Extremamente raras, obras assírias são descobertas no Iraque

Os relevos de pedra com mais de 2,7 mil anos datam do reinado do poderoso rei Sargão II.

Por Andrew Lawler
Publicado 28 de jan. de 2020, 07:15 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Relevos antigos raramente encontrados fora de palácios retratam uma procissão de deuses assírios, incluindo a divindade ...
Relevos antigos raramente encontrados fora de palácios retratam uma procissão de deuses assírios, incluindo a divindade principal, Assur, e sua esposa Mullissu, de pé sobre leões, dragões e outros animais.
Foto de Isabella Finzi Contini
Arqueólogos descobriram os relevos de pedra enquanto escavavam um canal antigo no norte do Iraque. A ...
Arqueólogos descobriram os relevos de pedra enquanto escavavam um canal antigo no norte do Iraque. A arte provavelmente é uma homenagem ao patrono do canal, o rei assírio Sargão II.
Foto de Alberto Savioli

No fim de 2019, Morandi Bonacossi e Hasan Ahmed Qasim, do departamento de antiguidades de Dohuk, no Curdistão iraquiano, catalogaram um total de dez relevos nas margens de um antigo canal de cerca de seis quilômetros de extensão. A cena retratada é única, de acordo com o arqueólogo italiano.

Os painéis exibem um rei — que os arqueólogos acreditam ser Sargão II — observando uma procissão de deuses assírios, incluindo a divindade principal, Ashur, montado em um dragão e um leão com chifres, com sua esposa Mullissu em um trono apoiado em leões. Entre as demais figuras está Ishtar, deusa do amor e da guerra, o deus do sol Shamash, e Nabu, deus da sabedoria. Os arqueólogos suspeitam que essas imagens enfatizem aos transeuntes que a fertilidade vem do poder divino e do poder terreno.

“Os relevos sugerem que cenas do poder real e de sua legitimidade divina, com viés político, podem ter sido algo comum”, afirmou o arqueólogo da Universidade de Harvard, Jason Ur, que está pesquisando sistemas de água antigos na região. A descoberta mostra que essas obras de arte “não estavam apenas nos palácios imperiais, mas em todos os lugares, até mesmo onde os agricultores extraíam água dos canais para suas lavouras”.

O canal contorna uma faixa próxima de colinas e era alimentado por nascentes cársicas. Ramificações em toda a sua extensão proporcionavam irrigação a campos de cevada, trigo e outras culturas. As plantações teriam ajudado a alimentar os 100 mil habitantes ou mais de Nínive, na época, uma das maiores cidades do mundo. As ruínas dessa grande metrópole ficam a cerca de 100 quilômetros ao sul, do outro lado do rio Tigre, a partir da atual cidade de Mossul.

Sargão II governou o que os historiadores chamam de Império Neo-Assírio, que dominou a região desde 911 a.C. até sua destruição em 609 a.C., nas mãos de persas e babilônios. Como o primeiro exército a usar armas de ferro, os assírios desenvolveram técnicas militares avançadas para derrotar seus inimigos.

Quando Sargão assumiu o trono em 721 a.C., conquistou imediatamente o reino rebelde de Israel ao norte e forçosamente deslocou milhares de prisioneiros. A Bíblia menciona que ele dominou a cidade costeira de Ashdod, e os arqueólogos encontraram recentemente um muro construído às pressas ao redor do assentamento que não conseguiu evitar a ameaça. O reino de Judá ao sul não teve o mesmo destino de Israel ao se tornar um estado vassalo.

As vitórias militares de Sargão continuaram na Anatólia e no planalto iraniano ocidental. Em casa, ele construiu uma nova capital nos arredores de Nínive, em Dur Sharrukin, que significa “fortaleza de Sargão”, mas pouco se sabe sobre suas façanhas não militares. Os painéis de Faida, dizem os arqueólogos, apontam para um amplo apoio real para melhorar as terras próximas ao coração da Assíria.

O filho de Sargão, Senaqueribe, expandiu essa rede e construiu o que pode ser o aqueduto mais antigo do mundo, uma estrutura que atravessa um rio perto de Nínive e é feita de arcos de pedra e cimento impermeável. “Sobre vales íngremes, construí um aqueduto com blocos de calcário branco. Fiz aquelas águas correrem nele”, se gabou ele em uma inscrição.

Stephanie Dalley, arqueóloga da Universidade de Oxford, argumentou que os fabulosos Jardins Suspensos da Babilônia foram realmente construídos em Nínive para tirar proveito da enorme quantidade de água que era bombeada até a cidade. Embora essa tese seja controversa, Ur e outros pesquisadores dizem que os estudiosos subestimam o conhecimento tecnológico dos assírios fora do campo de batalha.

A própria expedição utilizou tecnologias avançadas, incluindo varredura a laser e fotogrametria digital, para registrar todos os detalhes dos painéis de pedra e seu contexto. Um drone produziu fotos aéreas de alta resolução que permitirão aos pesquisadores mapear toda a rede do canal.

Mas o que restou do suporte e patrocínio de Sargão está “fortemente ameaçado por vandalismo, escavações ilegais e a expansão do vilarejo vizinho”, alertou Morandi Bonacossi. Um dos relevos, acrescentou, foi danificado por um possível saqueador em maio passado. Outro painel foi praticamente destruído durante as obras de expansão de um estábulo por um agricultor. E, em 2018, um aqueduto moderno atravessou o canal antigo.

O objetivo final, disse ele, é criar um parque arqueológico que inclua outros relevos rochosos e obter a proteção do Patrimônio Mundial da UNESCO para todo o sistema hidráulico construído por vários governantes assírios cinco séculos antes da chegada dos romanos.

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    Cerca de 2,7 mil anos atrás, o canal fornecia água para as fazendas locais que ajudavam no abastecimento da cidade de Nínive, a antiga capital do Império Neo-Assírio.
    Foto de Alberto Savioli

    No século 8 a.C., o rei assírio Sargão II governou um império rico e poderoso que incluía grande parte do Oriente Médio de hoje e inspirou medo entre seus vizinhos. Agora, uma equipe de arqueólogos italianos e curdos iraquianos que trabalha no norte do Iraque descobriu dez relevos de pedra que adornavam um sofisticado sistema de canais escavados na rocha.

    A surpreendente descoberta dessas esculturas lindamente trabalhadas — normalmente encontradas apenas em palácios reais — lança um novo olhar sobre as impressionantes obras públicas que tinham o apoio de um líder mais conhecido por suas proezas militares.

    “Os relevos de rocha assírios são monumentos extremamente raros”, disse Daniele Morandi Bonacossi, arqueólogo da Universidade de Udine, na Itália, que também liderou a recente expedição. Com apenas uma exceção, um painel desse tipo não era encontrado em seu local original desde 1845. “E é muito provável que mais relevos, e talvez também inscrições cuneiformes comemorativas monumentais, ainda estejam enterrados sob os detritos do solo que preencheram o canal.”

    O local perto da cidade de Faida, próximo da fronteira com a Turquia, foi fechado para pesquisadores há meio século devido a conflitos modernos. Em 1973, uma equipe britânica avistou o topo de três painéis de pedra, mas as tensões entre os curdos e o regime baathista em Bagdá impediram a realização de mais trabalhos. Uma expedição liderada por Morandi Bonacossi retornou em 2012 e encontrou mais seis relevos.

    A invasão subsequente do Estado Islâmico novamente interrompeu os esforços de pesquisa. A linha de batalha entre o grupo e as forças curdas ficava a menos de 32 quilômetros de distância, até os fundamentalistas muçulmanos serem derrotados em 2017.

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