Encontrada fábrica de moedas mais antiga do mundo na China

Se confirmada, a casa da moeda de 2,6 mil anos poderia reescrever a história do dinheiro.

Por Jillian Kramer
fotos de Hao Zhao
Publicado 10 de ago. de 2021, 17:00 BRT

Moedas em formato de espada, escavadas no local de uma antiga fundição de bronze na província chinesa de Henan, são as moedas metálicas chinesas mais antigas conhecidas e possivelmente as primeiras do mundo.

Foto de Hao Zhao

Ao escavar ruínas em Guanzhuang — antiga cidade na província oriental de Henan, na China — arqueólogos descobriram o que acreditam ser a mais antiga casa da moeda conhecida, onde moedas de bronze em formato de pá em tamanho miniatura foram produzidas em massa há cerca de 2,6 mil anos.

A pesquisa publicada em agosto de 2021 no periódico Antiquity reforça a tese de que as primeiras moedas foram cunhadas não na Turquia ou na Grécia, como se acreditava, mas na China.

A cidade murada e com fossos de Guanzhuang surgiu por volta de 800 a.C, e sua fundição — onde o bronze era fundido e moldado por golpes para produzir vasos ritualísticos, armas e ferramentas — foi inaugurada em 770 a.C., segundo Hao Zhao, arqueólogo da Universidade de Zhengzhou e autor principal do artigo. Mas foi somente 150 anos mais tarde que seus operários passaram a cunhar moedas perto do portão sul do centro da cidade.

Arqueólogos escavavam o sítio arqueológico de Guanzhuang desde 2011, tendo encontrado oficinas e centenas de poços usados para depositar resíduos de fundição. Os operários começaram a cunhar moedas de espadas nesse local entre 640 a.C. e 550 a.C.

Foto de Hao Zhao

Usando datação por radiocarbono, a equipe determinou que a casa da moeda começou a operar em algum momento entre 640 a.C. e 550 a.C. no máximo. Embora moedas do Império Lídio na região atual da Turquia tenham sido datadas de 630 a.C. por outras pesquisas, Zhao observa que a primeira fábrica de moedas conhecida por ter produzido moedas de Lídia é datada entre 575 a.C. e 550 a.C.

A casa da moeda de Guanzhuang, segundo Zhao, “é atualmente o mais antigo local de cunhagem do mundo com datação determinada”.

Durante as escavações, os pesquisadores encontraram duas moedas de espadas — semelhantes a ferramentas de jardinagem em miniatura — e dezenas de moldes de argila empregados em sua fundição. Uma moeda havia sido conservada em condições quase perfeitas: com cerca de 15 centímetros de comprimento e pouco mais de 6 centímetros de largura, a moeda de bronze pesava cerca de 27 gramas, ou menos do que seis folhas de papel de tamanho padrão.

Evidências convincentes, mas não provas

As moedas geralmente são encontradas “agrupadas e sem nenhum contexto original de sua produção ou uso”, afirma Bill Maurer, professor de antropologia da Universidade da Califórnia em Irvine e diretor do Instituto de Dinheiro, Tecnologia e Inclusão Financeira. “Mas, neste caso, foi encontrada uma fundição inteira, além dos moldes utilizados.”

É notável quantos elementos foram conservados, conta Maurer, que não participou da pesquisa. Encontrar tanto as moedas quanto seus moldes foi o que permitiu aos pesquisadores datar a fábrica de moedas por radiocarbono, reforçando a hipótese de que seja a mais antiga conhecida no mundo.

Moedas normalmente são descobertas soltas ou longe de onde foram produzidas, guardadas nas estruturas de uma residência ou enterradas, explica Maurer, “completamente isoladas de qualquer espécie de contexto que possa ser associado definitivamente com as moedas em si.”

Quando são encontradas evidências de danos causados pelo fogo em moedas assim, os pesquisadores podem datá-las por radiocarbono, porém nunca saberão ao certo “se essa queima esteve relacionada ao período de circulação da moeda”, explica Maurer, ou se, ao contrário, as moedas foram queimadas em um incêndio casual.

Contudo, neste caso, “há uma fundição repleta de resíduos de carbono associados à produção do próprio objeto”, prossegue Maurer, o que pode provar a idade das moedas e da casa da moeda.

George Selgin, diretor do Centro de Alternativas Monetárias e Financeiras do Instituto Cato, afirma que, embora a descoberta seja impressionante, “não muda o consenso básico sobre a época do advento das moedas. E não significa necessariamente que a China tenha sido a primeira a produzi-las”.

Isso porque, embora essa pesquisa comprove a idade dessa fábrica de moedas chinesa específica e de suas moedas, não conclui definitivamente que os resíduos chineses sejam anteriores às moedas de Lídia, “geralmente citadas como a origem alternativa da cunhagem”, afirma Selgin, que também não participou da pesquisa.

Comércio ou impostos?

Zhao e sua equipe especulam que a localização da casa da moeda — perto da suposta sede administrativa oficial da cidade — poderia indicar que “as atividades de cunhagem fossem ao menos reconhecidas pelo governo local”. Mas acrescentam que ainda não podem ser tiradas conclusões: “a participação política na produção de moedas de espada continua tornando mais complexas pesquisas futuras”, escreveram eles.

Existem duas teorias preponderantes sobre a origem do dinheiro: que foi criado para o comércio entre mercadores e clientes, ou para que governos pudessem cobrar impostos e dívidas.

Maurer afirma que, embora a descoberta não prove nada, “a produção rotineira, padronizada e em massa desses objetos associados a um centro político de produção reforça a hipótese formulada há muito por antropólogos e arqueólogos: a de que o dinheiro surgiu principalmente como ferramenta tecnológica política e não econômica”.

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