponto de origem se torna muito mais difuso.

“O ambiente em volta do ‘c’ parece muito mais complexo”, explica Andrews.

Isella destaca que “a detecção do ALMA é bastante fraca” e afirma que a equipe trabalha para confirmar o resultado com mais observações.

“Possuímos um programa do ALMA em andamento para observar novamente esse sistema e medir o movimento da órbita do disco circumplanetário. Então, continuem acompanhando”, afirma ele.

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