Luxor, a cidade de ouro perdida, é redescoberta por arqueólogos no Egito

A cidade de 3,4 mil anos, construída pelo faraó Amenhotep III, foi abandonada por seu filho herege, Akhenaton, e contém resquícios incrivelmente preservados.

Por Erin Blakemore
Publicado 20 de abr. de 2021, 07:00 BRT
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Os muros de tijolos da cidade de 3,4 mil anos, na imagem, delimitados por um muro distinto em ziguezague, têm quase três metros de altura em algumas áreas.

Courtesy of Zahi Hawass

Três mil e quatrocentos anos atrás, um polêmico faraó egípcio abandonou seu nome, sua religião e sua capital em Tebas (a atual Luxor). Os arqueólogos sabem o que aconteceu a seguir: o faraó Akhenaton construiu a cidade de Akhetaton, de curta ocupação, onde governou ao lado da esposa, Nefertiti, e passou a cultuar o sol. Após sua morte, seu filho Tutancâmon tornou-se governante do Egito — e deu as costas ao polêmico legado do pai.

Mas por que Akhenaton abandonou Tebas, que havia sido a capital do antigo Egito por mais de 150 anos? As respostas podem estar guardadas na metrópole real industrial descoberta dentro de Tebas, herdada por Akhenaton de seu pai, Amenhotep III. A descoberta, apelidada de “cidade de ouro perdida de Luxor” em um anúncio divulgado recentemente, despertará tanto entusiasmo, especulação e polêmica quanto o faraó renegado que a abandonou.

Akhenaton, que trocou a “cidade de ouro” por uma nova capital em Amarna, promoveu um estilo surpreendentemente distinto de arte egípcia. Na imagem, ele é mostrado com sua esposa, Nefertiti, e três filhas.

Foto de Universal History Archive, Getty

Como a cidade foi encontrada apenas em setembro do ano passado, os arqueólogos mal começaram a exploração do extenso sítio arqueológico e, por isso, ainda é difícil definir a importância egiptológica dessa descoberta. Entretanto o estado de conservação constatado até o momento impressionou os pesquisadores.

“Não há dúvida de que é definitivamente uma descoberta fenomenal”, revela Salima Ikram , arqueóloga que coordena a unidade de egiptologia da Universidade Americana do Cairo. “É quase um retrato congelado no tempo — uma versão egípcia de Pompeia.”

O local data da época do faraó Amenhotep III, da 18ª dinastia, que governou entre 1386 a.C. e 1353 a.C., uma época de extraordinária riqueza, poder e luxo. Nos últimos anos de Amenhotep III, acredita-se que ele tenha reinado por um breve período junto com seu filho, Akhenaton.

Mas alguns anos após a morte de seu pai, Akhenaton, que governou por volta de 1353 a.C. a 1336 a.C., rompeu com tudo que o falecido governante defendia. Durante seu reinado de 17 anos, ele revolucionou a cultura egípcia, abandonando todo o panteão egípcio tradicional, exceto o deus sol Aton. Ele até mudou seu nome de Amenhotep IV para Akhenaton, que significa “devoto de Aton”.

O faraó herege não parou por aí. Akhenaton mudou seu trono de Tebas, ao norte, para uma cidade completamente nova batizada por ele de Akhetaton (atual Amarna) e supervisionou uma revolução artística que transformou brevemente a arte egípcia rígida e homogênea em animada e detalhista. Contudo, após sua morte, a maioria dos vestígios do governante foram apagados. A começar por seu filho, o faraó menino Tutancâmon, a capital de Akhenaton, sua arte, sua religião e até mesmo seu nome foram descartados e apagados sistematicamente da história. Apenas a redescoberta de Amarna no século 18 reavivou o legado do líder renegado, legado que alimentou especulações arqueológicas por centenas de anos.

O que motivou e como ocorreu a polêmica transformação do faraó, e como era a vida cotidiana sob a dinastia do grande Amenhotep III? A cidade recém-descoberta pode fornecer indícios. O local das escavações abrange o antigo e o novo em uma área conhecida por suas riquezas arqueológicas. Ao norte, encontra-se o templo funerário de Amenhotep III, do século 14 a.C. e, ao sul, está Medinet Habu, templo funerário construído quase dois séculos depois para Ramsés III.

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    Inscrições hieroglíficas encontradas em tampas de argila de vasos de vinho no local ajudaram a datar a cidade à época de Amenhotep III (entre cerca de 1386 a.C. e 1353 a.C.).

    Courtesy of Zahi Hawass

    Os arqueólogos acreditavam que, entre esses templos, poderia estar a estrutura funerária onde os súditos de Tutancâmon teriam colocado oferendas de alimentos e objetos funerários quando ele morreu por volta de 1325 a.C. No entanto encontraram algo muito diferente: muros de tijolos de barro em ziguezague de até quase três metros de altura e pilhas de artefatos antigos da época de Amenhotep III.

    As estruturas estão repletas de objetos de uso cotidiano, muitos dos quais relacionados à produção artística e industrial que sustentou a capital do faraó. Há casas onde trabalhadores podem ter vivido, uma padaria e cozinha, objetos relacionados à produção de metais e vidros, construções que parecem relacionadas à administração e até mesmo um cemitério repleto de lápides talhadas na rocha.

    Dois sepultamentos incomuns de uma vaca ou touro foram encontrados dentro de uma câmara na cidade. Investigações estão em andamento para determinar a natureza e o propósito dos sepultamentos de animais.

    Courtesy of Zahi Hawass

    Embora o tamanho da cidade ainda não tenha sido determinado, sua época ficou evidente devido aos hieróglifos encontrados em uma variedade de artefatos. Um recipiente com capacidade para mais de sete litros de carne cozida continha a inscrição do ano 37 — a época do suposto reinado conjunto de Amenhotep III e Akhenaton, pai e filho. Escaravelhos, tijolos, vasos e outras relíquias possuem o selo real de Amenhotep III.

    As construções também levam o nome de seu filho herege, afirma Betsy Bryan, professora de arqueologia e arte egípcia da Universidade Johns Hopkins. Bryan, que não participou das escavações, visitou o local no dia em que os arqueólogos encontraram um pequeno teto de cerâmica gravado com hieróglifos que significam ‘o Aton é encontrado vivendo na verdade’. “Era a filosofia de Akhenaton”, observa Bryan. Apesar das referências ao rei mais jovem, ela afirma que a cidade integra o complexo do palácio de seu pai ao norte, denominado Nebmaatre ou “o Aton Deslumbrante”.

    Assim que Akhenaton assumiu o poder e mudou de trajetória, deixou para trás a cidade de seu pai e, aparentemente, tudo o que ela continha.

    Essa perda significou um grande ganho à arqueologia moderna. “A cidade é extraordinariamente bela”, conta Ikram. Ela se lembra de ter caminhado pelas ruas preservadas, cercadas por altos muros onde, segundo ela, parecia que um antigo egípcio surgiria a qualquer momento. “Não há nada melhor”, prossegue ela. “É impressionante.”

    Os arqueólogos encontraram uma abundância de objetos decorativos e ritualísticos, como escaravelhos e amuletos.

    Courtesy of Zahi Hawass

    A cidade parece ter sido reocupada por Tutancâmon, que abandonou Akhetaton durante seu reinado e instituiu uma nova capital em Memphis. Ay, que posteriormente herdou o trono ao se casar com a viúva de Tutancâmon, também parece ter ocupado a cidade. Quatro camadas distintas de assentamentos no sítio arqueológico indicam diferentes épocas de ocupação desde o período copta-bizantino entre os séculos 3 d.C. e 7 d.C.

    Posteriormente, foi tomada pela areia até sua descoberta recente.

    Mas por que foi abandonada durante o breve reinado de Akhenaton? “Não sei se essa cidade especificamente permitirá responder a essa pergunta”, explica Bryan. “Mas serão obtidas mais informações sobre Amenhotep III, Akhenaton e suas famílias. Ainda é uma fase muito preliminar, mas acredito que serão encontradas cada vez mais conexões. “Embora a cidade recém-descoberta não forneça pistas sobre o mistério do faraó rebelde, ela propiciará um retrato ainda mais nítido da vida que ele deixou para trás.

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