Tatuagens mais antigas do Egito encontradas em múmias de 5 mil anos

As múmias apresentam tatuagens de carneiro, touro e linhas misteriosas.

Por Sarah Gibbens
Publicado 2 de mar. de 2018, 15:10 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Os egípcios antigos se tatuavam bem antes do que imaginávamos.

Uma nova análise de duas múmias mostra que ambas tinham tatuagens. As múmias pertencem a uma coleção de seis encontradas em 1900. Elas foram chamadas de múmias de Gebelein, conforme a região em que foram encontradas. Agora, de posse do Museu Britânico, elas foram reanalisadas como parte de um projeto contínuo que visa reexaminar artefatos valiosos.

As duas múmias remontam ao período entre 3351 a.C. e 3017 a.C., o que faz delas alguns dos indivíduos tatuados mais antigos já encontrados. O próximo exemplo conhecido de egípcios com tatuagens aparece apenas um milênio depois.

Apenas Ötzi, o Homem de Gelo, um homem pré-histórico de aproximadamente 3.370 a.C., apresenta tatuagens mais antigas.

Diferente das tatuagens do Ötzi, que apresentam um desenho mais geométrico, as tatuagens egípcias são agora os exemplos mais antigos de tatuagens figurativas, ou tatuagens que representem imagens. A nova descoberta foi publicada na revista Journal of Archaeological Science.

O que inicialmente parecia uma mancha foi reexaminado através de imagens de infravermelho, o que possibilitou aos cientistas verem as marcas na pele mumificada com maior clareza. No corpo do homem, cientistas encontraram imagens de um touro selvagem e o que aparenta ser um carneiro-da-barbária.

Já o corpo da mulher exibe quatro símbolos em formato de “S” na altura do ombro e uma linha em formato de “L” no abdômen, que os cientistas acreditam ser um cajado ou bastão de madeira.

Ambas as múmias tinham tatuagens que chegavam à derme, a parte mais grossa da pele, com tinta feita a partir de algum tipo de fuligem. Já foi sugerido que instrumentos de cobre encontrados em regiões próximas fossem ferramentas para tatuagem.

O que as tatuagens nos dizem

A descoberta sugere, pela primeira vez, que tanto homens quanto mulheres de sociedades do Egito Antigo tinham tatuagens.

Anteriormente, arqueólogos acreditavam que apenas as mulheres que viveram no período pré-dinástico do Egito Antigo, de 4.000 a.C. a 3.1000 a.C., tinham tatuagens. Essa teoria baseia-se em estatuetas que retratavam mulheres com tatuagens.

Essas novas tatuagens constituem a primeira vez em que arqueólogos encontraram exemplos de tatuagens em pessoas que espelhem temas usados em arte.

Ambas as imagens, na mulher e no homem, parecem sugerir uma relevância simbólica, mas arqueólogos não têm certeza quanto ao significado exato.

“O carneiro era usado com frequência no pré-dinástico [período do Egito Antigo] e sua significância não é bem compreendida, enquanto o touro tem relação específica com a virilidade masculina e status”, disse o autor do estudo e curador do Museu Britânico, Daniel Antoine.

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Tomografias computadorizadas do homem mostraram que ele tinha 20 e poucos anos quando morreu. Um corte em seu ombro e lesões em uma das costelas sugere que ele tenha morrido devido a uma punhalada nas costas.

E o significado das tatuagens da mulher?

“Não acredito que tenhamos uma boa explicação no momento”, diz Antoine. “O objetivo é enfatizar as coisas, mas não tenho certeza do porquê. Talvez seja para chamar atenção ao cajado abaixo delas. É uma era antes da escrita, então podemos apenas traçar um paralelo.”

O estudo sugere ainda que o local onde foram feitas as tatuagens, no ombro e abdômen da mulher, significa que ela tenha sido alguém com conhecimento religioso ou de status elevado.

Uma maior pesquisa das tatuagens poderá ajudar os arqueólogos a entender melhor a linguagem visual do Egito Antigo, diz o curador.

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