Encontrados possíveis vestígios da cidade natal dos apóstolos Pedro, Felipe e André

Arqueólogos escavaram o lugar onde possivelmente existiu Betsaida, depois rebatizada de Julias.

Por Kristin Romey
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:35 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Vista aérea da escavação de el-Araj, possível local da antiga cidade de Betsaida, rebatizada de Julios e lar de três apóstolos de Jesus, nas margens do Mar da Galiléia.
Foto de Zachary Wong

A "casa perdida dos apóstolos de Jesus" acaba de ser encontrada, de acordo com o artigo de um jornal israelense. No entanto, enquanto a descoberta real não é tão sensacional como sugerem a manchete, os novos relatos alimentam um longo debate sobre a localização de uma das cidades mais importantes do Novo Testamento. Eis o que sabemos até agora:

Uma casa associada aos apóstolos de Jesus realmente foi descoberta?

‘Não’, diz um arqueólogo trabalhando na escavação em el-Araj, um local na margem norte do Mar da Galileia, no delta do rio Jordão.

"Nós não escrevemos essa manchete", explica Steven Notley, renomado professor de Novo Testamento e Origens Cristãs da Universidade de Nyack e diretor acadêmico das escavações de el-Araj em um e-mail para a National Geographic.

No entanto, os pesquisadores que trabalham no sítio desde 2016 acreditam ter descoberto a cidade descrita no Novo Testamento como o lar dos apóstolos Pedro, André e Filipe: Betsaida.

De acordo com os Evangelhos, Betsaida era o lar dos primeiros apóstolos, bem como o lugar onde Jesus teria curado um cego.

Afinal, o que realmente foi descoberto, e por que é tão importante?

Os arqueólogos alegam ter descoberto uma casa de banhos da era romana (entre os séculos 1 e 3 a.C.) em el-Araj, que pode ser a evidência da existência de um assentamento urbano significativo no local, provavelmente a antiga cidade de Betsaida.

Ao final do século 1,  o historiador judeu Josefo descreveu como a pequena aldeia de pescadores de Betsaida se tornou uma cidade greco-romana, ou polis, durante o reinado de Filipe Tetrarca em 30 a.C.. Felipe, filho de Herodes, o Grande, mudou o nome da cidade para Julias em homenagem à mãe do imperador romano Tibério (ou, talvez, em homenagem à esposa do imperador Augusto), e foi enterrado lá após sua morte.

"A casa de banhos prova a existência de uma cultura urbana", disse o diretor da escavação de el-Araj, Mordechai Aviam, do Instituto Kinneret de Arqueologia Galileu, ao jornal israelense Haaretz.

Mas já não existia um sítio chamado Betsaida na mesma área?

Sim. Desde 1839, um local próximo ao e-Tell foi identificado como um possível local para a antiga Betsaida/Julias. O Projeto de Escavação de Betsaida vem trabalhando em e-Tell desde 1987 e descobriu grandes fortificações da Idade do Ferro (século 9 a.C), bem como várias casas helenísticas (século 2 a.C.) e romanas com equipamentos de pesca – incluindo âncoras de ferro e anzóis de pesca – e restos do que pode ser um templo romano.

No entanto, muitos arqueólogos questionaram a identificação de e-Tell como a Betsaida do Novo Testamento, argumentando que o local é muito distante (2,4 km) da costa para ter sido uma aldeia de pescadores. Além disso, alguns acreditam que os restos romanos encontrados lá durante três décadas de escavação são muito insignificantes para pertencer a uma grande e importante cidade da época.

“Apesar das ruínas da era do ferro encontradas em Betsaida serem monumentais e impressionantes, o período romano permanece muito pobre e, portanto, o local não parece ter sido um centro urbano", diz Jodi Magness, arqueólogo voluntário da National Geographic.

Enquanto isso, Rami Arav, diretor do Projeto de Escavações de Betsaida em e-Tell, informou a National Geographic que não há evidências suficientes para ligar el-Araj à antiga cidade, adicionando que ainda não há evidências no local que provem a existência de uma antiga aldeia judaica de pesca.

Então, por que as manchetes sobre a "Casa dos Apóstolos"?

Ao lado das ruínas de uma casa de banhos do período romano – incluindo um piso de mosaico, telhas e respiradouros – em el-Araj, os arqueólogos também encontraram evidências de paredes do século 5 e mosaicos de vidro dourado, o que sugere a existência de uma igreja relevante do final do período bizantino. Tais mosaicos só eram encontrados em "igrejas ornamentadas e importantes", diz Notley.

Notley acredita que essa pode ser a igreja descrita em um relato do século 8 por Willibald, o bispo bávaro de Eichstätt, que viajou pela região por volta do ano 725 e descreveu uma igreja em Betsaida que havia sido construída sobre a casa do apóstolo Pedro e de seu irmão André.

Os escavadores de el-Araj se perguntam se eles encontraram uma situação similar àquela encontrada em Cafarnaum, onde uma igreja bizantina foi construída sobre um local que também havia sido associado ao apóstolo Pedro. Em 1969, os arqueólogos encontraram evidências, sob a igreja bizantina, de uma residência da era romana que havia sido utilizada como um local de veneração no fim do século 1.

Notley alerta que apenas uma pequena área de el-Araj foi escavada até o momento, e as próximas temporadas de escavação revelarão mais informações obre a história do local e a possível identificação com o antigo vilarejo de Betsaida, a cidade bíblica dos apóstolos.

Ainda assim, a equipe concluiu a temporada de escavações deste ano com um ar otimista.

"[O que o relato de Willibard] nos diz é que, durante o período bizantino, há memória viva da área de Betsaida, identificada com as histórias dos evangelhos", diz Notlet. "Somente o tempo dirá se (1) existiu uma igreja bizantina no local, e (2) se ela está localizada no local do vilarejo de Betsaida do século 1".

"No momento", ele acrescenta, "eu acho que as nossas chances de obter uma resposta positiva para estes dois pontos são muito, muito boas".

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