Tecnologia que já foi ridicularizada permite ver em escala atômica
Tudo começou como uma "blobologia", mas essa técnica de imagens ganhou três prêmios Nobel.
A ESFERA CALEIDOSCÓPICA acima é mais - e menos - do que aquilo que aparenta. Essa superfície vívida é, na verdade, uma codificação colorida do vírus Zika, milhões deles caberiam até o ponto final desta frase.
Nós podemos ver o vírus nesta imagem graças à criomicroscopia eletrônica (cryo-EM), uma técnica de imagem super bacana que permite que os cientistas visualizem as moléculas, o que possibilita estudar a estrutura da vida celular de uma forma nunca antes possível.
A cryo-EM funciona por meio do disparo de um feixe de elétrons em um filme congelado contendo cópias de uma determinada molécula. Essa "exposição" produziu várias imagens bidimensionais das moléculas em ângulos diferentes. Esses algoritmos, então, começam a formar um modelo tridimensional. Inicialmente a cryo-EM apresentava moléculas como massas sem precisão, por isso ela foi tratada por alguns como "blobologia" em comparação à cristalografia do raio-x, uma técnica de imagem de alta resolução menos versátil. Contudo, em 2013, a cryo-EM alcançou a resolução atômica pela primeira vez.
"Não estava muito claro para mim que nós chegaríamos à resolução atômica; mesmo 10 anos atrás eu era um tanto cético", diz o biofísico da Universidade de Colúmbia, Joachim Frank, que compartilha o Prêmio Nobel de Química de 2017 pela contribuição no desenvolvimento da cryo-EM. Agora componentes básicos de proteína podem ser vistos como uma cadeia de esférulas.
A cryo-EM nos permite visualizar as proteínas que cobrem as membranas das nossas células - ou mesmo "filmar" moléculas de medicamentos assim que atingem seus alvos. Quem sabe onde essa revolução bioquímica pode chegar? "Estou muito entusiasmado", diz Frank.