Exclusivo: desenhos gigantes, como as linhas de Nazca, são encontrados no Peru

Com a ajuda de drones, arqueólogos descobriram e mapearam patrimônio que data de pelo menos dois milênios atrás e com formatos humanos

Por Michael Greshko
Publicado 6 de abr. de 2018, 13:40 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Veja os antigos desenhos gigantes recém-descobertos no Peru
Com a ajuda de drones, pesquisadores fizeram imagens de mais de 50 geoglifos inéditos para a arqueologia.

Esculpidas no deserto do sul do Peru há mais de um milênio, as enigmáticas linhas de Nazca continuam a despertar nossa imaginação. Mais de mil desses geoglifos (palavra que significa “desenhos em terra”') se espalham pelo solo arenoso da província de Nazca, e ainda há pouca compreensão do que eles representam.

Equipados com drones, arqueólogos peruanos descobriram recentemente outros 50 novos monumentos desse tipo, no deserto próximo à província de Palpa. As linhas quase perfeitas traçadas na superfície da Terra podem ser vistas a olho nu. Contudo, a ajuda dos drones fez com que os arqueólogos mapeassem a região e percebessem detalhes nunca antes vistos dos geoglifos.

Algumas das linhas recém-descobertas pertencem à cultura Nazca, que dominou a área entre 200 e 700 d.C. No entanto, os arqueólogos suspeitam que as primeiras culturas Paracas e Topará esculpiram muitas das novas imagens entre 500 a.C. e 200 d.C.

Diferentemente das icônicas linhas de Nazca— a maioria das quais só é visível do alto –, os mais antigos glifos de Paracas foram feitos em encostas, tornando-os visíveis para as aldeias abaixo. As duas culturas também seguem diferentes temas artísticos: as linhas de Nazca consistem, na maioria das vezes, em linhas ou polígonos, mas muitas das novas figuras de Paracas retratam seres humanos.

"A maioria dessas figuras são guerreiros", diz o arqueólogo peruano Luis Jaime Castillo Butters, co-descobridor dos novos glifos. "Eles podiam ser vistos à certa distância. Mas, com o tempo, foram completamente apagados."

Esta recém-descoberta evidência de linha de Nazca, capturada por um drone, consiste em várias linhas retas sem padrão discernível que provavelmente foram feitas em momentos diferentes e para diferentes propósitos. "Linhas" anteriores, feitas pela cultura Paracas, frequentemente apresentam representações de humanos e animais.
Foto de Luis Jaime Castillo, Palpa Nasca Project

Os novos geoglifos acrescentam dados cruciais sobre a cultura de Paracas, assim como a misteriosa cultura Topará, que marcou a transição entre as culturas Paracas e Nazca. Séculos antes da criação das famosas linhas de Nazca, as pessoas da região faziam experimentos com geoglifos enormes.

“Isso significa que é uma tradição de mais de mil anos que precede os famosos geoglifos da cultura de Nazca, o que abre as portas para novas hipóteses sobre a função e o significado delas”, diz o arqueólogo do Ministério da Cultura peruano Johny Isla, principal restaurador e protetor das linhas de Nazca.

Ironicamente, a descoberta dos novos geoglifos só foi possível devido a ameaças às linhas de Nazca anteriormente conhecidas.

Em dezembro de 2014, o grupo ambientalista Greenpeace protagonizou um protesto a poucos metros do famoso ‘beija-flor’ de Nazca. À época, o Peru recebeu uma concessão dos EUA para ajudar a contratar Isla e sua equipe de restauração.

O trabalho de Isla é extremamente complicado, e os mapas irregulares dificultam ainda mais a atividade. Dos estimados 100 mil sítios arqueológicos no Peru, o colega de Isla, Castillo, diz que apenas 5 mil foram devidamente documentados no solo. Menos ainda foram mapeados do ar.

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    Peruanos da idade antiga criavam geoglifos, como as linhas de Nazca, com a ajuda de pedras, usadas para escavar o solo e revelar as colorações diferentes de terra encontradas sob a superfície.
    Foto de Fernando G. Baptista, Ngm Staff

    Castillo, um professor da Pontifícia Universidade Católica do Peru e ex-vice-ministro do patrimônio cultural, defende há tempos o uso de drones e outras técnicas de mapeamento aéreo para catalogar sítios arqueológicos. Agora, Isla e Castillo têm muito mais dados para trabalhar, graças ao National Geographic Explorer e à “arqueóloga espacial” Sarah Parcak.

    Depois de ganhar o Prêmio TED em 2016, Parcak fundou a iniciativa GlobalXplorer, que treina cientistas cidadãos para analisar imagens de satélite em busca de sítios arqueológicos e sinais de saques. O primeiro projeto da plataforma convidou voluntários para ver fotos de satélite do Peru.

    “Quando estávamos pensando em países para ir, tinha de ser um que todos no mundo soubessem que é importante, onde o Ministério da Cultura estaria aberto a novas tecnologias”, diz Parcak, arqueóloga da Universidade do Alabama em Birmingham. "O Peru definitivamente se encaixa nisso."

    Expedição terrestre

    Uma vez que os voluntários da GlobalXplorer sinalizaram alvos nos dados de satélite que podem ser potenciais sítios arqueológicos ou instâncias de saques, Parcak então direcionou os locais para os arqueólogos peruanos. Com o apoio da Iniciativa de Preservação Sustentável, Castillo e três de seus alunos embarcaram em uma expedição terrestre financiada pela National Geographic Society.

    Quando a equipe de Castillo visitou as províncias de Nazca e Palpa em dezembro de 2017, eles não encontraram muitas evidências de pilhagem recente nos candidatos alvo da GlobalXplorer. Em vez disso, encontraram locais de pilhagem de décadas e usurpação alimentados pelas minas de ouro ilegais da região.

    Mas quando os pesquisadores fotografaram os sítios de cima com os drones, encontraram algo novo - e inesperado. As imagens de alta resolução continham alusões a dezenas de geoglifos antigos, esculpidos na crosta do deserto.

    Como tantos geoglifos podiam se esconder da vista de todos? Ao longo do tempo, muitas das linhas e figuras foram reduzidas a depressões fracas no solo, visíveis apenas em imagens tridimensionais do terreno capturadas pela perspectiva do olho de águia proporcionada pelos drones. E, apesar  do poder de vigilância inspirador dos satélites, eles não podem ver tudo.

    O satélite mais poderoso que o GlobalXplorer usa pode ver um objeto da largura de 0,3 metro a 616 quilômetros acima da superfície da Terra. Isso é o equivalente a ver um único fio de cabelo humano a mais de 200 metros de distância. Mas as linhas que traçam os novos geoglifos têm poucos centímetros de diâmetro - muito finas para serem vistas do espaço.

    Os drones de baixa altitude, que operam em altitudes de 60 metros ou menos, em comparação, podem identificar objetos com menos de 1,25 cm de largura. “A resolução da camera do drone é incrivelmente alta”, diz Castillo.

    Novas descobertas, novos desafios

    Agora que os pesquisadores documentaram as novas linhas, estão ansiosos para protegê-las. Os novos geoglifos estão dentro do enquadramento de Sítios do Patrimônio Mundial da Unesco, que abrangem as linhas de Nazca e Palpa. De acordo com Isla, eles não estão sob ameaça imediata.

    No entanto, as novas linhas ainda não foram registradas no Ministério da Cultura do Peru. O co-descobridor das linhas, Fabrizio Serván, um estudante da Pontifícia Universidade Católica do Peru, diz que os mapas e desenhos necessários estão sendo elaborados.

    Talvez as linhas em breve tenham companhia. Os usuários da GlobalXplorer marcaram centenas de novos sítios em potencial que os arqueólogos peruanos continuarão a investigar nos próximos meses.

    “Os dados e informações obtidos com o projeto GlobalXplorer são extraordinários em qualidade e quantidade”, diz Isla. "Isso nos coloca em primeiro plano no registro de sítios arqueológicos e geoglifos em particular."

    No futuro, Parcak e Castillo afirmam que os dados da GlobalXplorer podem ajudar a proteger os sítios arqueológicos da invasão urbana e rural não planejada – que, além de saques e danos causados por ocasionais motoristas de caminhão errantes, é de longe a maior ameaça enfrentada pelos geoglifos do Peru.

    Castillo descreve a invasão em curso como “tráfico de terra”: um esforço sofisticado dentro do Peru para forjar ações e construir moradias ilegais nas áreas, apagando a herança cultural do país no processo.

    “Não estamos lutando contra um saqueador com sua pá, fugindo enquanto você está soprando um apito. Estamos lutando contra um exército de advogados ”, diz ele. "Esta é uma batalha constante, então o trabalho que estamos fazendo - documentar os sítios, georreferenciar - é a melhor proteção que podemos oferecer".

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