Pietro Pollo e sua investigação sobre a reprodução de aranhas-de-teia-amarela
O biólogo brasileiro traz estudo com peculiaridades do comportamento sexual do aracnídeo.
“Lutar pela melhor ou ficar satisfeito com o pior”, assim é aberta a pesquisa do Explorador e biólogo Pietro Pollo apoiada pela National Geographic Society. O título incisivo do estudo revela o mundo competitivo das aranhas-de-teia-amarela, uma espécie presente em várias regiões da América. Apesar de ser comum, é pouco estudada. Isso motivou o pesquisador a focar seus esforços nos curiosos comportamentos sexuais da aranha, como o fato do macho ter apenas um estoque de esperma para toda sua vida. Pollo conversou com a equipe do site durante o Explorer Festival, evento que reuniu vários exploradores da América Latina na Cidade do México, na semana passada, e conta mais detalhes sobre seu trabalho.
NG: Como você elegeu o seu objeto de estudo, as aranhas da espécie Nephila clavipes?
PP: Eu trabalho com escolha de parceiros para o acasalamento. Nessa área, sabemos que para os machos é importante que exista algum tipo de fator limitante para que ele copule apenas algumas vezes. Dessa forma, existe um sentido e um benefício, de fato, em escolher parceiras. Pensando nisso, eu escolhi essa espécie de aranha porque eu sei que nela os machos têm somente um estoque de esperma durante toda a vida. Uma vez que eles gastem esse esperma — o que pode acontecer, inclusive, com uma fêmea só — eles ficam inférteis.
Como uma aranha macho é capaz de perceber se uma fêmea é de maior qualidade que a outra?
Sensorialmente falando, as aranhas se comunicam por meio das vibrações na teia. Então, é possível que eles consigam sentir o tamanho e o peso da fêmea pelas vibrações que ela produz na teia dela. Além disso, a comunicação química é muito forte em aranhas. Elas conseguem sentir feromônios cuticulares que podem vir do corpo da aranha ou da teia dela.
Onde você estuda as aranhas?
Bem no campus da minha universidade, na verdade, porque essa aranha é muito comum. Ela está presente em toda a América, desde a Argentina até os Estados Unidos. Você pode ir até em parques, como o Trianon da Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, e você vai encontrá-la lá. Ainda assim, ela ainda é muito pouco explorada, muito pouco investigada.
Você se lembra de alguma história ou algum acontecimento que o marcou durante seu trabalho em campo?
Algo engraçado que aconteceu enquanto eu estava fazendo meus experimentos era de colocar uma fêmea perto de outra e, de repente, ver que uma delas comeu a vizinha. Apesar delas serem do mesmo tamanho, às vezes, elas conseguem predar uma a outra, e até mesmo o macho acaba sendo predado quando está tentando acasalar com a fêmea.
Como você chegou à National Geographic Society?
Eu já estava cursando o meu mestrado na Universidade de São Paulo e tinha esse projeto correndo, quando fiquei sabendo que meu orientador tinha sido um Jovem Explorador da National Geographic muitos anos atrás. Ele me contou que a Society fazia financiamento de projeto. Enviei minha proposta e eles me concederam essa maravilhosa bolsa.
“Quando a gente estuda comportamento, vemos quão interessante podem ser os animais e quão diferentes eles podem ser da gente.”
Qual impacto você espera que sua pesquisa tenha para a Mata Atlântica e para ciência como um todo?
Quando a gente estuda comportamento, vemos quão interessante podem ser os animais e quão diferentes eles podem ser da gente, e espero que isso mostre para as pessoas como é importante preservar os biomas que contém essas espécies tão curiosas.
O que você faria se não fosse um explorador?
Sinceramente, é difícil responder. Mas eu diria que trabalharia com educação ambiental, que é algo que me interessa bastante, apesar de eu preferir focar na pesquisa científica em si.
Como você se vê em 20 anos?
Eu quero continuar trabalhando com comportamento animal e com seleção sexual, então eu me vejo estudando esses tópicos em que vemos reprodução, sexo e coisas legais que só podemos observar no mundo natural, como canibalismo sexual, presentes nupciais, conflito sexual, todos esses assuntos. Eu me vejo tendo uma posição em uma universidade para pesquisar esses assuntos.
E como vê a situação ambiental do planeta em 20 anos?
É difícil dizer, mas como existe um capitalismo exacerbado no mundo atual e muita produção de produtos que demandam uma exploração dos recursos, eu acabo tendo uma visão muito pessimista. Acho que vamos sofrer muito com essa grande exploração. Eu até vejo algo parecido com um cenário pós-apocalíptico para o mundo no futuro.